domingo, 23 de junho de 2013

SOBRE BURLAS

Vender gato por lebre constitui um crime de burla, sancionado pela lei. Um comerciante que vende arroz trinca como arroz de primeira, carne com osso como filete está susceptível de
 incorrer em multas, interdição do exercício da profissão e deverá sempre e por lei, indemnizar o cliente que tentou enganar.
Acontece que andando pelas nossas lojas compramos um pneu de boa marca, uma bateria de carro, uma peça sobressalente dita de origem e vemo-nos logrados. Venderem-nos gato por lebre. Quem sanciona?
Existem instituições públicas que o deveriam fazer, pois pagas pelos nossos impostos e que por lei, imperativo de mandato e perfil da função, a isso se obrigam. Fazem? O que nos dizem os ministérios e serviços de tutela? Quantas dessas lojas de burladores encerraram? Quantas multas aplicaram?
Com contrato ou cartão pretendemos que a telefonia móvel nos sirva. Pagamos e atempadamente, pois doutro modo nos cortam o serviço. Queremos uma internet que funcione, trabalhamos e ganhamos o pão com ela. Ai de nós se atrasamos no pagamento. Mas, quando os provedores de serviço de telefonia móvel ou internet ficam dias e dias e semanas sem serviço correcto, ficamos com o prejuízo e eles com os proveitos.
Pergunto por que razões não se sancionam esses senhores que nos burlam, porque não se dá uma compensação às vítimas? Já viram o desespero de alguém que na estrada precisa de socorro, de alguém que pretende chamar uma ambulância? Nunca morreu ninguém por falta de assistência? Não valeria mais gastar-se menos em patrocínios e propaganda e mais na melhoria dos serviços? Não se está a cometer um crime de burla? Não vendem gato por lebre?
Em muitos países uma companhia aérea que não respeita o horário, que anula e muda os voos vê-se obrigada a pagar indemnizações ao passageiro. Em Moçambique, não!
Pessoalmente, eu viajo com frequência, pelo menos duas vezes por mês. Durante todo o ano de 2013 e não vou recuar, nem uma só vez a nossa transportadora nacional respeitou o horário.
Que prejuízos sofrem os que devem participar numa reunião, num evento familiar, até um funeral? Até nos mudam de classe, pagamos uma executiva e com um bom OK mudam-nos para uma económica dixit por razões operacionais!
Ah sim, para nos reembolsarem devemos escrever cartas e cartas, correr de Seca para Meca, e no fim fica tudo na mesma. Mas, no aeroporto vemos partir o jacto que nos deveria levar, completamente cheio com passageiros dessas múltiplas transnacionais mineradoras e, aí uma horas depois, um turbo propulsor nos levará ao destino, com sorte. Deixa-se cair o nacional a favor da transnacional que paga em verdes.
Viva a publicidade. Viva a transportadora nacional! Abaixo os moçambicanos que pagam de Maputo para Pemba mais do que custa ir a Paris ou Londres via país vizinhos, claro. Venderem-nos gato por lebre. Quem sanciona?
Mas até os serviços públicos não funcionam com respeito pelo cidadão e utente, sob os pretextos mais diversos. Conhecem?
1.    O chefe está em reunião;
2.    O chefe está doente;
3.    O chefe viajou;
4.    O chefe sofreu infelicidade;
5.    Ainda não tomei chá.
Com desespero constato que se aumenta o número de instituições públicas, municípios, distritos quando ainda não se atingiu o mínimo satisfatório no já existente. Qual a razão para se aumentar quando não funciona o que por cá anda?
Duas mediocridades acrescentadas desde quando constituem o razoável? Está-se a enganar a quem? Talvez pareça bom nos relatórios para incautos, mas os moçambicanos e utentes em geral que, na pele, sofrem as calamidades, não se deixam levar tão facilmente. Ficam cada vez mais descontentes e vão murmurando, nas barracas, nos cafés, nos chapas, nas canções. As enormes taxas de não participação em eleições e nos votos espelham o descontentamento, constituem um alerta e muito sério para todas as elites do poder económico, social e político. Cuidado com o burro pacato que rebenta a corda!
Parece-me necessário que nos partidos, nas organizações sociais, nas assembleias dos eleitos por nós, nas instituições do Estado se discutissem estes problemas que vitimam o quotidiano das pessoas. Sem gente contente as elites minguam, apodrecem e caiem. Fruto podre não fica em cima da árvore, diz o nosso povo.
Um abraço e forte para o fim das burlas e sancionamento delas,
Sérgio Vieira
P.S. Caiem secretariados após edilidades. Publicamentepouco ou nada se sabe.
Fazem-se eleições nos órgãos próprios, impõem-se candidatos únicos. Caiem os únicos! Voltam a fazer-se eleições e de novo com únicos.
Os que lá estiveram declaram que os únicos receberam menos de 1/3 dos votos e estatutariamente deveriam repetir-se as eleições. Porta-vozes afirmam que se passou rigorosamente o contrário.
Em quem acreditar? Ou mentem os participantes ou mentem os porta- vozes dos únicos.
Só falta cair O secretariado, O piorzinho de todos.
Um abraço ao fim das manipulações idiotas e a quem luta contra elas,
SV
R. P.S. Parece que bastou um espirro do FMI para que os doadores da greve a mandassem parar.
Custa-me escrever, mas um abraço ao FMI,
SV
 

Sem comentários: