domingo, 8 de fevereiro de 2015

DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS

Centelha por Viriato Caetano Dias (viriatocaetanodias@gmail.com )

―A política é um terreno lamacento e prenhe de sujidade.Trecho de uma conversa com o amigo Nkulu
Não nutro qualquer ódio pelo líder da Renamo, Afonso Dhlakama, até porque, engrosso a lista dos que o consideram herói nacional na luta pela democracia. Sou do tempo em que, no mártir Moçambique, as liberdades eram limitadas e as políticas marxistas-leninistas andam desavindas com a maioria do povo.
Há que afirmar, sem ter medo de dar corpo às balas, que Dhlakama e a Renamo são autores políticos indeléveis que contribuíram para implementação do Estado de direito democrático e liberdades individuais, entre as quais, destaca-se o pluralismo de expressão.
Este Centelha, que se junta as restantes manifestação do pensamento, é fruto do sacrifício de moçambicanos que se opunham a construção de um Moçambique acorrentado nas epístolas marxistas-leninistas. Há analistas que ignoram este veredicto histórico: não se pode cuspir nem enterrar o passado só porque a “geografia da barriga” apresenta outra saliência, dai que, considera-se justa e legítima a frase “Dai, pois, a César o que é de Cesar”, e a Dhlakama o que é de Dhlakama.
Historicamente, Afonso Dhlakama tem um estatuto de herói, que poderá perder se continuar a insuflar os pulmões com ar que intoxica o povo que libertou. Quando este tipo de discurso (criação de uma República Centro e Norte) é apregoado, não levará muito tempo para que a história transforme o bestial em besta. Esta velha imaginação de dividir o país deve, sinceramente, deixar de se hospedar na mente do líder da Renamo e seus acólitos, porque não passa de promessas de catequese política, sem realização prática. Não acredito que os mentores da ideia belicista do partido Renamo, que construíram grandes mansões nas cidades, estarão dispostos a deixar os luxosos colchões que acomodam a sua “urna carnal” para meter-se em aventuras perigosas.
Disse-me repetidas vezes o meu amigo Nkulu que “os caminhos da perdição são bonitos e promissores, apenas no início. Mas a colheita é tão infrutífera como amarga.Sim, parece bonito ocupar os noticiários e fazer agenda de muitos analistas, mas alguma coisa me diz que os capítulos desta novela estão a chegar ao fim. Os avisos à navegação vindos do exterior são peremptórios: tolerância zero à desestabilização. Esta é uma assessoria gratuita que faço a Renamo, acho bem que siga o meu conselho, pois “quem avisa, amigo é”.
Os caminhos da guerra são de perdição. Já aqui o disse, as reivindicações da Renamo tem qualquer coisa de verdade, mas não deve pautar pela via militar para impôr o diálogo. Dizer qualquer coisa como “temos capacidade, por isso podemos bater e correr com as autoridades do país” assemelha-se a uma declaração de guerra, é pior que uma arma apontada à cabeça, visto que “a anunciação da morte é pior que a própria morte. Além do mais, “a guerra, seja ela qual for, tenha o suporte ideológico que tiver, é sempre guerra e, como tal, sempre condenável, até mesmo a guerra defensiva, se esta última fecha qualquer abertura ao diálogo.”
Vejo duas terríveis incongruências nos argumentos da Renamo. Por um lado, não reconhece o governo da Frelimo, mas curiosamente solicita diálogo (e mantém conversações no Centro de Conferencias Joaquim Chissano) com representantes do executivo, mormente para partilha de recursos. Ao mesmo tempo proíbe que os seus deputados tomem posse, defraudando a participação destes no processo democrático do país, representando os superiores interesses nacionais. Há aqui qualquer coisa de aberração que o meu bom senso não encontra explicação. Por outro, fala-se agora que o governo do Presidente Nyusi não é inclusivo, porquanto não inclui elementos da Renamo. Esta tese leva-me a soltar gargalhadas porque não consigo encontrar seriedade em quem a concebeu. Incluir figuras da Renamo no governo pressupunha três hipóteses: (i) aceitação dos resultados eleitorais e reconhecimento dos vencedores; (ii) estar de acordo ou assumir o programa de governação da Frelimo; (iii) demonstrar competências e merecer confiança política, pois “a ninguém recomenda-se que coloque no bolso aquilo que lhe morde. A inclusão não significa “partilha do poder”, mas saber ouvir a todos e respeitar as opiniões de todos. A oposição deve estar envolvida numa governação através da dinamização do trabalho que a cada um compete fazer no desempenho das suas funções. Sinto muito quando alguns comentadores / analistas perdem a oportunidade de se manterem calados. Como TPC deixo-vos a seguinte pergunta: NOS LUGARES ONDE A OPOSIÇÃO GOVERNA, EXISTE AL-GUM ELEMENTO DA FRELIMO QUE OCUPE O CARGO DE VEREADOR, ADMINISTRADOR, ETC?
Zicomo (obrigado).
P.S.1: No fecho desta Centelha, finalmente o entendimento entre o Presidente da República, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama. Finalmente, os deputados da perdiz vão tomar posse. Infelizmente, não foi esclarecido ao povo moçambicano, se o entendimento é uma “mezinha” paliativa ou a cura da doença para sempre. A falta de esclarecimento – ao “patrão povo” – dá azo a especulações e ao boato, até porque, depois da contenda, quem fica a contabilizar os prejuízos é o “maravilhoso povo”. Em entrevista ao Jornal Expresso, o antigo Bastonário da Ordem dos Advogados de Portugal, o intemerato Marinho Pinto, disse “Os maiores erros cometem-se quando temos as maiores certezas. E os piores quando temos certezas absolutas”. Cá por mim, sem querer catequizar a minha objecção, este entendimento não passa de um novo capítulo do misterioso do Acordo Geral de Paz (AGP). Ignorar a História, capitalizando o conhecido método de fuga para frente, pode conduzir o país à hecatombe.
P.S.2: Nos noticiários da STV, o edil de Quelimane, Manuel de Araújo, materializou o pensamento do meu amigo Nkulu “Os seres humanos são como políticos: mudam de acompanhantes em função da conjuntura. Os que os rodeiam na busca de um desígnio não são os mesmos na empreitada seguinte.A liderança do MDM precisou da sua alta popularidade na Zambézia para eleger o maior número de deputados à Assembleia da República, mas num ápice descartou o seu apelo de ver um zambeziano a chefiar a bancada. Sim, é sensato acabar com a “Monarquia Simango”, para dinamizar o espaço de debate no interior daquele partido, incluindo a elevação da democracia no país.
WAMPHULA FAX – 09.02.2015

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