sábado, 22 de junho de 2013

“A mobilização popular é muito importante para catalisar as mudanças” : Voz da Rússia

                            

As manifestações e protestos no Brasil não se acalmam já há vários meses, se espalhando por todo o país.  Hoje, centenas de milhares de brasileiros em todo o mundo estão indo às ruas protestar.

 Por que tudo isso ocorreu agora? Qual foi a última gota de água? Por que tantas pessoas se juntaram e que objetivos eles tentam atingir? Em entrevista exclusiva à Voz da Rússia, Maíra Araújo, testemunha ocular dos acontecimentos, moradora em Salvador, responde a essas e outras perguntas.
 – Maíra, diga por favor, o que você acha sobre a situação em geral?
 – Um dos "slogans" da campanha dos manifestantes é "o gigante acordou". Estamos cansados, o Brasil é um país enorme, cheio de potencial, uma economia que cresce forte, mas nada da riqueza é revestida para a população, em melhores condições, para vivermos mais dignamente. Estamos no meio da Copa das Confederações e vemos bilhões de reais sendo gastos em reformas de estádios, enquanto esse mês, em uma cidade do Brasil, vereadores conseguiram aprovar a redução do salário dos seus professores municipais. É muito absurdo isso, esse privilégio para um evento pontual em detrimento de investimentos em algo tão essencial no desenvolvimento do nosso país, que é a educação. A violência, a corrupção, o trânsito caótico nas grandes cidades, a inflação, tudo isso vem desgastando a população ao longo dos anos e as pessoas sentiram que agora basta, algo precisa ser feito e já.
 – Na sua opinião, por que surgiu essa situação? Que erros do governo levaram a ela?
 – Acho que a gota d'água foi o aumento das passagens de ônibus em várias capitais do Brasil este ano, mas estamos vivenciando tantas coisas absurdas (há um deputado brasileiro chamado Marcos Feliciano que foi eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos e defende a "cura gay") e não nos sentimos ouvidos por nenhuma parte, por isso surgiu a necessidade de ir para as ruas protestar. Acho que o governo errou na forma de tentar controlar as manifestações, usando toda a força bruta da polícia contra as pessoas que participavam e até mesmo jornalistas que cobriam o movimento, mas que acabou sendo positivo pois as manifestações deixaram de aparecer na televisão como "ação de vândalos é controlada pela polícia " para "polícia truculenta atira balas de borracha em manifestantes e membros da imprensa". As pessoas de casa passaram a apoiar as manifestações e muitas foram às ruas também, em solidariedade.
 – Não é nenhum segredo que manifestações das ruas raramente dão os resultados exigidos e esperados. Quanto ao Brasil, que podem trazer essas manifestações? Reagirá ou não, na sua opinião, o governo e as autoridades às exigências do povo?
 – Ainda não sei, mas eu espero que possamos ver mudanças urgentes na área de mobilidade e segurança. Salvador, onde eu moro, tem em torno de três milhões de habitantes e as pessoas passam de duas a quatro horas no trânsito todos os dias, seja dirigindo em seus próprios carros ou dentro dos ônibus acabados e caros que temos. As ruas da cidade, por conta das constantes chuvas e da parca qualidade do asfalto, estão completamente esburacadas e nada é feito. Toda semana escuto histórias de pessoas próximas a mim que foram assaltadas dentro de um ônibus. É difícil pagar caro em tudo e ainda assim viver nesse clima de medo e cansaço, é preciso corrigir isso e agora.
 – E você apoia os manifestantes?
 – Com certeza! Apoio os que fazem manifestações pacíficas, porque a mobilização popular é extremamente importante para catalisar as mudanças que queremos ver. É preciso gerar esse desconforto, essa tensão, para que os nossos políticos passem a fazer os nossos votos valerem, defendendo os interesses da população e não os seus próprios.
 – Como os protestos ocorrem na sua cidade?
 Já tivemos aqui em Salvador vários protestos essa semana, na segunda-feira, que reuniu dez mil pessoas no centro financeiro da cidade e na quinta-feira, uma passeata em torno do estádio de futebol, onde jogaram Uruguai e Nigéria, que reuniu mais de 20 mil pessoas.

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