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COMUNICAÇÃO: ALINHAMENTO E COORDENAÇÃO
Uma das boas práticas que aprecio na comunicação das organizações é o alinhamento e coordenação. Os ingleses chamariam isso de Call Tree, ou árvore de chamada.
A árvore de chamadas é um método de comunicação confiável entre membros de um grupo, como funcionários de uma empresa ou partido, voluntários de uma organização ou membros de um comitê escolar. Pode usar uma árvore chamada para responder a uma emergência, preparar-se para um desastre natural, agendar uma reunião importante ou realizar negócios de rotina.
Em suma, a árvore da chamada hierarquiza, alinha e coordena a forma como membros de uma determinada organização se comunicam perante uma determinada necessidade.
Um exemplo de boas práticas são os bancos quando são assaltados. Aconteceu há anos atrás uma agência do BCI foi assaltada. Os jornalistas lá foram correndo para saber e, para o seu espanto, ninguém do banco prestou declarações. O CALL TREE estava activado. A comunicação de crise estava activada. Os procedimentos de emergência também. A prioridade dos funcionários foi informar a sede. O gerente ao seu superior e este no escalão de cima. E em cada fase, acções concretas foram tomadas até que o porta-voz do banco convocou uma conferência de imprensa para dar a conhecer do que teria sucedido.
Uma voz, uma mensagem. E ao cair da noite, a notícia foi lacónica: Confirmou-se o assalto, sem nenhuma vítima. Porém, o valor roubado nunca foi revelado.
Este introito vem a propósito de uma actividade que está a decorrer a nível nacional. A Frelimo, dirigida pelo seu Presidente Armando Guebuza, enviou quadros seniores as províncias para entre outras coisas (a) agradecer o voto que deu vitória a Frelimo e (b) instar a população a negar as propostas de Afonso Dhlakama em relação a criação de regiões autónomas.
Vimos ontem pela televisão vários comentários entre os quais do antigo Secretário-geral Filipe Paunde, a Senhora (cujo CARÁCTER TANTO ADMIRO) Conseita Sortane e outros, que puseram acento tónico ao não reconhecimento e não aceitação das propostas do líder da Renamo em relação as regiões autónomas.
Recorrendo a técnica de simplificação, estes quadros seniores chamaram aquilo de TENTATIVA DE DIVISÃO DO PAIS, de resto, muito forte para fazer qualquer um parar de pensar. Na verdade, nem eu quero ver este país dividido. Este país é uno e indivisível.
Ora, estas memarches parecem-me ir contra ou diluir o sentido das conversações e da busca de consensos entre a Renamo e o Governo da Frelimo, dirigido pelo Eng. Filipe Nyusi. O gesto dos membros da Frelimo enviados as províncias, as suas mensagens, são pelo menos IRRECONCILIAVEIS com as recentes mensagens saídas das conversações entre Nyusi e Dhlakama.
Só para lembrar
•Nyusi aconselhou a Dhlakama e seu partido a submeterem um projecto de lei sobre a matéria
•Este projecto de lei será discutido seriamente no Parlamento, onde a Frelimo detém a maioria
•A Renamo e Dhlakama aceitaram o conselho de Nyusi e prometeram esboça-lo
•Nem Dhlakama, nem Nyusi, nem a Frelimo, nem a Renamo muito menos o povo conhece o conteúdo desta proposta.
O princípio que norteou a aceitação da proposta de Nyusi foi que QUALQUER alteração do nosso figurino político-administrativo deveria ser legal e através dos órgãos apropriados, pelo que aquele fórum (conersações bilaterais) era incapaz de conceder as regiões autónomas.
Neste momento, os juristas e outros interessados, cogitam sobre as implicações legais de tais reformas, compulsando sobre todos facetas, todos cenários e todas possibilidades. Porém, o que está claro é que não existe uma proposta concreta até agora vinda da Renamo.
Eu sou da seguinte opinião:
•Ao se terem espalhado pelo país inteiro para NEGAR, DESENCORAJAR e DESACREDITAR as “propostas divisionistas do país”, os ilustres quadros da Frelimo estão a compulsar sobre algo que não existe.
RISCO: O risco disto é que Afonso Dhlakama pode também regressar aos seus banhos de multidões e começar a ripostar. E nós sabemos que clima isso provoca, quando ele começa a falar perante aquelas multidões excitadas, sedentas em quebrar o país do Save! CRIA-SE um clima de tensão.
•Ao se terem espalhado pelo país para repudiar propostas ainda não discutidas, a Frelimo mostra-se nervosa e insegura; incapaz de esperar pelos procedimentos legais, previstos na lei, que ela tanto preza.
•A Frelimo só poderia se desdobrar em campanha similar na eventualidade de um referendo que fosse convocado a luz de uma proposta concreta de lei.
•Com este tipo de mensagens, a Frelimo está por outras palavras a dizer: “nós da Frelimo não queremos isso. Se a Renamo acertou com o governo, este é problema dele. Não contem connosco nas vossas intenções divisionistas”; portanto, uma autêntica afronta aos passos conseguidos até agora, o que pode ser contraproducente em relação aos futuros passos.
Eu julgo que a Frelimo é livre de recusar as ideias de Dhlakama, de critica-las como quiser e até de despreza-las. Mas não julgo sábio que, num momento em que o assunto se encontra numa outra fase; a fase em que a Renamo subiu de nível e deverá conduzir o debate em espaços institucionalizados – Parlamento da República – a Frelimo volte no tempo e resgate o discurso pré-Fevereiro de 2015 e decide desacreditá-lo!
Pior, quando a própria Frelimo domina o parlamento e conhece ou pode compulsar sobre todos os possíveis cenários para a transformação ou não da vontade de Afonso Dhlakama em algo aceitável para todos os moçambicanos.
Pior do que isso, a Frelimo, ao desdobrar-se em ridicularizar Afonso Dhlakama, está a pôr de lado qualquer possibilidade de a Renamo, depois de analisar, poder desistir desta ideia. Ou seja, a Frelimo não confia no poder da Diplomacia Pública de ser capaz de demover as intenções da Renamo em relação as regiões autónomas.
CONCLUINDO
As recentes afirmações dos principais líderes da Frelimo sugerem a inviabilidade de dois pólos de poder, onde Nyusi governa e Guebuza manda o partido. Esta seria a conclusão rápida a que muitos chegariam. Mas eu prefiro pô-la de lado por enquanto, não porque não seja verdade, mas porque não é este o meu objectivo neste post.
Eu prefiro pensar que a Frelimo e seu governo precisam pensar seriamente sobre como alinhar e coordenar a sua comunicação para não correrem o risco de se contradizer em público, MESMO que entre eles estejam tão coesos e cientes sobre o que querem. Nós, analistas, apenas podemos comentar o que é publicamente acessível. E, neste contexto, o que é nos dado a ver, ler e ouvir, sugere que a forma como o poder está distribuído na Frelimo vai exigir uma nova postura e cultura comunicativa, uma nova ÁRVORE DE CHAMADA.
As recentes mensagens que a Frelimo decidiu difundir, se não forem reformuladas, têm o potencial de atiçar o outro lado do problema, com o risco de diluir, deitar águas abaixo, todos os sucessos alcançados até agora, na busca de paz e tranquilidade aos moçambicanos.
É importante que a Frelimo resgate e faça uso da DIPLOMACIA PÚBLICA para a busca de consensos, da Paz e tranquilidade de todos os moçambicanos. E mais importante, deve finalmente chegar a um “acordo político” (Political Settlement) sólido com a Renamo que entre outros, implicaria a desmilitarização deste partido; algo que nos últimos 20 anos foi tratado de forma intermitente.
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