sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Apóstolos, apologistas, apoquentados e que mais?

Canal de Opinião por Noé Nhantumbo

Finca-pé de “núcleo duro” põe em perigo a paz


Num autêntico golpe de surpresa, o trabalho nos bastidores dos políticos provocou um encontro de suma importância. Dhlakama e Nyussi encontraram-se pela primeira vez. O Governo de Moçambique e a Renamo decidiram dar rumo a um assunto que põe em perigo a estabilidade nacional e toda a perspectiva de desenvolvimento económico que se anunciava com a redescoberta dos recursos naturais no país.
Digerir o processo pós-eleitoral afigura-se um bico-de-obra de que nem os “especialistas” se atrevem a “adivinhar” o seu desfecho.
Uma situação bicéfala na Frelimo-Governo traz condimentos para a indecisão e descontinuidade negocial que vem ocorrendo no Centro de Conferências “Joaquim Chissano”. 
O país sente na carne que ainda não temos um Governo com poderes executivos. Digam o que quiserem os analistas e comentaristas, a verdade foi vista no dia 3 de Fevereiro na Praça dos Heróis.
Na ressaca das eleições mal conseguidas, a oposição exige respostas que os órgãos judiciais não conseguiram dar em tempo útil.
Agora cabe ao executivo dissuadir os opositores sobre a possibilidade e necessidade de acalmar os ânimos que se sentem no país inteiro.
A Frelimo, enquanto partido histórico e único governante de Moçambique desde a sua Independência, tem uma tarefa realmente difícil nas mãos. Como convencer seu “núcleo duro” e dirigente de que é possível e necessário, fundamental e estratégico desenhar saídas que acomodem as preocupações consideradas legítimas por uma maioria de moçambicanos.
Há sectores afectos à Frelimo que através de bombardeamentos mediáticos procuram cimentar a tese de que os resultados eleitorais são um dado adquirido.
Outros sectores na mesma Frelimo defendem uma saída que equivale à realização antecipada de um congresso deste partido, para que de lá saia a decisão de entregar a liderança deste partido ao Presidente da República homologado pelo Conselho Constitucional.
Qualquer destas linhas de acção ou ideias não corresponde ao que a oposição política com representação parlamentar almeja.
A fasquia subiu e os moçambicanos querem em geral muito mais.



Os atrasos nas discussões no CCJC trazem desespero e uma clara indicação de que existem sectores interessados em arrastar o processo até à consumação de sua perspectiva de arranjo orgânico do país.
Acolher propostas dos outros não é, jamais será, sinal de fraqueza. É sabedoria posta em uso da estabilidade nacional, da paz e do progresso.
O tempo urge e escasseia para que uma solução negociada sem derramamento de sangue surja e seja aceite pelas partes.
Existem sectores radicais nas partes que não apreciam o encontro entre Nyussi e Dhlakama. 
Estes gostariam de uma solução que permitisse que os seus sonhos de poder fossem acautelados.
Vive-se um momento que exige que os políticos negoceiem saídas inteligentes, serenas, equilibradas, convincentes e sobretudo satisfatórias para as partes em diferendo.
Quem quer um Moçambique em paz deve equacionar e determinar o que é realmente necessário pôr em prática para que tal aconteça.
Este não pode ser um momento de guerras de egos nem de aspirações ultrapassadas pelos tempos que correm.
Assuma-se que não queremos partido único nem bipolarização militarizada do país.
As discussões longas, exaustivas, no CCJC são necessárias, mas, enquanto continuarem a existir diversos centros de poder instruindo os negociadores conforme for a sua visão e interesses, será difícil alcançar os resultados esperados pelos moçambicanos.
Avante povo moçambicano na pressão quotidiana sobre políticos e seus partidos, no sentido de se evitar o descarrilamento deste comboio que somos nós todos. (Noé Nhantumbo)

CANALMOZ – 13.02.2015

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