quinta-feira, 27 de junho de 2013

Obama por fim em África, um continente que terá de disputar à China

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Obama vai visitar o Senegal, África do Sul e Tanzânia JOE PENNEY/REUTERS
 
É a primeira visita pelo continente desde que foi eleito Presidente. Deslocação ensombrada pela saúde de Mandela.
É uma viagem emblemática e que África esperava desde que Barack Obama foi eleito, em 2008, mas que começa ensombrada pelo estado crítico em que se encontra Nelson Mandela. Nas três escalas, no Senegal, África do Sul e Tanzânia, o Presidente norte-americano vai falar de democracia e desenvolvimento, mas chega ao continente com poucas armas para contrariar a posição dominante conseguida nos últimos anos pela China.
Muito mudou desde a breve visita de Obama ao Gana, há quatro anos, quando um continente inteiro bebeu as palavras do primeiro Presidente negro dos EUA: "O sangue de África corre nas minhas veias, a história da minha família integra por igual as tragédias e os triunfos da história maior de África", disse, numa homenagem também ao pai, de nacionalidade queniana. A euforia que acompanhou essa breve visita esmoreceu - África foi sendo relegada na agenda de um Presidente ocupado com a crise económica, as Primaveras Árabes, os assuntos internos - e dificilmente se repetirá, apesar do entusiasmo dos países que foram incluídos na primeira viagem de Obama pelo continente.
O Senegal é a primeira paragem de Presidente norte-americano, com uma visita à ilha de Gorée e aos edifícios onde os cativos africanos eram mantidos à espera de serem mandados para a escravatura na América. Uma visita simbólica, sublinhando um pedaço comum da história dos dois continentes, mas com a escolha do Senegal a Casa Branca pretende enviar outra mensagem aos africanos. O país "é uma das raras ilhas de democracia na África francófona face a uma tormenta de golpes de Estado e ditaduras e isso foi determinante", explicou um diplomata ouvido pela Radio France Internationale.
África do Sul e Tanzânia são as etapas seguintes de um percurso durante o qual se espera que Obama insista na ideia forte que levou em 2009 ao Gana, a de que os africanos "não precisam de homens fortes, mas de instituições fortes".
A promessa de investimentos americanos no continente fará parte da agenda, mas não se espera que Obama apresente iniciativas com a dimensão das que foram lançadas pelos seus antecessores: Bill Clinton, que visitou várias vezes o continente, fez aprovar uma "lei sobre o crescimento de África", eliminando as barreiras comerciais sobre mais de seis mil produtos de 35 países africanos; George W. Bush aproveitou uma deslocação em 2003 para lançar um plano de cooperação na luta contra a sida, recordou a France 24.
Com a crise no Ocidente, é da China que parte hoje grande parte do investimento - em infra-estruturas, mas também nos sectores das minas e do petróleo - de que África precisa e que, desde 2009, faz de Pequim o principal parceiro económico do continente. Mas os EUA não querem ficar de fora da corrida pelas oportunidades económicas e pelas matérias-primas africanas e a visita de Obama pretende mostrar isso mesmo. "África é um continente onde temos de estar presentes e ficamos felizes de poder enviar, no início deste segundo mandato, uma mensagem muito forte do profundo compromisso americano", disse à AFP Ben Rhodes, o conselheiro diplomático de Obama.
Todos os planos podem, no entanto, desmoronar-se se surgirem más notícias de Pretória, onde o ex-Presidente sul-africano está hospitalizado em estado crítico. Mesmo que ele não morra, a situação clínica de Mandela ensombrará a passagem pela África do Sul, onde Obama é esperado no sábado para uma visita que incluiria Robben Island, a ilha que foi prisão do Nobel da Paz. O Governo sul-africano disse apenas que Obama não deverá visitar Mandela - com quem se encontrou uma única vez, quando era ainda um jovem senador.
A ensombrar a visita também o desagrado do Quénia por não ter sido incluído no périplo - uma decisão que se deve ao facto de o recém-eleito Presidente Uhuru Kenyatta ter sido acusado de crimes contra a humanidade pelo Tribunal Penal Internacional por causa da violência étnica que se seguiu às eleições de 2007 - e as notícias sobre os custos da viagem que, segundo o Washington Post, se situam entre os 60 e os cem milhões de dólares.

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