quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Nas raízes do medo


06.02.2015
INÊS CARDOSO
O terrorismo é, por definição, uma estratégia de comunicação. Trata-se de fazer passar uma mensagem de força, que procura obter resultados através do medo. Não admira o uso que o denominado Estado Islâmico faz das redes sociais: a divulgação de vídeos aterroriza a maior parte das pessoas, mas simultaneamente atrai elementos radicalizados da sociedade. A capacidade de conquistar apoiantes nos países ocidentais é uma das maiores inquietações que o fenómeno suscita, sendo inevitável o debate sobre a possibilidade de barrar conteúdos extremistas.
Diferentes estudos internacionais sugerem a ineficácia da tentativa de conter a propaganda jiadista e no fundo acontece online o mesmo que se observa territorialmente. Não há fronteiras nem paranoias securitárias capazes de travar fundamentalismos e episódios de violência. O problema está a montante e não é de transmissão. É preciso que haja entre os recetores capacidade crítica para descodificarem as mensagens extremistas.
Não quer dizer, obviamente, que a replicação de determinadas mensagens não seja indevida - o eco dado a imagens de choque é perigoso e esse perigo não pode ser ignorado. Mas enquanto houver jovens que encaram a filiação numa organização terrorista num país longínquo como a melhor resposta para se sentirem preenchidos, estamos perante um problema de raízes bem mais profundas do que a disseminação de conteúdos online.
Nos dias que se seguiram ao ataque ao "Charlie Hebdo", de imediato se ouviram vozes em defesa de maior rigor nas fronteiras, mais vigilância nos aeroportos, mais exigências de informação sobre passageiros em voos de e para fora da Europa, mais invasão do espaço dos cidadãos em nome da segurança coletiva. A verdade é que os fenómenos radicais não se combatem com muros, câmaras de vigilância ou um polícia por cada cidadão. Combatem-se educando para a tolerância e para a capacidade de interpretar o Mundo de forma crítica. A liberdade continua a ser a melhor arma para lutar contra a radicalização.

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