quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Pacificar e democratizar é mais importante do que os egos


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Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Líderes políticos e sociedade civil são chamados a demonstrar liderança

Quando a nação chama, os seus filhos respondem.
Num momento em que se desenham cenários sinistros decorrentes de eleições suspeitas e em que há um real potencial de que a violência possa eclodir de novo, importa que os nossos políticos saibam exercer contenção, e, com responsabilidade e patriotismo, coloquem as suas diferenças pessoais de lado.
Divergir e pensar diferente é salutar e precisa de ser entendido como ingrediente da democracia almejada e sonhada. 
As declarações bombásticas ou retóricas, o discurso incendiário ou controverso, a diabolização dos outros como forma de fazer política tem riscos que os moçambicanos não querem nem devem correr.
Tem sido a relutância em proceder de modo razoável e de construção de consensos em tempo útil que atrasa progressos negociais.

Com um pouco de rigor e de sentido prático não se andaria a discutir, há décadas, uma questão como a partidarização do Estado e das suas Forças de Defesa e Segurança.
Foi a desconfiança de ontem e a de hoje que criaram as condições para o reacender da guerra em Moçambique. E neste processo não interessa absolutamente nada que apareçam paladinos da verdade e da sabedoria exclusiva a apontarem o dedo para a esquerda ou direita.
Os protagonistas e signatários do AGP-Roma devem considerar-se com culpas no cartório e tudo fazerem para alterar a situação.
A sensação de que se caminha para uma guerra pelos recursos deve ser resolutamente afastada através de acções práticas, patrióticas, incisivas e definitivas.
Não queremos espectáculos de comissários políticos, de secretários-gerais de partidos, ex-presidentes e porta-vozes fazendo declarações inflamatórias e que afastem os moçambicanos dos seus mais altos interesses.
Desmontar esquemas que impedem a concretização da vontade popular deve ser visto e entendido como mais importante e nevrálgico do que a retórica e manias de grandeza que alguém possua.
Este não é o momento de joguinhos nem de esquemas de manutenção do “status”.
Há uma visível e fundamentada sede de mudança que requer recuos das partes. Requer sobretudo maturidade que desfaça conceitos de poder e modelo político afunilados, para dar lugar a uma situação de abertura e de debate nacional concreto.
Existem soluções e essas passam pela aceitação de que algo foi mal feito.
Há rancores históricos que devem ser ultrapassados, para que a convivência e concórdia se instalem no país.
Há gente que não concebe e que continua a não aceitar que os outros também são moçambicanos.
Não se trata aqui de advogar fantasmas e a sua captura ou eliminação. Que cada um viva com os seus demónios e que deixe Moçambique trilhar pela via da PAZ e do progresso para o seu povo.
Qualquer maquinação nacional ou regional visando a apropriação de Moçambique não terá sucesso, porque os moçambicanos são adultos e soberanos.
Pela paz e concórdia devem ser o espírito que anima os negociadores no Centro de Conferências “Joaquim Chissano”.
É contraproducente e dispendioso adoptar estratégias de pressão pela via militar ou outra que não seja a transparência e a justiça.
Sabedoria, magnanimidade, contenção, respeito pelos direitos políticos e económicos dos moçambicanos são essenciais neste momento crítico da vida política no país.
Os apologistas da guerra, os falcões que nunca desarmaram e que temem ver a democracia florindo devem ser derrotados através da firmeza e vontade férrea dos moçambicanos.
Queremos paz que não seja podre, mas algo que “empodere” todo um povo e traga orgulho a esta também chamada “Pérola do Índico”. Só isso trará sentido a essa poética combinação de palavras. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 04.12.2014

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