quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Chalaças presidenciais


12.02.2015
JOÃO GONÇALVES
O país tem assistido, com a indiferença que o exercício merece, à multiplicação de candidatos a candidatos à Presidência da República.
Apesar disso, os "estudos de opinião", os meios de Comunicação Social e, sobretudo, os interessados puxam frequentemente pelo assunto como se fosse prioritário. Sucede que, daqui a um ano, o incumbente ainda estará em funções mesmo com um sucessor já eleito a preparar-se em algum recanto. Talvez estes prelúdios se justifiquem pelo pouco entusiasmo com que os portugueses olham para outra escolha, a do Governo, quando pensam nas alternativas. De facto, o Doutor Cavaco poderá ter sido o derradeiro "candidato natural" num lastro que começou em 1976, com Eanes, o "candidato natural" da ala militar vencedora do 25 de Novembro e dos partidos que a apoiaram.
Agora parece ter sido aberto um leilão no mercado mediático, com destaque para o televisivo, para ver "quem serve". O que, mais do que uma consequência do estado a que chegou o regime, revela duas coisas. A primeira, a progressiva decadência dasnossas elites políticas que também se sinaliza nesta absurda "cascata" de putativos presidenciáveis em primeira, segunda ou terceira mãos partidárias ou saídos à pressa do subsolo para alimentar egos e ilusões. A segunda, mais séria, a tentação de banalizar a eleição por sufrágio directo do presidente e a única que "imediatiza" a relação política democrática. É verdade que o Doutor Cavaco não abundou como o "presidente protagonista" que prometia ser. Mas não convém "brincar aos presidentes" quando o próximo, tudo o indica, terá muito para fazer. Num estudo publicado em 1983, na revista "Análise Social", Luís Salgado de Matos explicava o significado e as consequências desta escolha unipessoal. O presidente, "só frente aos cidadãos", recebe "o excesso de procuras sociais que o Parlamento não está em condições de absorver" e, nessa medida, funciona como "banco central do sistema político português: garante-lhe a solvência quando os actores faliram". Não pode ser o fruto de pequenas chalaças.
JURISTA

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