sexta-feira, 7 de junho de 2013

Africa Monitor: Análise

www.africamonitor.net
Ano VIII – Fundado 14.Mar.2005
Nº 760 o04.Junho.2013
Editor: Xavier de Figueiredo
Breves
» Em editorial de pendor crítico dedicado ao tema dos investimentos angolanos no sector da comunicação social em Portugal, o semanário Agora, 01.Jun, refere que “governantes angolanos, associados a  banqueiros, acabamde comprar (...) a Controlinveste”. A figura usada para identificar os compradores foi considerada uma referência indirecta ao Vice Presidente, Manuel Vicente, e a Carlos Silva, PCA do BPA, duas personalidades que o Agora(AM 747), desde a sua passagem para o chamado Grupo Madaleno(AM 736), trata com alegada acrimónia. Em 04.Juno jornal i, de forma indirecta também ligado ao  Grupo Madaleno, identifica o empresário angolano António Mosquito(AM 728)como accionista maioritário de uma sociedade de capital de risco, apresentada com compradora da Controlinveste. Em 2012(AM 707), a Controlinvesteesteve em vias de ser comprada pela Newshold, mas a operação gorou-se.
» O director do Gabinete de Informação (Gabinfo), Moçambique, Ezequiel Mavota, terá instruído a  RM e TVMa não procederem à recolha de declarações dos animadores do movimento grevista dos médicos, em especial do presidente da respectiva associação sindical, Jorge Arroz. RM e TVM são os dois mais importantes ocs do Estado; a atenção que prestaram ao assunto, inclusive por alturas da detenção de J Arroz, foi ezígua. O Gabinfo é o organismo que na Estrutura do Estado absorveu algumas funções do extinto Ministério da Informação. E Mavota, jornalista, foi, antes, responsável editorial da RM.

Angola: JES dá rara entrevista televisiva
Pesquisa
José Eduardo dos Santos (JES) temprevista para hoje, 04.Jun, uma entrevista televisiva ao jornalista free lancer Henrique Cymerman. A anuência de JES à sugestão da entrevista terá sido determinada pela oportunidade associada à mesma de contraditar afirmações/acusações nefastas para si próprio e para o regime, ultimamente feitas no estrangeiro por personalidades angolanas e outras. No juízo de altos funcionários do gabinete presidencial, os referidos pronunciamentos, incluindo entrevistas de Isaías Samakuvae Abel Chivukuvuku, nas recentes viagens de ambos ao estrangeiro, fazempara de uma “campanha política e de imprensa” visando desgastar a figura de JES e assimabalar o regime. A entrevista de JES a H Cymerman esteve prevista para 28.Maio, mas comprometeu-se por razões não devidamente apuradas; o jornalista chegou mesmo a deixar o país, mas regressou em 03.Jun, desta feita com a garantia de que a entrevista seria concedida. Em 31.Maifoi assinalada uma reunião na PR destinada a apreciar o assunto, para a qual foi convocado o MCS, Luiz de Matos. H Cymerman, profissional conceitado, trabalha em regime livre para importantes ocs internacionais, caso da SIC, da qual é correspondente em Israel. Supõe-se que a SICé uma das televisões internacionais em que há maior interesse na emissão da entrevista.

Moçambique
Crise Renamo
1 .A maleabilidade acrescida que as autoridades de Moçambiquepassaram a observar (AM 759) na sua conduta face à crise gerada pelo chamado “acantonamento”na Gorongosa do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, suscitou em meios competentes apreciações como as seguintes:
- Começou a ser notada, de forma nítida, após o “incidente”de Muxungué – factor considerado determinante.
- Outros factores influenciadores: ausência e/ou tibieza de apoios internacionais à conduta até então mantida pelo Governo;surgimento de críticas internas, inclusive no próprio regime. Na esteira do “incidente”de Muxungué o Presidente Armando Emílio Guebuza (AEG) dispôs-se finalmente a receber Joaquim Chissanopara uma conversa sobre a crise, solicitada por este, e o seu emissário nas conversações com a Renamo, José Pacheco, passou a denotar superior boa vontade negocial.
Após o segundo “incidente”,na Gorongosa, foram libertados todos os militares da Renamo detidos antes, em Muxungué, e aventadaa possibilidade de o Governo estar a preparar uma alteracao pontual da Lei Eleioral, por forma a atender à reivindicacão da Renamo de estabelecimento de uma regra de paridade na composição da CNE.
2 .O desprimor operacional com que a FIR, uma força especial da  Polícia, se comportou em duas escaramuças armadas com a Renamo, Muxungué e Gorongosa, transmitiu uma ideia de fraqueza do Governo, que o mesmo, movido pelo intuito de evitar “impactos” sociais e políticos negativos, tratou de ocultar/dissimular. Na perspectiva das autoridades, uma evolução da situação baseada em elementos como as demonstrações de fraqueza da FIR,combinada com a tibieza de esperados gestos de apoio ou boa vontade da comunidade internacional, tenderia a fragilizar o Governo e, eventualmente, a diminuir a sua capacidade de controlo da situação.
Em ambos os recontros a FIRsofreu 26 ou 34 baixas, conforme versões da Polícia ou da Renamo, contra apenas uma baixa do lado desta. O facto de ser atribuída à FIR a iniciativa das refregas e de a mesma dispor de blindados de rodas Kasperpara sua protecção, agrava o seu comportamento.
Além da FIR (Força de Intervenção Rápida),estaciona na Gorongosa um destacamento do GOE (Grupo de Operações Especiais), também da Polícia (AM 712) assim como força de reserva à ordem do EMGFA, constituída por uma unidade de “Comandos”do Exército – até agora inactiva.
3 .A evolução da crise gerada pelo “acantonamento”de A Dhlakama deu também lugar a um despertar da oposição interna a AEG, que assim saiu do estado de “adormecimento”em que se encontrava desde o último congresso da Frelimo (AM 699); a atitude do Governo e de AEG face à crise é alvo de objecções.
As correntes internas adversas a AEG viram na actual conjuntura uma oportunidade de ajuste de contas com o mesmo, também “justificado”pela convicção de foram marginalizadas (AM 752), no acesso a vantagens para a elite política da exploração próxima de recursos como o gás natural e outros minérios 4 .A atitude neutral que a comunidadeinternacional tem vindo a observar no acompanhamento da crise em Moçambique (condicionada por posições afins dos EUA, União Europeiae países do chamado grupo nórdido do G 19), está baseada em factores como os seguintes:
- Conveniência de evitar que a presente crise degenere em instabilidade potenciadora de danos como o comprometimento de grandes investimentos.
- A Renamotem razão nalgumas das suas queixas (AM 717), embora a forma de protesto que seguiu não tenha sido a mais adequada.
- É útil a uma melhor distribuição da riqueza, capaz de minimizar a pobreza, que a Frelimoe o seu rgime sejam gfiscalizados por uma posição forte.
A principal reserva do G 19em relação ao Governo prende-se com a corrupção – que se julga facilitada pela hegemonia política da Frelimo. A exploração de recursos naturais de mais alto valor, gás natural e minérios, dará azo a um alastramento do fenómeno da corrupção, se a Frelimo “for deixada à sua mercê”.
Mogens Pedersom, embaixador da Dinamarcae presidente do G 19, fez recentemente declarações públicas incisivas em relação à corrupção no Estado (referência a casos concretos) e aos seus efeitos perversos na sociedade. Donativos do G 19constituem ca de 60%das receitas oerçamentais.
5 .A Dhlakama é favorecido pela ideia deque desempenhou um papel de genuína cooperação com a Frelimona pacificação do país, a que se juntam agora informaçõers segundo as quais tem estado a resistir a pressõesinternas para enveredar pela violência como meio de lidar com “humilhações e provocações do Governo”.
Embaixadas em Maputo têm feito sentir a A Dhlakama que deveria abandonar as montanhas em que se encontra “acantonado”desde 15.Out.2012(AM 703), para dialogar com a AEG. As reservas que tem apresentado têm sido consideradas “compreensíveis”por parte das mesmas embaixadas.
As pressões internas sobre A Dhlakama, provenientes de antigos comandantes da guerrilha da Renamo, são também alimentadas pela ideia de que o chamado diálogo com o Governo constitui um “entretenimento”destinado a permitir a este “ganhar tempo e desgastar a Renamo”.
6 .A mudança de atitude verificada no Governo não poderia, tendo emconta realidades da política moçambicana, ter sido posta emmarcha sema iniciativa ou o beneplático de AEG. O representante do Governo nas conversações coma Renamo, José Pacheco, tem estreitas ligações pessoais e políticas a AEG.
O ponto de vista dos analistas é o de que AEG atendeu coma nova flexibilidade a “sugestões”que lhe terão sido feitas no plano regional e internacional, e tentou esvaziar umclima de descontentamento face ao regimeque se manifesta emdiversos meios da sociedade e emalas do regime.
7 .A Renamo está a preparar para breve uma reunião do seu Conselho Nacional(CN), emprincípio 12/14.Jun, na vila da Gorongosa. A par dos 100membrosdoCN,também deverão participar na reunião outros quadros da Renamo, tais comoos 128delegados distritais – no total cade 400pessoas.
Ciente de dificuldades logísticas que teráde enfrentar para organizar a reunião, na verdade uma espécie de Congresso, semessa designação, a Renamoprepara a criação de condições destinadas a compensar a ausência de facilidades que habitualmente lhe são negadas por “instruções”ao mercado oriundas da Frelimo.

FIM

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