segunda-feira, 17 de novembro de 2014

A derrota copiosa de Daviz Simango vs ascensão do MDM!

Reflexão de: Adelino Buque

Adiferença percentual entre o candidato à Presidên­cia da República pelo MDM, Daviz Simango, e a organização que dirige na corrida às legislativas de Outubro de 2015 coloca o líder do “galo” em estado de delírio total.

PARA que o leitor compreenda melhor o que estou a dizer, explico-me: nas presidenciais, Daviz Simango conseguiu 6,36%, contra 7,21% do partido MDM nas legislativas.

Importa referir que Filipe Jacinto Nyusi, tam­bém candidado à Presidência da República pelo partido Frelimo, foi declarado vencedor pela CNE com 57,03% contra 55,97% (Frelimo) e, segundo os mesmos resultados, Afonso Dhlakama ficou na segunda posição com 36,61% contra 32,49% (partido Renamo).

Dos três candidatos presidenciais, Daviz Simango é o único que teve menos votos que o seu partido. Estes resultados levaram o presidente do MDM a dar duas entrevistas polémicas que, na minha opinião, sugerem o estado de espírito em que o mesmo se encontra: de delírio!

As referidas entrevistas foram publicadas nos semanários Savana e Magazine Independente, neste último sob forma de notícia.

Na entrevista publicada pelo Savana, o presi­dente do MDM denuncia a existência de pessoas que pretendem acabar com o partido, e ataca os seus membros, apelidando-os de “ambiciosos” que o pretendem derrubar e sentencia: “Não há congresso extraordinário. Os que querem concorrer que esperem pelo congresso que se realiza de cinco em cinco anos”. Diz mais: existem pessoas no partido que desejam liderar o partido quando não são capazes de “gerir a sua própria casa”. Cito de memória o que li no Savana.

Já no Magazine Independente pode ler-se que “houve traição por parte dos membros do MDM que no lugar de votarem no candidato do partido, votaram na Renamo e no seu can­didato. Em face disso, está em marcha uma acção com vista a descobrir e desmascarar os traidores”. PARA tanto, o presidente do MDM está em visita pelas bases para perceber a motivação dos traidores!

×Ads by HQ-Video-Pro-2.1cEsta notícia coloca em causa o princípio de livre escolha que o cidadão tem na hora de votação, por um lado, por outro, a questão do secretismo do voto. A questão é: como é que o presidente do MDM vai saber que este ou aquele é o traidor que não votou nele se o voto é secreto?

Este estado de coisas só pode ser compreen­dido se considerarmos a fasquia colocada por si próprio e seus apoiantes e doadores sobre as elei­ções. Na minha modesta opinião, o erro capital dos apoiantes do MDM e analistas do G30 foi de pensarem que o cenário das autarquias poderia repercutir-se nas eleições gerais, menosprezando o factor local e nacional e mais: com a ausência do partido Renamo nas eleições autárquicas o MDM nunca assumiu que a sua existência se devia ao apoio dos membros da Renamo desavindos com aquele partido, capitalizando na opinião de um partido de jovens! Quais jovens? O que, à partida, estava errado. Aliás, as eleições assim o dizem.

Com o resultado que obteve nas eleições autár­quicas, o MDM começou a sofrer de uma espécie de esquizofrenia que desembocaria neste delírio que se pode ler nos diferentes órgãos de comunicação social onde aparece a falar. Só um esquizofrénico pode ver coisas que não são fácil e materialmente visíveis. Ele vê coisas que a sociedade não vê, como pessoas querendo destruir o MDM, pessoas ambiciosas que lhe querem retirar da direcção do partido, membros que exigem um congresso extraordinário, entre ou­tras coisas.

Nas democracias que emitamos, o desaire do líder dá, sim, lugar a um congresso ou reunião nacional PARA analisar o sucedido. Esta exigência não pode ser vista como de ambiciosos, aqueles que querem destruir o partido, antes pelo contrário, são pessoas de bem, que pretendem ver o partido rejuvenescer, são pessoas que entregam o melhor de si para que o partido vingue. Esses membros ultrajados na praça pública como irão se sentir?

As palavras do presidente do MDM revelam uma pessoa que precisa de apoio e assessoria, porque a levar em conta as suas entrevistas, no fundo, é Daviz que irá destruir o partido e à distância.

×Ads by HQ-Video-Pro-2.1cÉ altura de questionar se de facto Ismael Mussa não tinha razão ao tomar a atitude que tomou! Daviz Simango não pode temer um congresso extraordinário. Até pode não realizar por várias razões, mas rejeitar a ideia, à partida, mostra um presidente com medo. O que é isso, Daviz?!

Na entrevista que concedeu ao semanário Savana, Daviz Simango fala da família na poltica e, na sua opi­nião, mesmo estando fora do MDM, ele teria sucesso. Isto revela uma gritante descoordenação de ideias. Se fora do MDM pode ter sucesso porque de família de políticos, porque vê coisas não perceptíveis ao comum cidadão, como pessoas que querem destruir o partido, ambiciosos, pessoas incapazes de gerir a sua própria casa, entre outras, no lugar de desafiar a esses membros que “é congresso extraordinário que querem, então vamos a ele!”. Assim Daviz sairia mais reforçado.

Pessoalmente compreendo as motivações do es­tado do presidente do MDM; são muitas pessoas que haviam depositado confiança nele e que se acham, de repente, sem “chão”. Homens e mulheres que já se tinham programado PARA outro tipo de vida em 2015, pessoas que saíram de forma pouco elegante de lugares onde estavam confiando no sucesso do MDM e seu presidente. Estas pessoas estão, de certa forma, frustradas.

São os parceiros do partido MDM que investiram forte no partido que estão desiludidos. Qual é a res­posta PARA tanta coisa junta?

Se calhar alinhar com o partido Renamo denun­ciando “FRAUDE MONUMENTAL” como repetida­mente o vem fazendo com o apoio incondicional do G30. Gostei de uma passagem da entrevista que diz: “o que é que essas pessoas fizeram para colocar Daviz Simango na Ponta Vermelha?”. De facto, o que fizeram?

PS: O semanário “Canal de Moçambique” titula, na edição n.º 277 de 5 de Novembro, que “Salomão Moyana trai Afonso Dhlakama, Judas Iscariotes?” sugerindo que, tendo sido proposto pela Renamo, deve identificar-se com tudo o que ela diz e faz. Será que é assim mesmo! E a consciência onde fica? São as democracias emergentes do tipo “não pense”.

CORREIO DA MANHÃ – 17.11.2014

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