sexta-feira, 6 de setembro de 2013

RECAPITULANDO VIVÊNCIAS O NESAM E A UNEMO

Quando o regime racista sul-africano em 1947 ou 1948 expulsou Mondlane da Universidade, em que cursava com colegas como Nelson Mandela e Oliver Tambo, entre 
outros, de regresso a Lourenço Marques, no Centro Associativo dos Negros, fundou o Núcleo dos Estudantes Secundários Africanos de Moçambique -NESAM.
O NESAM funcionou como uma incubadora dos ideais nacionalistas, num momento em que muitos dos mais velhos ainda debatiam e se preocupavam em obter a cidadania portuguesa para todos, sem abandonar totalmente os requisitos para a obtenção dessa cidadania, a destrinça entre o indígena analfabeto e no limiar da selvajaria, como o colonialismo afirmava, e o cidadão. Claro que em Portugal mais de 90% dos brancos não sabiam ler nem escrever e viviam como os pretensos selvagens moçambicanos. Há que lembrar ainda que nesse tempo por manipulação colonial e inspiração do movimento nacionalista na África do Sul vizinha, as clivagens étnicas persistiam. Havia uma associação para os brancos naturais de Moçambique, outra para os mestiços e finalmente o Centro para os negros. Não há que censurar a História, há que compreender os contextos em que ela se desenvolve.
Os membros do NESAM por gente jovem, frequentando o ensino comercial, técnico e até mais tarde liceal já gozavam do estatuto de cidadania, como assimilados. Para se fazer o exame de 4.ª classe e ingressar noutros escalões do ensino, impunha-se obter o estatuto de assimilado. Então e para eles pouco ou nada dizia a cidadania lusa, tanto mais que em todos os sectores sociais e no mundo laboral a discriminação racial e salarial continuavam rigorosamente. Os jovens do NESAM abriram-se a outros debates e buscas, houve as guerras do Vietnam, Argélia, Suez, a independência do Gana. Sonhava-se então com a independência.
Entre estes jovens encontravam-se os Muthembas, Sumbanes, Simbinis, Chissano, Mocumbi, Guebuza e muitos outros. Quando a repressão se acentuou vários sofreram prisões, caso de Josina Muthemba, Adelina Mocumbi, Armando Guebuza, Margarida Matsinhe e outros que a minha memória não recorda quando ora escrevo.
Destes Chissano, Mocumbi, Machungo, Comiche, Matsinhe e outros deslocaram-se para Portugal para prosseguirem os seus estudos.
Chissano, Mocumbi, Nhambiu, Ana Simeão fizeram parte da fuga dos estudantes em 1961. Em França a eles se juntaram Fernando Ganhão, Elizabete Sequeira, António Matos, eu próprio, depois Valeriano Ferrão etc.
Este grupo cria a UNEMO-União Nacional dos Estudantes Moçambicanos, em 1962. Em Rabat, já em 1963 realiza-se o I Congresso da UNEMO, o II ocorreu em Dar-Es-Salaam em finais de 1965.
A UNEMO congregou na época os estudantes moçambicanos no exterior e em Portugal na clandestinidade, sem discriminação alguma, rácica, étnica, religiosa, regional. A UNEMO comprometeu-se a não apoiar nenhum partido moçambicano e a lutar pela unidade de todas as forças políticas, pela criação de um movimento nacionalista unido. Apoiou Mondlane, Marcelino para que se criasse a FRELIMO. Ela pugnava para que todos considerassem prioritária a tarefa de libertar a pátria e estivessem prontos a abandonarem os seus estudos, empregos e aceitassem cumprir aquilo que FRELIMO determinasse.
Há que afirmar que a ruptura com o grupo da UNEMO que se encontrava nos Estados Unidos ocorreu precisamente porque o grosso entendia que devia terminar os estudos, empregar-se, constituir família e reservar-se para ocupar os postos de direcção depois de a guerra acabar, pois que os combatentes não possuiriam qualificações académicas para os postos de comando de um Estado.
Fora dos Estados Unidos raros os que desertaram. Vindos de lá e que se uniram à causa cumprindo as tarefas, Manuel dos Santos, Boutsha Kachiputo e não me recordo de mais algum.
Da Europa, como se disse, quase todos regressaram e vieram cumprir as mais diversas tarefas, sobretudo nos campos da educação, saúde, organização da produção e comércio, relações exteriores.
A UNEMO publicava uma revista, ALVOR II que fundamentalmente duas pessoas escreviam, dactilografam, ciclostilavam e difundiam, Fernando Ganhão e eu mesmo, a partir de Paris.
Ignoro onde existem exemplares do ALVOR II, sei que o Fernando Ganhão com ele guardara, ignoro onde se estão depositados os seus espólios após o falecimento em 2008. Parecia-me bom que se valorizassem esses documentos, pois religiosamente ele guardou muito da nossa memória escrita.
Neste século XXI recapitular as nossas vivências, os inícios dos movimentos associativos estudantis moçambicanos pode servir não apenas a registar-se a História desta pátria e impedir que ela se veja deturpada, como também e sobretudo inspirar as novas gerações, contribuir para que sem oportunismos e cobardias, sem ganâncias descubram os caminhos que devem trilhar para responderem aos desafios do presente e não sucumbam perante as dificuldades. Ideias e exemplos para que a viragem não se torne uma mera voragem indecente.
  Um abraço aos que entendem e agem para que a Luta Continue.
Sérgio Vieira
P.S. Quando a Bibi na Manhiça manda um SMS para o Tininho em Vilanculos dizendo que muito o ama e o Tininho lhe informa que chegará no machibombo das 15H10, ambos ignoram que os seus SMS, telefonemas e emails ficam gravados algures nos serviços de escuta das agências de espionagem e bisbilhotice de vários países do Primeiro-Mundo. Claro que nenhum terrorista informa que a bomba deve explodir pelas 15H10 na gare central dos Caminhos de Fero de Nova Iorque. Claro que entre traficantes, terroristas e bandidos haverá códigos inócuos e ao dizer que vão operar a mamã às 15H10 significa precisamente que a bomba deverá explodir a essa hora. Fica o exercício da bisbilhotice dos serviços para justificarem orçamentos astronómicos, fica e sobretudo bem esmagado o direito à privacidade de todos os habitantes deste planeta.
Com o devido respeito saúdo e Snowden e abraço todos que se insurgem contra o reino do Big Brother,
SV
R.P.S. A comunicação social diz que o governo se queixa que camiões com excesso de peso circulam danificando estradas e pontes. Queixa-se o Governo, a quem?
Menos queixinhas por favor e mais básculas e penalizações e forçar a descarregar a carga em excesso.
Um abraço à dignidade,
SV

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