domingo, 8 de fevereiro de 2015

A não reunião - Opinião - DN

A não reunião

Por ANDRÉ MACEDOHoje

Passos Coelho vai fazer-se de morto no Conselho Europeu de quarta-feira. É possível que entre mudo e saia calado desta reunião, já aconteceu, a ideia é não dar nas vistas e aceitar o que nos estendem com alguma gratidão, um obrigado nas sobrancelhas, como se a nossa dívida pública eliminasse o espaço para alguma análise - é também isso que se faz nas cimeiras entre líderes europeus, não é?, ou já está tudo decidido e medido de véspera pelo fio de prumo de Berlim? Não é apenas Passos que age assim. A regra, na Europa, até entre países maiores, é esperar a deixa de Merkel para seguir tudo mais ou menos igual ao que estava, mesmo que muitos (entre dentes) discordem. Portugal espera beneficiar de alguma migalha que improvavelmente caia para o lado grego - exigimos o mesmo tratamento, claro - mas não fará perguntas, nem dará algum espaço ao governo de Tsipras, mesmo que o assunto mereça discussão. Isto é, vamos à boleia, parasitaremos a discussão que outros, os gregos, farão por nós. A escolha de Passos é coerente - funcionou quando tudo ardia, há quatro anos. Mas a menorização política a que se sujeitam Portugal e os outros Estados só pode dar maus resultados a prazo (o que é o Syriza senão isso? O Podemos?), além de ameaçar o euro. As previsões de inverno da Comissão Europeia, apresentadas esta semana, tinham um gráfico elucidativo: o balanço da conta-corrente alemã subirá 8% do PIB este ano. Apenas a Holanda vai conseguir um resultado tão fulgurante. Portugal chegará finalmente - é uma boa notícia - a um saldo positivo (0,4%), a Grécia continuará no vermelho. A questão é: ao fim destes anos todos a Alemanha continua a pensar que pode vender tudo aos outros, mas agora que esse dinheiro deveria de alguma maneira regressar mais depressa aos países e parceiros em crise os alemães gerem o porta-moedas como o tio Patinhas geria, fazendo-o com o respaldo político dos líderes europeus que se fazem de mortos e agradecidos. Na realidade, assim, ninguém sabe para onde vai a Europa, muito menos esta Alemanha de Merkel.

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