quinta-feira, 20 de novembro de 2014

ENTRE ASPAS - Beira: uma cidade “difícil”


ENTRE ASPAS - Beira: uma cidade “difícil” (1)
Quarta, 19 Novembro 2014 00:00 | E-mail | Acessos: 53
OS caminhos levam-nos a algum destino e trazem-nos de algum lugar. As estradas também. Mas, para chegarmos a esse destino e, para chegarmos desse “algum” lado, temos antes de conhecer bem ou relativamente bem o caminho ou a estrada.
Caso contrário “acabaremos” num outro destino que não aquele que nos interessa (va).
Vem este arrazoado na sequência de uma digressão que fiz há dias pelas províncias de Nampula, Sofala e Zambézia. Durante esse périplo constatei algumas particularidades interessantes nas capitais das três províncias, Nampula, Beira e Quelimane, por esta ordem, que vale a pena partilhar consigo caro leitor.
Tais constatações, na prática, já haviam sido feitas em ocasiões anteriores, de facto, já estivera naquelas cidades um sem número de vezes. Porém, como que por artes mágicas voltaram a brotar novamente quando ao cair da tarde de sábado, 8 de Novembro corrente, caminhando pela avenida Filipe Samuel Magaia em direcção à marginal quelimanense até próximo da ponte de onde partem os barcos e o batelão para Inhassunge e para Chinde, dei comigo a contemplar estasiado as ruas e avenidas, com um interesse que me intrigava.
Ruas e avenidas com traçados bonitos que não me deixavam indiferente. Os passeios, todos espaçosos. Rotundas bem identificadas. Espaçadas correctamente como deve ser… Virando desta esquina para aquela esquina, encontrava praças e jardins bem tratados.
Tudo me parecia invulgarmente coisas novas, nunca antes vistas. Cada vez mais ficava intrigado e, é bom dizê-lo, embevecido. Não percebia a razão de tanta admiração e de tanto embevecimento… É então que das profundezas da memória surge um aviso: Acabas de chegar da cidade da Beira, uma cidade com (de) características bem diferentes. Uma cidade “caótica”.
Pois, Beira, uma cidade onde as praças e rotundas quase que se atropelam. Se confundem e confundem o transeunte, pelo menos o transeunte não residente. Beira, onde quem não é de “lá” facilmente se perde. Tal é o emaranhado de praças e mais praças, rotundas e mais rotundas. Beira, onde para descobrires a baixa (estando já na baixa), alguém tem de te informar que já estás na baixa!
Beira, onde ao contrário de Nampula e de Quelimane e/ou mesmo de outras cidades deste imenso país, os edifícios que “alojam” as instituições públicas/oficiais – o Governo Provincial de Sofala, por exemplo, confundem-se com prédios “normais”.
Beira, onde para localizar um hotel, por exemplo os hotéis Estoril e Embaixador, só para citar estes dois exemplos, alguém tem te levar “à mão”… É esta Beira onde não é fácil encontrar o caminho, a rua ou a avenida que procuras para chegares a um destino. Beira, onde nos anos 90, creio que 1993, acabado de chegar de Maputo, a delegação da instituição onde trabalhava, põe um carro à minha disposição para as voltas que quisesse dar.
Depois de instalado no Hotel Moçambique, pego no carro e toca a andar. Depois de uma virada à esquerda, entro numa rotunda… 10 a 13 minutos depois um cidadão que por alí circulava, pede-me para parar. Pede desculpas pela interrupção e pergunta: “o senhor está a gostar de circular por aqui? É que já passam mais de 10 minutos que o senhor está a dar voltas pela rotunda. Desculpe-me se incomodei”…
Fiquei estarrecido e verdadeiramente incomodado. Não pela interrupção, mas pela constatação de que não estava a “ir” a lugar nenhum. Estava isso sim, a passear por ali, convencido de que estava a andar para um destino antes traçado.
Marcelino Silva - marcelinosilva57@gmail.com
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