quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Mais oitocentos mil pobres na era da austeridade e da dívida

A pobreza aumentou acentuadamente desde o início da austeridade (governo Sócrates), e ainda foi mais agravada com todas as medidas da troika e com Passos Coelho e Portas no governo.
Um “eco do passado”, foi assim que Passos Coelho justificou o aumento do número de pobres registado pelo INE, com dados de 2013. Que vem de trás, não pode haver dúvidas. O problema é que a pobreza aumentou acentuadamente desde o início da austeridade (governo Sócrates), e ainda foi mais agravada com todas as medidas da troika e com Passos Coelho e Portas no governo. Como seria de esperar, o primeiro-ministro anunciava mesmo que o objetivo destas medidas era o “empobrecimento” de Portugal, promessa que cumpriu melhor do que qualquer outra.
Os dados do INE estão disponíveis aqui e registam dois milhões de pobres (19,5% da população), como se nota pelo gráfico ao lado (clique para ampliar), com particular incidência nos mais jovens (entre os menores de 18 anos a pobreza chega a 25,6%).

Mas estes dados são parcialmente camuflados pela redução do nível de vida da população no seu conjunto, porque a “linha da pobreza” é uma medida estatística definida por 60% da mediana dos rendimentos de todos, e se estes baixam por causa da recessão, então muitas pessoas deixam de entrar na classificação mesmo que continuem pobres.
Por isso, utiliza-se uma estatística corrigida, a “linha de pobreza ancorada” num determinado ano, para comparar os rendimentos das pessoas em cada ano seguinte com os desse ano. Se utilizarmos 2009 como essa “âncora” (gráfico ao lado), então a pobreza cresceu 8% (cerca de 800 mil pessoas ficaram pobres).

As medidas de austeridade, antes e depois da troika, fizeram mais pobres. Essa era a sua função e cumpriram. Entretanto, a política social do Estado manteve um pouco acima da linha de pobreza outros dois milhões, com as pensões e outros apoios sociais.
A escolha continua a ser entre um Estado que paga juros gulosos ou um Estado que responde pelos seus, não é, senhor primeiro-ministro?
Artigo publicado em blogues.publico.pt

Sobre o/a autor(a)

Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda.

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