0O Brasil tem 267 milhões de aparelhos celulares em funcionamento, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Isso dá o equivalente a 1,3 aparelho para cada brasileiro. Um segmento dos mais rentáveis, da mesma forma que problemático. As operadoras responsáveis pelo serviço são alvos preferenciais das queixas de usuários, insatisfeitos com a qualidade técnica.
0É justamente aí que reside o problema. Concretizada, a transação entre as duas companhias criaria no Brasil uma gigante dona de 55,84% do mercado (a Vivo é a atual líder de mercado e a Tim, a vice-líder). Uma concentração que reduz drasticamente o ambiente competitivo do setor, justamente o que não se espera de um mercado que cobra alto por um serviço considerado de baixa qualidade em quase todos os aspetos.
0"Claramente, o que a gente vê de forma muito objetiva, é que uma empresa não pode controlar a outra", disse o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, logo após a história da aquisição chegar ao Brasil. "Isso significaria uma concentração muito grande na mão de um grupo, de mais de 50%, e a diminuição de um concorrente no mercado, o que para nós também seria uma coisa muito negativa", confessou.
0Para o ministro e boa parte dos especialistas no assunto, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deve intervir nessa operação no Brasil. Paulo Bernardo está visivelmente incomodado com a situação, preocupação que não desponta à toa.
0Apesar dos lucros contabilizados, o segmento de telefonia celular no Brasil é extremamente deficitário em sua infraestrutura. O Brasil sofre de uma falta generalizada de antenas, o que impacta negativamente na qualidade do sinal e em serviço de redes 3G, que opera com muita lentidão.
0O país tem uma média de 4,6 mil linhas de telefones móveis para cada antena de celular instalada, de acordo com levantamento realizado no ano passado pela Anatel, volume que avança muito lentamente, visto que há dez anos, a média nacional era de 2.418. Para efeito de comparação, são quase 10 vezes mais linhas por antena que no Japão e na Espanha e quatro vezes mais que nos Estados Unidos.
0É bem verdade que, motivadas sobretudo pela enxurrada de reclamações e a pressão da mídia, as operadoras investiram no primeiro semestre deste ano R$ 11,2 bilhões, uma alta de 8,7% sobre o mesmo período de 2012. Os aportes foram destinados especialmente para expansão de redes, ampliação de cobertura e melhoria da qualidade dos serviços. Mas, na avaliação dos consultores, as cifras ainda são modestas, principalmente quando se leva em conta que, de janeiro a junho deste ano, o setor gerou impressionantes R$ 111,1 bilhões em receita operacional bruta.
0Por essas e por outras, uma quase fusão entre os dois principais players de tamanha envergadura, pode e deve colocar ainda mais obstáculos nesse segmento importante. Um mercado relativamente novo da economia, mas que, por aqui, avança deixando pelo caminho uma trilha de falhas por toda sua extensão.
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