quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Um pequeno reparo sobre o "voluntariado"



Quando Moçambique ficou independente em 1975 a minha geração beneficiou muito da solidariedade internacional na forma de voluntários de quase todo o mundo que vieram sobretudo dar aulas. Não há palavras que possam exprimir a minha gratidão. Vieram no momento certo quando o país precisava deles e a sua presença não enfraquecia a nossa economia. Entretanto, o "voluntariado" virou moda. Como expressão de solidariedade e altruísmo continua merecedor de admiração e apreço. Mas como ajuda ao desenvolvimento, infelizmente não. Já não é ajuda ao desenvolvimento. É nocivo. Não é que o país não precise de mais professores, por exemplo. Claro que precisa. Mas nem todos os professores que o país tem têm emprego. Nem todas as pessoas formadas que poderiam trabalhar como professoras têm emprego. Não estou a defender nenhum nacionalismo laboral. Estou a dizer que quando aqueles que nos ajudam enviam e pagam pessoas para virem fazer aquilo que o nosso sistema devia fazer, nomeadamente criar postos de trabalho para a mão de obra que se encontra no país, não estão necessariamente a ajudar. Estão a fazer mal à economia. Se eles são sérios em relação à ajuda ao desenvolvimento entre enviar jovens para ganharem experiência de vida e enviar dinheiro para que o Estado empregue mais professores (que até pode incluir contractar lá fora...) prefiro, sempre, a última opção. As nossas autoridades precisam de reflectir isto seriamente. Também porque nem quero imaginar a dança que seria enviar jovens moçambicanos para os Estados Unidos ou Europa para irem passar dois anos a colher experiências... Mas esse é outro assunto.
O 23º grupo de voluntários do corpo da paz em Moçambique prestou, hoje em Maputo, o seu juramento de determinação em trabalhar em prol do desenvolvime...
RM.CO.MZ
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  • Eusébio A. P. Gwembe Quando eu li a notícia disse para mim mesmo: Voluntários ou desempregados? Depois questionei-me mais... Quem lhes dará a hospedagem, sem dúvida bem melhor do que a do meu professor, quem lhes dará comida que só sei que não será xima com feijão, o menu habitual do nosso professor, que transporte vão usar que só sei que não será minibus ou bicicleta, ou de Adão, que tipo de experiência será se estiverem a beber água mineral frente de alunos e professores que só vão aproveitar os frascos para maheu e óleo. Enfim, não estaremos a vender oficiosa e oficialmente a desgraça do país, quando eles elaborarem os relatórios do IDH?
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  • Elisa Santos Tão de acordo! O voluntariado tem que ter um pressuposto de partida: uma necessidade expressa por quem a sente. É imprescindível que quem recebe seja capaz de perceber se em vez de plantar não está a queimar terra, se não está só a usar um atalho curto.
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  • João Feijó Elísio, em troca de contrapartidas e através da injecção directa no orçamento de Estado "já enviam e pagam pessoas para virem fazer aquilo que o nosso sistema devia fazer, nomeadamente criar postos de trabalho para a mão de obra que se encontra no país". Já estão a enviar "dinheiro para que o Estado empregue mais professores (que até pode incluir contratar lá fora...)". Claro que é legítimo que nesta relação se questione para que lado pesa a balança, assim como qual é a eficiência na gestão desses recursos. As evidências demonstram que a qualidade dos graduados de agora diminuiu bastante (não só em Moçambique, mas também nos países de origem de muitos "cooperantes"), pelo menos se compararmos com a geração anterior. O problema é sistémico e estes voluntários só por si não vão resolver nada. Provavelmente vão chegar cheios de ideias que na prática não vão funcionar e só se vão aperceber disso no final do período de voluntariado (reais condições de trabalho na escola, das condições dos alunos, dos vícios instalados do género "transfere lá crédito para passar"...). Tudo dependa talvez da qualidade do programa de voluntariado e não necessariamente do voluntariado em si. Espero que a experiência seja enriquecedora para os beneficiários, da mesma forma que foi para as populações que no pós-independência beneficiaram dessa "cooperação". Um abraço!
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  • Raul Chambote Nós temos um Estado Extrovertido. Ainda me lembro da bronca que o ex-ministro da Saude Ivo Garrido provocou a ter-se insurgido sobre os voluntários que vinham dos EUA para qualquer coisa de HIV SIDA. Prof. Elisio Macamo, neste país um téologo lidera Agência Nacional de Energia Atómica enquanto o físico nuclear (talvez o único que temos está administrar uma universidade; neste país uma jurista liderou ou lidera Conselho Nacional de Combate a SIDA enquanto os médicos vão à ministros em pelouros não da sua especialidade; teólogos pregam e combatem malária com canticos (roll back malaria), os médicos são deixado fora dos esquema da economia politica da malária....quer mais? Pessoas que até abandoram a missão tranquila de confortar os fiés nas suas igrejas, estão no Conselho de Estado, orgão que exige energia fisica e intelectual - esses já não tem energia para as igrejas mas tem-na para política....esse é o Estado que temos.
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  • Adolfo Lourenco Tembe Uma questao muito pertinete. Uma boa refleccao. Na verdade quando precisavamos nao nos mandavam, agora que temos de sobra e wuando nos mandam
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  • Fernando Wilson Sabonete Que voluntários são esses e por que logo em Moçambique e não
    nas zonas onde ha mais risco? Ha coisas que acontecem no mundo que tudo favorece a outras pessoas, temos problemas sérios na região noroeste da África, mas essa ajuda só chega onde não preci
    samos e ainda se calhar são profissionais amadores (de nível de
    licenciatura) em vez de profissionais de nível de doutorado. Por que não enviar jovens moçambicanos para os Estados Unidos? Eu acredito que em Moçambique esta produzindo grande quantidade de licenciados também que precisam de experiências nas áreas, então devem fazer estágios nas Instituições de Ensino em Moçambique se
    não pode ir para os Estados Unidos e não os estados unidenses vir tomar lugares dos jovens moçambicanos. Por que não vieram logo na Independência? Pois tinham medo de dar tudo errado, alias eles torciam que desse tudo errado, e agora que a casa esta arrumando casa chega todos povos para prestar ajuda. Isso esta parece muito família com chinês que chegam em angola para exercer a profissão de motorista, pedreiro de ma qualidade, ou ainda cubanos que exercem medicina mas que não são médicos, professores de ma qualidade, mas os nacionais com qualidade são deixado de lado. É muito difícil, tudo para África. Estou cansado com racismo, e por vezes ate os Fenômenos naturais castigam mais os pobres para justificar a posição dos que não gostam da Africa, mas enquanto sabemos que eles arrumam tudo para povo dizer que 'e verdade
    13 hrs · Like
  • Messias Mahumane Macamo, sempre igual a si, pela posiriva, com memória sempre em dia. Aqueles nossos professores no secundario, Borges, Paloma, Syitse, Amarlis, Trindade...
    para aqueles tempos, justificava-se a sua contratação. O país precisava.
    Este grupo de voluntári
    os, querendo, pode ser útil, sobretudo na organização escolar.
    Com este espírito de deixa andar, caracterizado por corrupção generalizada envolvendo os actores do processo de ensino e aprendizagem, onde todos dividem as culpas pois não existe corrupto sem corruptor, os alunos, país e e.e., por vezes tomam a iniciativa de corromper o professor, com dinheiro, bens de varia natureza incluindo assédio sexual.
    Se incluirmos esses voluntários em postos não só de docência, mas também de assessoria na organização escolar, baseada em uso correcto das TICS,, provavelmente podemos ter um ganho.
    Qualquer coisa como isto;
    Teste de multipla escolha, correcção automática a partir de um aplicativo próprio, reultado imediato,
    Õ professor não precisa andar com testes, cadernetas, apenas precisa de dar aulas e elaborar testes de avaliação.
    Este modelo precisa de um assessor e, infelizmente, as nossas universidades ainda não se deram como felizes na producão desse tipo de especialistas, pode ser que os voluntários venham ajudar nas reformas do modelo de todo o processo educativo, quiçá.
    Esperemos para ver, mas pessoalmente sou optimista.
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