quinta-feira, 6 de junho de 2013

Nas convulsões de hoje as marcas indeléveis do amanhã

Canal de Opinião
Por: Noé Nhantumbo
 
 
 
Nada acontece por acaso como todos sabemos…
Moçambique caminha para o abismo
 
Beira (Canalmoz) – Não nos acusem de pessimismo ou que sejamos aves de mau agoiro. As peças do tabuleiro se juntam e torna-se claro o que pretendem os que avançam com manobras dilatórias e de entretenimento negocial. 
As movimentações pelos eixos principais do país apontam para a existência de uma tentativa de barricar as transformações políticas. 
Numa atitude completamente desencontrada e sem paralelo naquilo que costuma ser as práticas normais de governos na arena internacional, o PR continua viajando pelo mundo quando em seu país os doentes morrem de morte anunciada. A greve dos médicos é mais um daqueles resultados de uma postura teimosa e arrogante de quem não quer governar auscultando e debatendo o país real.
Se os médicos entraram em greve e durante o tempo útil, não se viu o governo mexendo nos cordelinhos nem procurando descobrir saídas que não penalizassem nem lesassem os cidadãos, o que será de um desfecho inconclusivo e não consensual nas discussões que acontecem entre a Renamo e o governo? Uma greve da Renamo o que significará em termos práticos?
A astúcia política que alguns dizem caracterizar o PR pode ser muito perigosa para o país. Se as contas são de permanência no poder a todo o custo e se a estratégia de empurrar a Renamo contra a parede e daí declarar o estado de emergência teremos decerto guerra. Ou não será assim? Não se pode negociar de boa fé sem que as partes não estejam preparadas para ceder.
Processo de recenseamento eleitoral chamuscado de irregularidades e equipamentos problemáticos não auguram nada de bom aos pleitos eleitorais programados.
Que dizem os nossos parlamentares sobre a forma como foi aprovisionado o equipamento para o processo de recenseamento? Que dizem os habituais defensores do regime sobre o mesmo assunto? Quando se propõe a utilização de mecanismos como a moção de censura ao nível do Parlamento e precisamente para salvaguardar o interesse dos cidadãos moçambicanos.
Quem está a falhar na concepção e execução de um programa credível de recenseamento de raiz não deve receber o benefício da dúvida mas simplesmente colocado fora da máquina de administração eleitoral. Seja camarada ou não os moçambicanos não estão na disposição de entrar para um processo eleitoral ferido de lacunas e insuficiências graves.
Pertencer ao STAE e à CNE não deve ser trampolim para empoderamento económico negro ou de qualquer outra cor.
O mais alto magistrado da nação, o PR, tem obrigações inalienáveis de proteger os cidadãos, administrar a justiça e promover os mais altos valores éticos e morais.
Infelizmente por diversas vezes não se vê aquela equidistância necessária para a execução de alguns dos actos de sua responsabilidade. Aparecer profundamente ligado ao seu partido e misturando a agenda deste com a agenda do governo e do estado pesa no tipo de decisões que toma.
Pelo que pode ver e analisar o modelo de governação escolhido pelo partido no poder e sua liderança é exactamente o mesmo àquele da I República em que o partido Frelimo era a força dirigente do Estado. É como que uma cópia fiel do regime de partido único com algumas diferenças impostas pelo AGP.
É de supor que a estratégia em aplicação seja de conhecimento pleno de forças dissidentes no seio da Frelimo. Mas a balança do poder não permite que se manifestem ou que contrariem com sucesso o jogo do chefe. Perderam tempo enganando-se uns aos outros e ignorando sinais evidentes de que seu chefe jamais compartilharia o poder. Agora se lançam como cegos contra uma parede que se foi fortificando com o tempo.
As tais bases tanto proclamadas batem palmas e juntam-se nos comícios de campanha programados meticulosamente.
Quem não tem medo do actual ambiente no país joga na cegueira ou prevê vencer a todo o custo.
Multiplicam-se os sinais de esgotamento e insatisfação social sem que as autoridades governamentais consigam encontrar respostas efectivas às reclamações cada vez mais expressivas dos moçambicanos.
Apela-se à contenção e ponderação mas não se pode exigir que todo um povo se veja condenado a uma morte lenta, ao aperto de cintos sem fim enquanto uns poucos vão de banquete em banquete.
Não queremos ver o país mergulhar na instabilidade e não estamos a ver sentido de estado e responsabilidade por parte de alguns líderes políticos e governamentais.
A herança de alguns líderes de hoje será o que eles quiserem hoje.
As convulsões sociais e políticas ocorrem com frequência quando os líderes se tornam surdos e cegos… (Noé Nhantumbo)
 

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