domingo, 16 de junho de 2013

José Eduardo dos Santos: Uma entrevista irrealista e infeliz! - Patriota Liberal

 
          Cassificação 4.00 (4 Votos)
Paris - A sua Excelência o Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos, deu uma entrevista na cadeia televisiva portuguesa, SIC, difundida na passada Quinta-feira, 6 de Junho de 2013, que deixou muito a desejar.  Se tiver que responder tintim por tintim à entrevista do Chefe de Estado angolano, precisaria escrever uma ou duas centenas de páginas. Por isso resumo a dita entrevista como sendo irrealista e muito infeliz.

Fonte: Club-k.net

A Angola que o Presidente José Eduardo dos Santos descreveu não é aquela na qual a esmagadora maioria dos angolanos vive ! A Angola descrita pelo senhor Dos Santos é aquela na qual ele e os seus comparsas vivem ! Ou bem a da sua imaginação!

Cheguei exatamente há um mês de Luanda, 21 anos depois de ter deixado esta cidade. E o que vi em Luanda (o estado da cidade) deixou-me indignado a tal ponto que perguntei-me se os indivíduos que governam (ou desgovernam ?) Angola têm coração de carne ou de pedra ? Perguntei-me sobretudo se éram mesmo angolanos ? Porque nenhum angolano genuíno pode deixar o seu país e o seu povo naquele estado e naquela situação : sem saneamento básico, sem água, sem energia, lixo em vários cantos da cidade, poeira, lama, estradas esburacadas, transporte público quase inexistente…

Angola não vai ser reconstruida ou construida em apenas 11 anos de paz. Mas o que se fez nestes 11 anos de paz é muito aquém do que se poderia ter feito se somente o governo do senhor Eduardo dos Santos tivesse a real vontade de tirar o povo do sofrimento. Infelizmente ele leva uma política consistente a fazer pouco e deixar o resto para as próximas eleições. Que pena !

Tive o sentimento de que o navio chamado Angola não tem capitão e que está avançar sem rumo…ou que o capitão deste navio está adormecido !

Através desta entrevista o Presidente Dos Santos demonstrou uma vez mais que não é o Presidente de todos os Angolanos, mas sim apenas daqueles que se revêem nas suas políticas discriminatórias e que se enriquecem sob o seu longo consulado caraterizado pelo espírito de deixar andar.

Conforme é do conhecimento de todos os Angolanos, o Presidente Dos Santos não está habituado com este tipo de exercício. O fez apenas para responder à ofensiva diplomática que os líderes da CASA-CE e da UNITA levaram a cabo  ultimamente no Ocidente. 

A prova do que acabo de afirmar é que em 22 anos somente esta semana ele pensou em conceder uma entrevista ; e o seu desconforto durante a entrevista era visível. O que safou-lhe da vergonha e da humilhação foi o facto da entrevista ter sido preparada com minúcia e o jornalista conivente. O Presidente já conhecia todas as perguntas que lhe seriam colocadas.

O regime angolano que anda obcecado e tudo faz para que o mundo exterior ou seja a comunidade internacional não saiba o que realmente se passa em Angola, sentiu-se exposto com o périplo que os líderes da oposição angolana realizaram no Ocidente. Pois, nos países visitados, estes últimos explicaram em pormenores, às comunidades angolanas mas também as entidades governamentais e da sociedade civil,  todas as práticas e políticas nefastas que o regime tem levado a cabo e que perigam a paz e a estabilidade em Angola.

Para branquear a sua imagem, o regime achou melhor conceder uma entrevista no mesmo canal  televisivo no qual as suas políticas maquiavélicas foram denunciadas. Já que a motivação desta entrevista não foi a de dar a conhecer a real situação do país, mas sim a de disfarçar a verdade, a realidade dos factos em Angola, ela não foi bem sucedida. O regime imitou a oposição, mas como o produto da imitação nem sempre consegue assemelhar-se ao original, o regime falhou e cometeu faltas irreparáveis.

Assim, o Presidente da República minimizou a gravidade da situação social catastrófica do país e a eventualidade duma revolta social, tratou os jovens de frustrados e de não terem conseguido terminar os estudos ou inserir-se no mercado de trabalho, zombou com ar triunfante dos jovens manifestantes dizendo que não têm conseguido juntar mais de trezentas pessoas nas suas manifestações… E por fim respondeu, mas com muita dificuldade e sem convicção, à pergunta consistente a saber em que tipo de regime ideológico vivemos em Angola, dizendo que « vivemos numa DEMOCRACIA » ! Será mesmo ?

Todas as afirmações do Presidente da República nesta entrevista demonstraram uma vez mais que a Cidade onde ele vive é mesmo muito Alta que não consegue ver e conhecer os reais problemas que afligem o povo angolano, o povo de Angola de baixo.
De todas as afirmações e mentiras que o Presidente da República contou, a que chocou e indignou-me sobremaneira é o facto de o Presidente ter tratado a juventude de frustrados que não tiveram sucesso durante a sua vida escolar ou académica e não tiveram uma boa inserção no mercado de trabalho ; e o facto de ter dito que na sua percepção não temos o risco de instabilidade social neste momento em Angola.

Isto é prova mais do que evidente de que temos um Presidente da República com visão muito curta. Quer dizer que não vê um palmo a frente do seu nariz. O Presidente não vê a tensão social que aumenta paulatinamente em Angola cada dia que passa. O povo angolano está a sofrer imensamente e quem deve fazer algo para inverter este quadro sombrio diz que a  situação não é tão grave assim ?

Penso que o povo saberá tirar as consequências desta afirmação em 2017.

Quanto à palavra « frustração », o dicionário da língua portuguesa Porto Editora a define como sendo : « deceção », « desilusão ». E « Frustrar » como « causar deceção (a alguém) pela não satisfação de necessidade, desejo ou direito ». Mas o dicionário da língua francesa Larousse é mais explícito. Define a frustração como sendo, traduzo : « Uma tensão psicológica produzida por um obstáculo que impede o sujeito de atingir um objetivo ou de realizar um desejo, (Definição psicológica da palavra frustração). E Frustrar é definido como : « Privar alguém dum bem, dum proveito que este último pensava poder dispor ou que lhe era devido ». O verbo Frustrar é também definido como : « Dececionar uma expectativa ; enganar ».

Todas estas definições da palavra « Frustração » justificam e legitimam o sentimento da juventude angolana. Pois o governo do senhor Eduardo dos Santos no qual confiavam para resolver os seus problemas os enganou. O senhor Eduardo dos Santos e o seu governo não deram satisfação ao direito dos jovens angolanos de viverem numa sociedade onde os seus sonhos e visões podem realizar-se. Conforme reza a Constituição atípica da República imposta aos angolanos pelo MPLA do senhor Eduardo dos Santos em 2010.

Todo o ser humano nasce com desejos, sonhos e visões que quando não são satisfeitas geram um sentimento de insatisfação, de deceção que pode levar este último a agir de maneira inesperada.

Os jovens angolanos têm o ardente desejo de se realizarem, de viverem numa sociedade igualitária, mais justa, mais aberta, onde todos poderão ter as mesmas oportunidades com os demais angolanos. Mas o senhor Eduardo dos Santos instalou em Angola um regime que implementa absolutamente o contrário. Este regime antipatriótico discrimina todos aqueles que pensam diferente, que não se identificam com as políticas do governo do senhor Eduardo dos Santos, suportado pelo Partido MPLA.

A grande maioria dos angolanos vive na miséria extrema e os seus filhos, apesar de terem o desejo de estudar e trabalhar, não conseguem fazê-lo, porque o regime instaurado em Angola, depois de 27 anos de guerra civil, durante os quais os angolanos não puderam estudar, multiplicou as escolas e universidades privadas que cobram no mínimo 300 dólares americanos de propinas por mês, enquanto que o salário mínimo mensal nem chega aos 300 dólares americanos.

A guerra já acabou mas o governo do senhor Eduardo dos Santos continua investindo massivamente na defesa ao invés de fazê-lo na educação, na saúde e no setor social.A enorme taxa do desemprego fez com que mais da metade dos angolanos viva do comércio e de biscatos.

Assim sendo, o senhor Eduardo dos Santos, através do seu governo e das suas políticas nefastas e antipatrióticas impediu a realização dos sonhos destes jovens. Comprometeu o futuro de milhares de jovens angolanos que se encontram abandonados à sua sorte, e vendendo em quase todas as artérias da cidade para poderem viver dignamente !

Muitos dos quais hoje poderiam ter-se tornado médicos, arquitectos, advogados, engenheiros, padeiros, pasteleiros, electricistas…se somente o regime angolano e o seu chefe não fossem excluídores e egoístas.

Enquanto que os filhos do senhor Eduardo dos Santos e os dos seus comparsas estudaram e estudam nas melhores escolas e universidades do Ocidente e se tornam multimilionários (uma deles bilionária) em apenas alguns anos sem terem trabalhado duramente.

Apesar disso, o Presidente angolano ao invés de fazer o seu mea culpa, permitiu-se tratar-nos, nós jovens angolanos, com desdém dizendo que somos jovens com certas frustrações por não termos tido sucesso durante a nossa vida escolar ou académica ! Que impertinência, que arrogância, que malvadez senhor Presidente !

Tenha isso em mente, senhor Presidente, o senhor é a maldade dos angolanos e o arquitecto do futuro incerto de muitos jovens angolanos. O senhor confiscou o nosso futuro e além disso tem a audácia de tratar-nos de malandros e vadios ?

Eu pessoalmente assumo que ando frustrado com a sua governação por ser má, egoísta, insensível, nociva, nefasta, sem visão…para o nosso país.

A minha frustração resulta do facto que o senhor nos retirou o direito de termos uma nação linda, limpa, unida, solidária, fraterna, mais justa, igualitária, democrática…desenvolvida !        O senhor retirou-nos o direito de vivermos como seres humanos numa sociedade com condignas condições de vida. Hoje os angolanos, nomeadamente em Luanda, vivem como se fossem uma manada de porcos numa lixeira à ceu aberto. Quase toda cidade de Luanda está cheia de lixo. Tudo isso porque o senhor não se importa e nem escuta os gritos de socorro do povo que pretende governar.

Temos todo o necessário para sermos uma grande nação respeitada no mundo inteiro. Mas este desiderato não se concretiza porque falta-nos um líder visionário e patriota à frente dos destinos do nosso país.

O senhor não é este líder que todos os angolanos almejam e não quer também deixar os angolanos que reúnem estes requisitos dirigirem o país. O senhor tomou Angola e os angolanos como reféns e não deixa o país avançar.

E quando os jovens que sentem na pele os sofrimentos causados pelas políticas egoístas e insensíveis praticadas pelo seu regime os manifestam o senhor manda a Polícia Nacional violentá-los ! E se permite de zombar deles. E em seguida fala de diálogo com a juventude. Com qual juventude senhor Presidente ? A da JMPLA ? Só eles são angolanos e seres humanos que aspiram a uma vida melhor ?

O que está a fazer o jovem Emiliano Catumbela nos calabouços do regime ? O que ele fez de grave ? O crime do que é acusado é de ter participado numa simples vigília ?

Exigimos a sua incondicional libertação. Porque se estas prisões arbitrárias continuarem, nós jovens angolanos na diáspora, frustrados com a governação do nosso país, iremos tomar medidas que se impõem !

Com todo o respeito que lhe devo, permita-me Excelência, dizer-lhe numa só frase que a sua entrevista revela a crueldade, a maldade, a hipocrisia política, o egoísmo, a insensibilidade e a gritante falta de conhecimento  dos reais problemas que afligem o povo angolano.

Em suma, o senhor devía deixar estar esta entrevista ou refletir numa outra resposta a dar a ofensiva diplomática da oposição. Porque, francamente ela foi irrealista e infeliz !

Queira por favor compreender, Excelência, a minha frustração, mas o seu atrevimento foi longe demais !

Sem comentários: