sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A Lucília da nossa desgraça! (‪#‎canalmoz‬)


Canal de Opinião
A Lucília da nossa desgraça! (‪#‎canalmoz‬)
Maputo (Canalmoz) – Escrevi, num passado não muito distante, que, quando Armando Guebuza chegou ao poder em 2005, houve um fenómeno muito estranho que começou a ter lugar a olhos vistos. É que todos os filhos mais preguiçosos e incompetentes que o país foi criando em todos estes anos de Independência começaram a brilhar.
Fiz também constar que tinha dificuldades de dizer com algum rigor se foi por selecção por via pauta classificativa de incompetência, ou por mera coincidência de indicação. Mas o facto é que Guebuza salvou muitos incompetentes dos seus merecidos destinos.
Mas, agora, chego até a equacionar a possibilidade de ter havido um anúncio público num desses jornais com o seguinte teor: “És incompetente e queres brilhar? Contacta a Presidência da República para um emprego condigno. Não te esqueças de levar contigo a cópia do teu BI”.
É que a quantidade e qualidade de incompetentes que temos hoje como governantes é uma assinalável obra cujas motivações a ciência, mais tarde, se deveria encarregar de estudar.
Chamo a ciência à colação porque, quando se aposta em incompetentes, propõe-se a desafiar uma das mais elementares normas da existência humana: a selecção natural. Charles Darwin já havia teorizado, na sua “selecção natural”, aquilo que viria a ser a convivência humana sob o escopo da competitividade e da aptidão. Mais tarde, esta teoria viria a ser secundada por Thomas Malthus. É muito simples. É que, Segundo Darwin, na convivência das espécies, e dada a disparidade da dose de aptidão em cada uma delas, as mais aptas devem, por ordem natural, singrar em relação às fracas ou às espécies menos aptas. A isto, Darwin chamou “selecção natural”. Os aptos devem, por ordem natural, singrar.
Mas, cá entre nós, por alguma razão, a teoria proposta por Charles Darwin tem sido executada em sentido contrário. Ou seja, os mais fracos, os inaptos, os incompetentes, preguiçosos e outros de qualidades equiparadas são os que tendem a pontificar e singrar, para desespero da justiça entre os homens.
Vem isto a propósito das últimas declarações da governadora da cidade de Maputo, Lucília Hama. Segundo aquela governante, a população carenciada, que estatisticamente representa mais da metade da população geral, deve criar condições para que, na quadra festiva que se aproxima, tenha no seu prato, no mínimo patas de galinha, pescoços, asas ou qualquer outro tipo de derivado de frango, que até podem ser tripas ou mesmo cabeças. Mas, desde que o frango esteja parcialmente representado no prato do cidadão, teremos todos “festas felizes”. Este é pensamento nutricional gerador de felicidade na óptica de uma governadora.
Sem recorrer a manuais de análise de discurso, vamos tentar perceber este disposto nutricional proposto pela governadora. Mas, antes, o caro leitor deverá ter em mente que a governadora da cidade de Maputo é uma entidade completamente dispensável. Não nos faz falta como entidade ou autoridade administrativa, num território com autoridade municipal sufragada em votos. É apenas mais um daqueles cargos que os que estão no poder criaram para dar emprego a sobrinhos(as), antigos(as) colegas da(o) esposa(o), amantes que podem ser seus ou dos(as) amigos(as), filhos dos padrinhos, sobrinhas dos guarda-costas, e por aí adiante. Sob o ponto de vista funcional, é mesmo para sugar os nossos impostos!
Deverá também ter-se em conta que, por imperativos constitucionais, a governadora não foi eleita. Foi nomeada pelo Presidente da República.
Ou seja, no território sob sua jurisdição, ela representa o Presidente da República. Ela representa o pensamento e a estratégia de governação de Armando Guebuza na sua extensão. Em toda a cidade de Maputo, Lucília Hama é a melhor pessoa que Guebuza encontrou para o representar de forma fiel. Mais: Lucília Hama é membro da Comissão Política do partido Frelimo. Ela representa o mais importante órgão de gestão e estratégia desse partido. Ela representa a visão do partido Frelimo.
Voltemos ao discurso. Lucília Hama pode até ser a manifestação material e oficial do disparate humano, mas teve, na sua intervenção, o mérito de desmentir todo um discurso de sucesso na luta contra pobreza e de desenvolvimento humano. A seguir explico: é que em nenhum país que se está a desenvolver ou a caminhar rumo ao progresso, como andam aí a mentir, as pessoas atingem a felicidade alimentando-se de pescoços, caudas, asinhas, tripas ou cabeças de aves. Em nenhum país normal, a maioria da população atinge a felicidade com patinhas de aves ou mesmo as suas cabeças. A pauta nutricional apresentada por Lucília Hama é uma cópia autenticada de um país mergulhado na miséria.
De uma governação falhada e sem rumo. De um país mal governado. De um país sem recursos. E como no nosso caso os recursos existem e são esses com que pagamos o luxo das Lucílias desta vida, então a tal pauta nutricional inspirada no cardápio do sistema prisional de países pobres representa um país decadente com uma tal elite sem escrúpulos! É aqui onde reside o mérito de Lucília Hama. A camarada governadora foi a voz oficial que tratou de nos informar que esta governação é um equívoco administrativo e que o seu objectivo é levar o povo à infelicidade e desespero. Não se compreende como é que, quase 40 anos depois da Independência, um governante se orgulhe de o povo estar a comer tripas ou cabeças de aves.
“Festas felizes” com tripas e pescoços é um retrato fiel de que afinal os governantes não só estão cientes da indigência a que submeteram a esmagadora maioria dos moçambicanos, como, além disso, divertem-se com a miséria do povo!
Em países normais, Lucília Hama não ficava mais uma hora como governante. Mas como reúne as condições que acima alistei para fazer parte do Governo, certamente que nada lhe irá acontecer.
Tem a sorte de fazer parte de um Governo incompetente.
E antes que o mandato termine, é bom que, se o caro leitor conhecer um amigo, vizinho ou familiar incompetente, é favor de o informar para se dirigir à Presidência da República. Terá emprego. Não importa que tipo de emprego, a garantia que dou é que vão dar um jeito. Eles precisam. (Matias Guente)

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