domingo, 11 de janeiro de 2015

COMENTÁRIO - Que disparate político


Segunda, 12 Janeiro 2015 00:00

ESTOU profundamente decepcionado com o líder da Renamo, Afonso Dhlakama. Explico porquê:
Depois das festas do Natal e do Ano Novo, passadas junto da família, em Mangunde, distrito de Chibabava, em Sofala, Dhlakama apareceu no último sábado na cidade da Beira e orientou um “grandioso” comício, tendente a alterar a ordem política, económica e social vigente no país. Tudo a pretexto de fraude nas eleições de 15 de Outubro e de inconformismo com o veredicto do Conselho Constitucional que valida o resultado dessas mesmas eleições a favor da Frelimo e do seu candidato presidencial, Filipe Jacinto Nyusi.
Atropelando o primado da lei que estabelece que a República de Moçambique é um país uno e indivisível, Afonso Dhlakama anunciou a criação da república do centro e norte de Moçambique, da qual se auto proclama presidente, alegando não reconhecer o Governo da Frelimo saído das últimas eleições.
Mas que disparate político!
Dhlakama reivindica vitória nas províncias do centro e norte e diz que vai nomear governadores e administradores nas províncias de Sofala, Tete, Zambézia e Manica (centro) e Niassa e Nampula (norte), deixando Cabo Delgado a mercê da governação da Frelimo. O mesmo que dizer que Afonso Dhlakama pretende materializar a sua antiga intenção de dividir Moçambique a partir do rio Save.
Não se deve nunca interpretar este anúncio como simples brincadeira de Dhlakama ou como medida que o líder da Renamo adoptou para “divertir” os seus correligionários, na ressaca da derrota eleitoral. Trata-se, isso sim, de um anúncio extremamente perigoso e que atenta à paz e a unidade nacional. Através desta comunicação, o líder da Renamo incita a população à violência e à desobediência civil e exibe uma vez mais e com bastante clareza a sua natureza separatista, discriminatória e anti-democrática.
Afinal quem aconselha Dhlakama? Manuel Bissopo? Ossufo Momade? Manuel Pereira (acérrimo defensor da divisão do país a partir do Save), Ivone Soares? Quem é? Conselheiros sem sentido de pátria, contrários à união e à independência. Mas que conselheiros! Ou por outras, conselheiros de meia tigela.
A criação da república do centro norte de Moçambique (nem sei o que é isso) constitui uma prenda abominável não só para a população das províncias indicadas para o efeito, como também para todos os moçambicanos do Rovuma ao Maputo. É uma criação inexequível e que não encontra acomodação no quadro jurídico nacional.
O meu receio, porém, é que o líder da Renamo arraste, com os seus discursos incendiários, a população destas províncias para actos que possam culminar com a violência e desordem pública, com as consequências daí decorrentes tais como o derramamento de sangue.
É que não há no mundo nenhum Estado, nenhum Governo legitimamente sufragado pelo povo que possa admitir as brincadeiras de Afonso Dhlakama. Uma coisa é ele se comportar como líder da oposição e prosseguir livre e publicamente os objectivos que pretende alcançar na arena política e outra coisa é cobrir-se deste estatuto para promover a desestabilização, fomentando o regionalismo, o tribalismo, o racismo.
Quero acreditar, porém, que apesar de Dhlakama ter feito este anúncio ele próprio não crê que esta “república” tenha pernas para andar. Ele próprio não conhece os fundamentos da tal “república”, como se constituirá, como funcionará, a sua organização política, económica e administrativa. Ele anunciou-a apenas para divertir os membros e simpatizantes do seu partido, doridos com a escandalosa derrota nas eleições presidenciais, legislativas e das assembleias provinciais de 15 de Outubro.
E, por não saber como justificar ao seu eleitorado a quinta derrota sucessiva e consecutiva em escrutínios de género, Afonso Dhlakama, exímio contador de histórias, vai o divertindo com fraudes, governo de gestão e agora com a criação da república do centro/norte.
A verdade é que em Moçambique jamais será implantada esta república. A 25 de Setembro de 1964, o povo desencadeou a insurreição geral armada contra o colonialismo português que culminou, dez anos mais tarde, ou seja a 25 de Junho de 1975, com a proclamação da independência total e completa de Moçambique. A partir dessa altura Moçambique tornou-se um país soberano, guiado por uma Constituição que estabelece a indivisibilidade do país.
Quem é Afonso Dhlakama para aparecer hoje a apregoar a divisão de Moçambique? Fá-lo por simples ganância do poder ou porque cumpre objectivos de sectores externos hostis à independência e à soberania de Moçambique? Será Afonso Dhlakama um moçambicano de origem? Duvido. Se o for, então não passa de um lesa-pátria.
Sinceramente, admira-me o silêncio do sistema de administração da Justiça face aos posicionamentos assumidos pelo líder da Renamo. É que está claro que a Renamo e o seu presidente perseguem objectivos políticos obscuros, contrários à independência nacional e deturpam o espírito patriótico dos cidadãos, o que em nada contribui para a paz e estabilidade nacional.
Quando a norma estabelece que o incitamento à violência, à desobediência civil, ao separatismo, divisionismo, tribalismo, racismo, são actos puníveis. Porque razão o país tem que estar refém de um indivíduo nutrido e promotor destes males sociais? Julgo ser tempo de agir como mandam as leis pois, se a Justiça não o fizer atempadamente, o povo encarregará-se de o fazer.
Não à república do centro norte, sim a República de Moçambique, como país uno e indivisível.
Mukwachi Ossulú

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