sábado, 14 de fevereiro de 2015

Meio, meio

por ANDRÉ MACEDO

O último trimestre de 2014 foi mais difícil do que o anterior e reduziu o crescimento previsto da riqueza produzida no país - em vez de um salto de 1% do PIB face ao ano anterior, como antecipara o governo, a economia ficou-se pelos 0,9%. É assim uma diferença tão grande? Devemos ficar assustados, exigir mudanças imediatas, como fez ontem o PS, zangado como se já não houvesse amanhã? Vejamos. Há uma semana saíram os números do desemprego. O que mostravam? Que na reta final do ano passado a perda de velocidade já era evidente, daí o ponteiro (taxa) do desemprego ter saltado para os 13,5% - 0,4 pontos acima do registado no trimestre anterior. Ainda assim, se compararmos o ano todo de 2013 com 2014 a leitura muda de figura. Há dois anos, em dezembro, o desemprego atingia 826,7 mil pessoas, no último Natal o número baixara para as 698,3 mil. Tem razão o PS quando vê o copo meio vazio?; ou o governo, que o vê sempre meio cheio? Os números devem sempre ser lidos com uma mão cheia de sal, mas o que podemos concluir sobre os últimos 12 meses deixa poucas dúvidas: a destruição económica anterior (2011-2013) parou, o consumo interno voltou à vida depois de três anos de morte cerebral, e as exportações, embora também a perder alguma velocidade, voltaram a crescer. Resumindo: o clima económico no euro permanece sob vigilância, a desinflação - ou até deflação - traduz insegurança e o risco de um longo período de estagnação, fatal para um país com 130% de dívida pública, como Portugal. Para 2015 (Grécia à parte) , a queda do preço do petróleo e a bazuca de Mario Draghi, em todos os cinemas do euro a partir de março, vão dar uma ajuda, talvez suficiente para recuperar a perda de velocidade do último trimestre. Portanto, embora a última trajetória registada pelas estatísticas seja pior do que a anterior, continua positiva. Não é motivo para celebrar, mas também não é para dizer que está tudo mal.

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