terça-feira, 25 de junho de 2013

Salim Idris: “Só iremos às conversações de Genebra numa série de condições” : Voz da Rússia

Salim Idris, exército livre sírio, Síria, rebeldes

Está a decorrer em Genebra uma reunião trilateral entre a Rússia, os EUA e a ONU sobre a preparação das conversações de paz entre as partes em confronto na Síria. Essa iniciativa conjunta russo-estadunidense recebeu o nome de Genebra 2, por analogia com a conferência de paz de Genebra no verão de 2012.

 A convocação da conferência, porém, está atrasada. Um dos problemas é a ala armada da oposição síria ainda não ter concordado com as conversações. Isso só agora foi feito pelo brigadeiro Salim Idris, comandante supremo do Exército Livre da Síria, numa entrevista exclusiva à Voz da Rússia.
 – Senhor brigadeiro, o governo sírio acabou de voltar a anunciar o seu acordo em participar mas negociações de Genebra, mas a oposição tarda em responder e a sua ala militar, o exército que o senhor comanda, até agora ainda não clarificou a sua posição. O senhor vai a Genebra?
  A oposição não está a atrasar nada. Nós iremos às conversações de Genebra apenas numa série de condições. A principal é a demissão e a saída do país do presidente Bashar Assad. Nós consideramo-lo um criminoso. Em seguida, que sejam julgados os dirigentes do exército e dos serviços secretos que deram ordens para matar pessoas. Por fim, para que seja criado um governo de transição com uma predominância da oposição. Em nome do Exército Livre da Síria, digo: nessas condições nós estamos dispostos a um cessar-fogo imediato na Síria e ir às conversações de Genebra.
 – O senhor brigadeiro compreende que essas condições são praticamente impossíveis de cumprir. A Rússia apresentou, em conjunto com os EUA, a iniciativa de convocar a conferência de paz Genebra 2. Porque não concordam simplesmente com as conversações e discutem lá todas as questões em disputa?
  Nos últimos anos, na Síria morreram quase 200 mil pessoas. Há cerca de 7 milhões de refugiados. As infraestruturas estão destruídas em 70%. E, depois de tudo isso, Bashar Assad afirma que é apoiado pelo povo! Isso é mentira. Ele engana tanto o vosso presidente, como o vosso ministro das Relações Exteriores.
 Se, depois de todo esse derramamento de sangue, alguém disser que está disposto a negociar com Assad em nome dos revolucionários, essa pessoa estará a assinar a sua própria sentença de morte! Assad tem que deixar o poder e abandonar o país. Nós estamos prontos para ir a Genebra, mas essa condição é obrigatória.
 – Considerando que a oposição é composta por diferentes grupos, quem deverá chefiar a delegação da oposição em Genebra?
  Se as conversações de paz se realizarem, a oposição deverá ser representada por uma única delegação chefiada por um só líder. Que os políticos decidam quem concretamente será essa pessoa. Nós somos militares e não nos imiscuimos nesses assuntos.
 – As condições prévias que enumerou reduzem consideravelmente as hipóteses de convocação da conferência. Porque deixam escapar essa oportunidade?
 – Quais são as oportunidades que Assad nos pode apresentar? Ele recebe indicações a partir do Irã, estamos convencidos que ele não pode tomar decisões de forma autônoma.
 – Há dias vocês afirmaram que receberam uma grande remessa de armas. Mas não especificaram quais e de onde vieram. Pode fazê-lo agora?
 – Peço desculpa, mas não posso, eu sou um militar e não posso revelar essas coisas, isso é informação reservada. Mas, asseguro-vos, nós começámos a receber armamento e de várias fontes. Isso poderá alterar a situação. Ainda há um mês nós estávamos a vencer em todas as frentes. O regime só foi salvo pela intervenção dos militantes libaneses do Hezbollah, que atuam às ordens do Irã. Nós já teríamos vencido o regime em si há muito tempo.
 Ao lado do governo na Síria também se encontram oficiais do Irã e militantes xiitas do Iraque. Eu estive, há várias horas, em Aleppo. No aeroporto da cidade ainda trabalham igualmente, do lado do governo, especialistas russos. Na fábrica Nº 419, de reparação aeronáutica, também. Eu próprio vi-os.
 – Como é que os viu se o aeroporto é controlado pelo governo? Com binóculos?
  Nós temos lá “olhos e ouvidos” – oficiais sírios que nos informam.
 – Conte-nos, por favor, sobre os estrangeiros que combatem ao lado da oposição. Porque vocês têm combatentes de países árabes, da Europa, extremistas do Jabhat al-Nusra e mesmo militantes da Al-Qaeda. E quanto a isso?
  Eu não posso negar a presença de estrangeiros. Mas eles constituem apenas 3% do total dos combatentes oposicionistas. Todos os outros são sírios.
 – Qual é o vosso total de efetivos?
  Posso dizer que são de 80 a 100 mil, isso não é segredo.
 – Os extremistas são um problema sério.
  Asseguro-vos que quanto mais depressa nós recebermos as armas e munições necessárias, tanto mais depressa terminaremos a guerra e esses estrangeiros irão regressar a casa. Os sírios não têm tendências extremistas. As pessoas querem regressar à sua vida normal.
 – No entanto, devido às condições que enumerou, fica a impressão que a conferência de paz de Genebra não será para breve. Qual é a sua opinião?
  Nós, pelo menos, não iremos dar ao presidente Putin e ao aiatola Khamenei o prazer de nos ditar simplesmente as suas condições em Genebra. Enquanto não recebermos o armamento e as munições necessárias para restabelecer o equilíbrio de forças no campo de batalha, nós não iremos às conversações em Genebra. Se não, iremos ter uma Genebra ditada por Putin e Khamenei. Essa Genebra não iria ter resultados.
 – Tem esperanças de recuperar, com a ajuda dessas armas, a cidade de Kuseir?
  Nós iremos, é claro, tentar recuperar tanto Kuseir, junto à fronteira com o Líbano, como as outras localidades.
 – Quando contam receber essas armas?
  Ainda é difícil dizer, nós contávamos recebê-las ainda ontem. Pode ser que isso aconteça amanhã, talvez mais tarde, eu ainda não sei quando será.
 ***
 Concluindo, as condições que o brigadeiro Salim Idris colocou tornaram evidente que a oposição aposta não tanto na conferência de paz de Genebra como nos fornecimentos de armas.

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