quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

À sombra dos louros e da bananeira


18.02.2015
MANUEL SERRÃO
Aviado o Carnaval, temos hoje a Quarta-feira de Cinzas, em que ainda ecoam os sons da estreia (uivos e assobios) das "50 sombras de Grey" e se estreiam os desenhos do ultimato da União Europeia aos novos senhores da Grécia. Depois das cores fortes do Carnaval em Portugal, onde mulatas importadas do Brasil, ou portuguesas mais ariscas pintadas de moreno forte, desafiam o frio e a chuva, voltam as sombras e os cinzentos.
É por isso que nesta semana, que é também a semana dos Oscars de Hollywood, resolvi revisitar os dois temas fortes da atualidade, pondo em destaque as sombras que iluminam o filme de Sam Taylor-Johnson, mas também os dias e as noites de Atenas, no braço de ferro que trava com os grandes países europeus.
À sombra dos louros! Logo após as primeiras reações da maioria dos espectadores que marcou presença na tão badalada estreia de as "50 sombras de Grey" foi fácil perceber as razões de uma campanha quase inédita de venda antecipada dos bilhetes. O prometido sexo puro e duro não cumpre as expectativas forjadas no livro e alimentadas por uma desenfreada campanha de marketing. Mesmo para os que já sabiam que o sexo feito à sombra deste livro tinha pouco de puro, ficaram a saber que o filme preferiu deitar-se à sombra dos louros do livro, optando por uma versão murcha, onde se insinua muito mas se sua pouco. Assim vai também o Syriza, que ao fim de várias tentativas de ameaças falhadas, tenta ainda o impossível, à sombra dos louros de uma vitória cada vez mais parecida com as muito propriamente chamadas vitórias de Pirro.
À sombra da bananeira! Faturando milhões com os incautos (e sobretudo as incautas) que compraram os ingressos às escuras, os responsáveis pela exibição deste filme ter-se-ão limitado a concretizar uma das "novidades" que ele traz. Na festa da confusão entre o prazer vedado e o prazer vendado, vendem-se os bilhetes a quem acredita que o truque está em não saber o que se compra ou ao que se vai. Como diz o povo, enquanto o pau vai e vem, folgam as costas. Neste caso, não sei se as costas folgam, mas trata-se de ganhar dinheiro a trabalhar como se estivessem de folga, à sombra da bananeira. Assim vai a maioria dos gregos que deram a vitória ao Syriza, pessoal de todas as idades e gostos, mas que partilha um grande ideal e um grande objetivo, até com aquela brigada do reumático portuguesa que passa os dias a fazer manifestos: dar o corpo ao manifesto, que deem os outros. Podendo escolher-se uma vida à sombra da bananeira, está de regresso a sociedade sem classes e é proibido perguntar quem paga, para não ferir suscetibilidades.
Com este filme escaldante e a União Europeia escaldada, a temperatura não para de subir: já estão 50 Greys à sombra.
EMPRESÁRIO

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