terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Austrália colhe frutos da participação em operações militares no Oriente Médio

Hoje, 17:23
Austrália, política, refugiados, muçulmanos, imigração, Afeganistão

Haron Monis, extremista que sequestrou reféns em Sidney, afirmava ter trabalhado para a inteligência iraniana. Abandonando a esposa e os filhos, fugiu do país por sua vida estar alegadamente em perigo.

Na Austrália, foram inscritos em sua conta judicial quarenta episódios no âmbito de artigos penais, inclusive sérios. Seu antigo advogado diz que Haron Monis, durante a investigação de seu envolvimento no assassinato de sua antiga esposa, afirmava que não tinha nada a perder. Um delinquente?
Ao mesmo tempo, Monis se denominava como “xeque Haron”, “passou” de xiita a sunita e foi julgado pelo envio de cartas insultuosas a famílias de soldados australianos mortos noAfeganistão. Um radical?
Tudo é mais complexo. Nos últimos dez anos, a Austrália não escapou à participação em guerras, algo que não agradou a muitos muçulmanos no “continente verde”. A seguir, o país se deparou com seu resultado inevitável – o fluxo de refugiados. Só entre 2012 e 2013, mais de 26 mil imigrantes chegaram à Austrália, na maioria oriundos de países do Oriente muçulmano, devastados em resultado de guerras com a participação australiana. A maioria de refugiados chegava por via marítima e sem convite algum, tal como os soldados australianos ao Oriente.
Os imigrantes acreditavam que tinham direito a serem salvos das desgraças que abalaram sua terra sem o consentimento deles. Mas, desde o outono do ano passado, apenas 157 pessoas chegaram por mar à Austrália. Qual foi a razão? A Austrália decidiu deixar de acolher “ilegais” tal como, por exemplo, a Itália. Lanchas militares começaram a rebocar embarcações com refugiados de onde elas haviam chegado – da Indonésia.
Mas aqueles que encontraram abrigo no país não encontraram sossego. Muitas pessoas são “reenviadas” PARA o Camboja, país com o qual a Austrália assinou o respetivo acordo. Como medida adicional, o país voltou a introduzir vistos provisórios. Um afegão que obteve o estatuto de refugiado sabe agora que poderá ser enviado de volta dentro de três anos se as autoridades considerarem que a situação no Afeganistão melhorou. Para além disso, o ministro da Imigração, Scott Morrison, propôs declarar uma moratória à concessão de abrigo permanente para mais 1.500 pessoas que já haviam sido reconhecidos oficialmente como refugiados.
É assim que na Austrália se entendem os direitos de refugiados. Mas, ao que parece, as autoridades não entendem que tal atitude está reforçando uma reação negativa de resposta de toda a numerosa comunidade muçulmana do país e, sem dúvida, dos islamitas radicais locais.
Em resultado, cerca de 60 cidadãos da Austrália estão guerreando nas fileiras de jihadistas na Síria e no Iraque. Ao mesmo tempo, mais de uma centena de seus apoiantes ativos, no mínimo, está operando no próprio país, inclusive aqueles que contratam, preparam e enviam combatentes PARA o Oriente Médio.
Segundo declaram serviços de inteligência da Austrália, dezenas de atentados terroristas foram prevenidos no país nas últimas décadas. Só no fim de setembro, em Sidney e Brisbane, foram detidas 15 pessoas suspeitas de preparação de atos terroristas no país. Um dos suspeitos foi acusado de contatos com a célula local do Estado Islâmico. O perigo ainda cresceu após o envio de 600 militares australianos PARA o apoio da nova coalizão contra o Estado Islâmico.
Após as rusgas policiais de setembro, foi efetuado em Sidney um ato de protesto contra ações da polícia, no qual participaram várias centenas de membros da ala australiana do agrupamento islamita radical Hizb ut-Tahrir, cujo dirigente, Wassim Doureihi, declarou: “Mesmo se explodir uma bomba neste país, mesmo se explodirem milhares de bombas neste país, tal provará apenas que os muçulmanos estão em ira e têm todas as razões para a fúria”.
Como deveriam os dirigentes do país reagir a semelhantes declarações, numa altura em que foi anunciado o nível superior de ameaça terrorista? Por mais estranho que pareça, o primeiro-ministro da Austrália, Tony Abbott, disse em 8 de outubro ao canal televisivo australiano ABC que não foram encontradas provas que confirmem o envolvimento do Hizb ut-Tahrir em atividades terroristas e, em conformidade com a legislação em vigor, nada ameaça esse agrupamento.
A essa declaração fazem eco as palavras do chefe da comunidade muçulmana: “Temos sem dúvida um país livre. Devemos conformar-nos com o fato de haver mesmo fanáticos, que têm o direito de ser fanáticos, tal como o Hizb ut-Tahrir e quaisquer outros agrupamentos. Eles têm o direito a seus pontos de vista e devem ter a possibilidade de expressá-los”.
Passados dois meses, Haron Monis expressou seu ponto de vista. Quem será o próximo a considerar que ele realizou assim seus direitos na Austrália?

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