sexta-feira, 7 de junho de 2013

OJM: a longa marcha ao suicídio de uma geração!

Canal de Opinião 
Por: Matias Guente
 
 
 
Maputo (Canalmoz) – Os últimos acontecimentos que tiveram lugar na Organização da Juventude Moçambicana (OJM), por sinal o braço juvenil da Frelimo, o partido no poder, abrem espaço para várias interpretações, mas para uma só certeza: a direcção do partido Frelimo quer que a OJM se comporte como um fórum rural de terceira idade. Para os jovens da própria Frelimo, esta certeza pode até ser dura, mas o roteiro e a atmosfera estão preparados para que o apocalipse aconteça. E a realidade está ali nua e crua. 
A destituição de Basílio Muhate, do cargo de Secretário-Geral da Organização da Juventude Moçambicana, e a montagem (por parte de Felipe Paunde) do jovem Pedro Cossa como novo SG, acabou sendo a parte visível de um problema que quanto a mim tem raízes muito mais profundas. Prende-se necessariamente com a autonomia de exercício do poder. Não foram questões internas à OJM que propiciaram a limpeza naquele órgãos. Nem os supostos gastos exacerbados e elitismo. Foi a liberdade de pensamento. E hoje os jovens que fizeram claque a Guebuza estão transformados em lixo político!
É preciso notar que a ascensão de Armando Guebuza ao poder trouxe consigo, dentro da Frelimo, vantagem e desvantagens. Guebuza convocou mérito à ala mais basista e populista do partido e colocou todos os membros ao mesmo nível em termos de inutilidade. Em exercício contrário projectou e pregou a sua divindade no grupo, tornando-se o alfa e ómega da organização. Ou seja, Guebuza passou a ser guia inquestionável, o princípio e o fim da Frelimo. Como? Juntou-se à ala mais populista e pobre do grupo. A estes Guebuza estrategicamente deu migalhas. E como nunca tiveram ou tinham sido nada na vida (muitos porque não foram à escola, outros por incapacidade mesmo, uns poucos por azar mesmo) passaram a ver Guebuza como o Salvador. E é aqui onde reside a mestria de Guebuza: deu migalhas a quem nunca nada teve e ficou com o poder real, quer financeiro e político. Aos que foram salvos por Guebuza, foi dada uma missão claríssima: pregá-lo, exaltá-lo, adorá-lo e se for possível entregar a vida. Como estes, regra geral, não têm outra habilitação especializaram-se nisso. E Guebuza triunfou! 
Mas havia um problema muito grande que Guebuza tinha de “resolver”: a juventude, a esmagadora maioria da nossa pirâmide etária. Uma juventude mergulhada no desemprego, falta de habitação e de perspectivas. Para resolver este problema, Guebuza só teve de cobrar o investimento (de migalhas) que havia feito na ala populista
 e pobre do partido. Guebuza pediu a essa mesma ala que controlasse a juventude, num contexto de redes sociais e globalização, muito perigosos para aquilo que são os seus objectivos.
A partir daqui, estava dado um duro golpe à juventude do partido Frelimo. Os boçais, como tinham de assegurar o tacho junto da sua santidade, fizeram um trabalho muito forte junto dos jovens. O trabalho resumiu-se em incutir na mente da juventude da Frelimo, que ser jovem é ter disposição para aplaudir o líder, não questionar, estrangular os jovens da oposição, desacreditar qualquer movimento alternativo mesmo que não seja político e o mais importante: renunciar o pensamento próprio e abraçar a mentalidade de rebanho.
E prontos, sem precisar de estar pessoalmente na OJM, Guebuza e sua ala estavam a dirigir a OJM. A partir daqui, estava completa a sessão de hipnose. Os jovens da Frelimo nunca mais pensaram por si, mas, sim, passaram a ser uma manifestação pública de um pensamento institucionalizado.
Começamos a assistir comportamentos estranhos da juventude da Frelimo. A OJM abandonou o seu papel social e passou a tratar de Guebuza como assunto principal. Começaram a cantar a jatropha, a luta contra a pobreza absoluta, que depois passou para luta contra a pobreza apenas!
Vimos a juventude da Frelimo a homologar por consenso um pacto de cegueira colectiva, que funciona como sua constituição. O pacto de cegueira colectiva consiste, não necessariamente em os associados serem cegos de completo. Eles vêem! Só que vêem coisas que os outros jovens da mesma faixa etária não conseguem ver. E o mais hilariante: o que os outros jovens da mesma faixa etária conseguem ver, os jovens em pacto colectivo não conseguem ver. E se conseguem ver fingem que não viram. Implementando o pacto de cegueira colectiva, os jovens da Frelimo conseguem ver que o País está a desenvolver porque hoje muitos jovens usam celulares, porque há mais jovens como ajudantes de obras na construção civil. Não conseguem ver, ou pelo menos fingem não ver, que o País está a ser empobrecido, que as oportunidades para a mesma juventude já não existem para os que não estão em pacto. Enfim a juventude da Frelimo passou a ser um actor simplesmente irrelevante, inútil e uma vergonha social.
Só que o pacto de cegueira colectiva na sua manifestação, não torna só célebre a pobreza mental e alienação intelectual dos jovens, tem o condão de transformá-los numa espécie de adeptos de desportos radicais. Nos desportos radicais, por exemplo, a morte não é morte, é um acidente desportivo previsível e, por isso mesmo, não sentido na sua dimensão humana, mas aplaudida como sinal de entrega à causa desportiva. Os jovens da Frelimo passaram a ser fanáticos. Aplaudem tudo, tal como os adeptos de desportos radicais. Guebuza apelida aos que querem contribuir para melhoria na governação de marginais, tagarelas, órfãos de patrão, a OJM aplaude efusivamente. A governação da Frelimo não cria emprego nem habitação para os jovens, e a OJM aplaude num claro exercício de suicídio de consciência. Ficamos sem saber a tipologia desta mesma juventude. Uma juventude que não questiona, uma juventude que se encolhe no tossir do seu deus. 
Mais grave: a OJM passou a criar métodos próprios para hipotecar as suas próprias consciências junto do Santo. Os jovens da OJM começaram internamente a “caçar” possíveis críticos para entregá-los junto do todo-poderoso. Começaram a pregar a cobardia e hipocrisia a nível interno. Institucionalizaram processos com objectivo de excluir outros jovens. Por exemplo, não deixa de ser estranho que jovens potenciais líderes do amanhã prefiram organizar processos como eleições internas, que se querem participativos, em campos agrícolas, como que de uma organização de produtores de algodão se tratasse. Escolha de distritos como Changara, Caia, Muanza, Gorongosa, Nipepe, Ancuabe com o fito de dificultar a presença de outros jovens actores relevantes na sociedade, mostra a feudalização de uma organização constituída por jovens mais que persegue ideais de pessoas de terceira idade que pregam o isolamento. Não se pode ter, nem perspectivar um País com uma juventude alienada e em contrabando da sua própria consciência e valores. É preciso que a juventude da Frelimo pense para além de Guebuza e Paunde! É preciso que pense nela própria e no seu futuro! Porque a continuar como está, é o prenúncio de uma longa marcha ao suicídio de uma geração. (Matias Guente)

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