domingo, 9 de junho de 2013

Nostradamus

“Se queres prever o futuro, estuda o passado”– Confúcio
Michel de Nostredame, ou simplesmente Nostradamus (1503-1566), escreveu As Profecias (1555), livro constituído por vários versos que algumas pessoas admitem que contêm previsões codificadas do futuro (as Profecias de Nostradamus). Na obra, o autor previu, com rara pontaria, alguns dos acontecimentos que mudaram o mundo, como, por exemplo, a Revolução Francesa, o nazismo, o terrorismo moderno e até as convulsões na Igreja Católica.
Mas essa capacidade – a de visionar o futuro – não é exclusiva de Nostradamus. Moçambique também tem os seus oráculos. Homens com esse poder de ver o futuro com base em sinais que bastas vezes passam despercebidos para os comuns mortais. Fantástico e ao mesmo tempo assustador porque nos coloca, essa adivinhação, muitas dúvidas em relação ao nosso próprio futuro.
Algo comum, entre os visionários, é que raramente são entendidos pelos seus contemporâneos. Não raras vezes são silenciados. Lá e cá. Mais cá do que lá, diga-se…
Nos meados da década de 80, um senhor chamado Zeca Alage, saxofonista, escreveu e cantou “Mavabji” (doenças, em Português). Na letra (interpretada em changana vernacular), dizia, entre outras coisas, que: “As doenças estão a dizimar os anciãos/ e há muita agitação/ nos hospitais sofrem jovens/ há apelos, aos mais velhos, para que acabem com a praga.”
O mesmo Alage, noutro trecho, dizia: “A minha barriga está inchada/ por onde andam os médicos? / Vou morrer e deixar a família/ já sofremos com o colonialismo/ esta é a pior praga/ temos que ter cuidado.”
No início da década 90, outro artista – coincidência ou não, colega do primeiro no Ghorwane – cantou “A´kuhanha” (Viver). Gritou, na circunstância, “vejam os hospitais estão sem medicamentos / vejam os polícias a fugirem dos bandidos / vejam os portadores de deficiência a abandonarem as muletas / vejam os professores que não educam / vejam os médicos que abandonam os doentes.”
“Viver, é doloroso”, conclui Chitsondzo.
Felizmente, temos pessoas que nos avisam sobre vários eventos. Os meteorologistas, por exemplo, com recurso a equipamentos avançadíssimos, dão-nos a previsão do tempo com relativa antecedência. Coisa de dias. Agora prever o que vai acontecer passados anos, décadas, é um dom que está reservado a tão poucos. Estes, são os meteorologistas sociais.
Como se pode depreender, tanto Zeca Alage como Roberto Chitsondzo, viram, cada um a seu tempo, sinais do provir. Daquilo que, em função dos acontecimentos da época, se desenhava no horizonte. Vivemos agora essa realidade. Avisaram-nos há muitos anos. Fizemos ouvidos de mercador. Assobiamos para o lado. Fingimos que eram balelas. Que nunca iríamos – até porque somos um povo pacífico, como os Ghorwane cantaram em “Massotchwa” (soldados) – atingir níveis tão baixos. Tão rasteiros. O preço, como se pode ver, é alto demais. Há pessoas sacrificadas. Vidas se perderam e, pelos sinais, muitas outras ainda irão apagar-se. Há quem as chame “danos colaterais”. 
Não se trata de julgar a justeza ou não dos últimos acontecimentos. Nada disso. Trata-se sim de juntar alguns pedaços soltos para completar o “puzzle” da nossa existência. Do ser e estar. Da vida em sociedade. E depois, lá está: quando dois elefantes lutam, o que acontece com o capim?
Albert Einstein disse que nunca pensava no futuro porque ele não tardava a chegar. Se calhar, guiamo-nos pelo sol e não nos apercebemos da passagem do tempo. Das mudanças que ele opera nas pessoas. O menino de ontem virou homem e nem sequer nos apercebemos. O mundo gira e operam-se mudanças à velocidade da luz.
Avisaram-nos. Não ligamos. Agora vamos fazer como o velho comerciante que dizia: se me pedes emprestado dinheiro e eu recuso-me, choras. Quando to dou, não me pagas e eu é que choro. O melhor mesmo é que sejas tu a chorar…
 
 

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