segunda-feira, 10 de junho de 2013

Cavaco: «bomba atómica» só deve ser utilizada em situações «muito especiais»

Presidente da República em entrevista

Por: Redacção / CM    |   2013-06-10 23:15

 
O presidente da República considerou que apesar da austeridade e do elevado desemprego «não há desestruturação social» em Portugal.

«Apesar da austeridade, famílias em risco de pobreza, grande desemprego, vale a pena sublinhar que se mantém a coesão nacional, que não há desestruturação social no nosso país», afirmou o chefe de Estado, durante uma entrevista de cerca de meia hora na RTP.

E, acrescentou, além de «não existir fragmentação social», o povo português tem manifestado um «grande sentido de responsabilidade».

Contudo, reconheceu, «é fundamental que os sacrifícios sejam melhor distribuídos».

Na entrevista, o chefe de Estado voltou também a falar do período pós-troika, reconhecendo que se Portugal tiver de renegociar a dívida é porque «as coisas correram mal». «E então eu não tenho dúvidas que nós passaremos dias piores do que aqueles que estamos a passar neste momento», admitiu.

O chefe de Estado escusou-se, contudo a fazer uma comparação entre a situação atual e aquela que se vivia há dois anos, mas lembrou que os credores de Portugal dizem que a dívida é sustentável.

«Estão convencidos que Portugal conseguirá no futuro gerar produção para pagar os juros e para pagar os empréstimos», sublinhou Cavaco Silva, gracejando que não será ele a dizer coisa contrária.

Sem querer falar da ação concreta do Governo, notou que de uma forma crescente o executivo tem vindo a reconhecer que ao lado das contas públicas é necessário colocar o relançamento da economia e a criação de emprego.

Por outro lado, acrescentou, o maior partido da oposição, até pelos encontros que tem realizado nos últimos tempos, «reconhece que é necessário estabelecer compromissos para o futuro».

Apontando o relançamento do investimento como essencial para Portugal reencontrar o caminho do crescimento económico e da criação do emprego, Cavaco Silva voltou a insistir na necessidade «encontrar formas mais fáceis e mais baratas de financiar em particular as pequenas e médias empresas».

E, nessa questão, também há responsabilidade do Banco Central Europeu, que devia fazer algo mais para que o crédito fosse concedido em condições mais favoráveis.

A «magistratura de influência» foi igualmente tema abordado, com Cavaco a insistir na necessidade de o presidente da República atuar com «muita ponderação, muito bom senso e com sentido nacional, verdadeiro sentido nacional».

Cavaco Silva reiterou igualmente que o chefe de Estado «não governa e não é responsável, nem tão pouco co-responsável pelas políticas do Governo», cabendo à Assembleia da República «vigiar» o Governo.

«O Governo não responde politicamente perante o presidente da República, falta de confiança do presidente da República não é razão suficiente para o presidente eventualmente dissolver a AR», repetiu, sustentando que a chamada «bomba atómica» só deve ser utilizada em situações «muito especiais».

«Eu já disse publicamente mais do que uma vez, por toda a análise cuidada e profunda que tenho feito, chego sempre à conclusão, juntando toda a informação que recebo de outras entidades internacionais que se nós tivéssemos uma crise política em Portugal, na situação que nos encontramos, os portugueses ficariam numa situação muito pior», insistiu.
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