segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Diz o roto ao esfarrapado


16.02.2015
RAFAEL BARBOSA
A imagem é simbólica. Numa manifestação contra a austeridade que juntou, em Atenas, alguns milhares de pessoas, destacavam-se três bandeiras gigantes: a grega, naturalmente, mas também a espanhola e a portuguesa.
Não é provável, no entanto, que se tratasse de um gesto de solidariedade para com dois povos dessa Europa do Sul preguiçosa e sobre-endividada que também sofrem os efeitos dasamigáveis políticas de empobrecimento ditadas pela troika enviada pelo Norte trabalhador e de boas contas. Terá sido, antes, um gesto de desagravo perante dois governos que são afinal os mais assanhados na tentativa de encurralar os paralíticos gregos nos seus esquemas e aldrabices.
A intransigência de Espanha é fácil de perceber. Trata-se da mais nobre das razões: o cálculo político. O PP de Mariano Rajoy (e por arrasto os socialistas) vê-se na iminência de ser substituído, na paisagem política, por novos movimentos, o Podemos mais à esquerda, o Cidadãos mais à direita. A melhor forma de o evitar, não haja dúvidas, é adotar a tradicional postura da beata, pedir a bênção alemã e esconjurar o contágio dos vermelhos do Syriza.
Já a intransigência de Portugal é um pouco mais elaborada. Temos, por um lado, um primeiro-ministro que gosta de se sentar ao lado da poderosa Merkel nas cimeiras e que não está disponível para perder a face. Se Portugal prospera, ainda que apenas no mundo de realidade virtual habitado pelos fiéis do primeiro-ministro, o que há para mudar? Se os portugueses são, "de longe", os que fazem o "maior esforço" para apoiar os gregos, ainda que a afirmação não seja verdadeira, porquê trocar de cadeira e alinhar com um tipo que não usa gravata?
Temos, por outro, um presidente da República, versado emFinanças, que nos diz que Portugal está numa "situação bastante sólida", ainda que fique a dúvida sobre se estará a referir-se à solidez do crescimento dos números da pobreza ou à granítica resistência de um pequeno número de de-sempregados em aproveitar a oportunidade para emigrar. Se já saíram "muito milhões de euros da bolsa dos contribuintes portugueses", porquê aliviar o garrote aos gregos? Veja-se, aliás, o caso pessoal do presidente, que em devido tempo alertou para a dificuldade em pagar as despesas correntes com a sua magra pensão de 10 mil euros. E ainda lhe pedem mais um esforço?

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