quarta-feira, 12 de junho de 2013

A riqueza do director do projecto

Elisio Macamo
Termino a minha pequena incursão pelos meandros da análise política nacional com uma explicação:

A riqueza do director do projecto

O director do projecto, que é funcionário do Ministério da Saúde, mas foi para o projecto em comissão de serviço, mudou-se para o distrito e ocupou uma casa paga pelo projecto (segundo os termos de referência do projecto). Antes de entrar para o projecto tinha partic...ipado numa consultoria, também legal, que lhe rendeu cerca de US$17.575,00. Arrendou a sua casa em Maputo a estrangeiros (cooperantes) para a qual cobrou uma renda muito alta (que é característico de Maputo), o que lhe permitiu contrair um empréstimo (apesar dos juros altos da banca luso-moçambicana) para a compra da vivenda do condomínio (que também alugou a uma embaixada); como o projecto lhe deu uma “4X4”, ele deixou o seu carro pessoal com um sobrinho que fez serviço de táxi (com o salário do projecto, em dólares, comprou um “chapa” “dubaizinho” para fazer transporte público de longo curso); a sua mulher começou a comprar galinhas e cabritos (baratíssimos lá na zona do projecto) para vender em Maputo, comprou um refrigerador para fazer gelo-doce e vender à miudagem na EP2 local, ao mesmo tempo que usava algumas das receitas para fazer pequenos empréstimos à comunidade (micro-crédito) em troca de juros (os camponeses riam-se dela dizendo que tinha enriquecido na base da venda de gelo-doce). Em várias conversas com ele e com alguns dos membros do projecto ficou claro que a sua riqueza não vinha do desvio de fundos, mas sim duma boa aplicação dos pequenos investimentos que ele (e sua mulher “manhembane”, peço desculpas...) foram fazendo. Curiosamente, em várias ocasiões ele tirou dinheiro do seu bolso para tapar furos (roubos dos guardas e o desfalque causado pela falência do fornecedor de redes mosquiteiras). Os 30% que ele não consegue justificar referem-se a despesas resultantes de preços mais altos do que os previstos inicialmente, dos atrasos nas obras e outros serviços que implicaram sempre mais gastos suplementares. O que ele não pode justificar é o que os doadores não previram como despesa e, por isso, ele não tem como digitar no “software” financeiro que os doadores impuseram. Ele tem todos os recibos que documentam essas despesas. A sua riqueza não tem muito a ver com os 30% em falta.
Porque é que tenho a impressão de que tiramos conclusões apressadas? Porque é que tenho a impressão de que como o director do projecto há muitos que são apenas vítimas de maneiras simplistas de pensar problemas complexos na Pérola do Índico?
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  • G Do Amaral Não há fumo sem fogo...o adagio popular nunca falhou...as vezes simplesmente sentimos o cheiro do fumo sem saber de que lado veio, trazido pelo vento...e como dizem os espanhóis: pense mal e acertaras... para dizer que na pérola do indico, a cultura de procurar culpados esta muito mais sedimentada do que a de procurar entender os problemas na sua complexidade...espero estar pensando errado!!!
  • Jr Chauque Bonita conclusao,tns razao n é facil hje emdia o sistema ensinou-nos a dscmfiar de todos pk roubram demais ou melhor xtam a roubar dmais,parabens p ele k usa a kabexa n o bolso.
  • Dino Nhangac Digo que numa situação em que ele tem documentos de suporte para despesas efectudas, ele deve apresentar e ilibar a sua imagem de qualquer culpa. Mas se surgiu uma diferença em relação ao orçamento, significa que teve uma aplicação indevida de fundos colocados à sua disposição, e ai sim, digo que não há fumo sem fogo. E mais, separação entre riqueza obtida durante e antes do projeto é justo...mas final sempre leva a suspeita de aplicação de fundo alheios na riqueza pessoal. E pode Sr. Elísio imaginar o que acontece quando o indivíduos apresenta um orçamento onde a satisfação do doador é feliz e tem que ser devolvido excesso de valor aplicado para além do orçamento por este mesmo indivíduos com base em fundo próprio?
  • Paulo Simbe Director do projecto i flexivel e nteligente na gestao do patrimonio privado-pessoal. E na gestao de coisas publicas?
  • G Do Amaral O certo e' que rico ou não...a Malária continua ai..matando!!! eu não gosto mesmo e' desta apologia a ajuda externa...sinceramente isto enfraquece nossa criatividade na resolução de problemas... queria mesmo e' que todos que participaram deste projeto ficassem livres da pobreza e junto com ela mandassem embora a malária..afinal essa era a ideia principal...Ricos ou não...queremos resultados!!
  • Rui Borges Um dia no futuro... se os princípios e a idoneidade passarem a ser uma prática e as ajudas foram canalizadas devidamente, ou então, as ajudas cessarem, cessando as tendências de corromper e ser corrompido.
  • Paulo Goque Para quem conhece Moçambique e principalmente no interior percebe que nao existem condiçoes para uma contabilidade organizada, razao pela qual o director do projecto nao tem certos justificativos sob forma de documentos fisicos. O facto dele ser ditector de projectos nao implica que nao possa ficar mais folgado financeiramente! Ele esta folgado porque tem visao e aplica os seus recursos em investimentos. Somos im pais que importa tudo e mais alguma coisa, e por consequencia sofremos os efeitos da inflaccao, taxas de cambio etc. Qdo se fala de que os 30% sao resultado de preços acima do orçamento, ele ja justifica! A nao ser que ele nao tenha documentos justificativos!
  • Paulo Goque Falo aqui sob o ponto de vista de um homem de finanças que e a minha area de actuação!
    Tiramos conclusoes precipitadas porque o Moçambicano nao esta habituado ao sucesso do proximo, e um um autentico carangueijo e nao arrisca para colher. O Moçambicano prefer um "job" no ministerio das finanças porque e garantido, e nao quer arriscar num projecto que em 5 anos lhe da o rendimento equivalente a 20 anos no estado e depois aplicar esse rendimento em negocio!
  • Joao Carvalho A maior defesa é a prova!!! se provou seu enriquecimento ''LICITO'' faça-se jus a licitude das facturas que dispoe, e so coloquei virgulas altas na semantica LICITO porque ficou ambiguo na pragmatica seguinte: ''A sua riqueza NÃO TEM MUITO A VER com os 30%''. Ora diz-me a razão que, se a coisa não tem muito a ver, tem sempre alguma coisa a ver... Uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo, segundo a mesma perpectiva! Ou é ou não é.
  • Gervasioa Absolone Chambo Tatata lweyo i sarangani "Esse senhor e' malandro". Zaida e Carlos Lhongo cantavam: amunhu ungamutsembi, svitlula kutshemba gwana "Antes confiar o cao que o homem".
  • Rui Borges Quem conhece Moçambique, também sabe que as despesas com recursos humanos nesses projectos ultrapassam os valores mínimos aceitáveis, ou seja se estou a colaborar num projecto de ajuda para a minimização de qualquer coisa, porque razão tenho que receber o salário de funcionário público e ainda outro, por norma mais chorudo, como coordenador disto ou daquilo! Não estou a chamar ninguém de desviar ou ser desviado, estou a falar das tentações de em vez de estar a servir, vou mas é servir-me!
  • Gervasioa Absolone Chambo Na verdade os projectos comunitarios nao deviam proporcionar salarios senao ajudas de custos a propria comunidade. Se bem entendi, o projecto do qual Elisio Macamo nos conta em partes que nos fazem chorar, estava destinada a comunidade. O tio coordenador, esta fora ou dentro da cela? Como terminou o caso?
  • Antonio A. S. Kawaria Desta conclusão caro Elisio Macamo: nas empresas do sr. director-empresário não há quebras, só há sucesso, prosperidade, melhores resultados, sinal de boa gestão. No projecto, há quebras, 30% sem justificação e pior ainda sem resultados plausíveis, no combate à malária, sinal de má gestão e talvez má assessoria. Isto já me parece aquilo que é frequente no nosso país, maus gestores das empresas e instituições públicas e bons das suas próprias empresas. E as primeiras não são vítimas das últimas?
  • Manuel J. P. Sumbana A liberdade e fjexibilidade que um gestor tem na gestào dos seus assuntos pessoais é superior å que tem na gestäo da coisa pública. É lógico que seja mais eficiente na gestâo dos negócios privados do que num projecto com varios 'stakeholders, e 'penduras'.

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