segunda-feira, 24 de junho de 2013

“38 anos de independência e 20 anos de Paz em Moçambique”: Que independência? Que Paz?

Pensamento de: Vasco Muchanga

Ouvimos durante semanas anteriores na comunicação social, frazes tais como: “celebra-se no próximo dia 25 de Junho, os 38 anos de independência de Moçambique”. “ Também vamos ouvir que celebra-se no proximo dia 4 de Outubro, os “21 anos da Paz de Moçambique”. Mas diante dessas convições, várias questões podem ser levantadas: Quem celebra os 38 anos de independência? Que tipo de independência é celebrada? Onde é celebrada essa independência? Que Paz celebramos volvidos 20 ou quase 21 anos depois do Acordo Geral de Paz? É verdade que todos almejamos a independência e a Paz. Mas será que todos sabemos ou temos a mesma consciência sobre a independência e a Paz que almejamos?
Em algum momento da história do nosso Pais experimentamos os mesmos sentimentos, pensamentos e nos unimos para agir na mesma direcção, sobretudo para lutar contra o jugo colonial. Nessa altura, o Povo Moçambicano decidiu organizar-se em 1962 e formar a FRENTE DE LIBERTAÇÃO DE MOÇAMBIQUE (FRELIMO) a partir de três Movimentos (UDENAMO, MANU, UNAMI) para lutar contra os colonos. O sentimento, pensamento e acção éra harmoniosa. O nosso desejo era de facto a independência, a liberdade e a Paz, como valores centrais sobre as quais pretendiamos recosntruir e construir o nosso País. Mas aliado a esses valores, havia a ideia do ser humano como valor central, no qual não aceitamos a humilhação, opressão entre os Homens, no sentido de que nenhum ser Humano estaria acima do outro ser Humano. É preciso reconhecer que este projecto inicial foi muito importante pois, ela basea-se na valorização do Homem e no repúdio de todas as formas de descriminação e violência contra o Homem, neste caso, os brancos ou colonos sobre os Moçambicanos.
Mas com o fim do colonialismo oficial em 1975, não tardaram as revendicações e divergências. Dentro do movimento que outrora se intitulou de ser uma Frente para Libertar o Povo Moçambicano do jugo colonial oficial, nascem as alas e descórdias.
A independência e a Paz a séculos almejada, ainda que seja em sonhos de sofrimentos, não tardou a se tornar uma ilusão. Pouco tempo depois de 1975, começaram a manifestar-se e exteriorizar-se. Se por um lado nasceu o grupo que acreditou pretender continuar na ideia de ser uma frente para continuar a libertar o povo Moçambicano (mas desta vez, parece mais complicado afirmar categoricamente sobre que pretestos ou objectivos comuns), por outro lado, nasce um grupo do povo Moçambicano que se intitulou também de uma frente, mas desta vez, esta, acreditou pretender resistir (agora fica complicado também dizer, sobre o quê ela pretende resistir.
Se é verdade que com assinatura do Acordo Geral “38 anos de independência e 20 anos de Paz em Moçambique”: Que independência? Que Paz? da Paz em 1992, na Cidade de Roma e que, com isso, se acredita que a “guerra civil” parou e as “armas de fogo” silenciaram-se em Moçambique, também é verdade que, desde 1992, o povo Moçambicano têm experimentado novas formas de guerra civil, embora não mais com as armas de fogo, ainda que de vez enquando elas sejam usadas para “manuntenção da paz”.
É verdade que a guerra civil de armas de fogo parou (este texto foi enviado á Redacção do Cm na noite do dia 20 de Junho de 2013). Se não, pelo menos podemos concordar que ela amenizou ou encontra-se no estado latente, cujas suas piores formas de manifestação encontraram um amuleto, embora não seja ainda para sua mutilação ou total eliminação, mas, como virus de HIV/SIDA, ela encontrou o seu Anti-rotroviral. A luta continua e as divergências manifestam-se em todos os lados no debate sobre as suas causas e soluções.
Talves seja importante estarmos conscientes de que toda a guerra civil não é necessariamente de armas de fogo e as suas causas ou soluções não são necessarimente, a existência de armas de fogo. A guerra civil , em todas sociedades, ela está ligada a raízes ou causas mais profundas e sociais, políticas, económicas, culturais e aos problemas e divergências a estes subjacentes. Hoje vivemos uma nova forma de guerra civil. A origem da guerra civil não está nas armas de fogo, de tal forma que, a independência, a liberdade e a manunteção da paz, não se conquista com as armas de fogo. A violência gera violência, de tal forma que, não se pode produzir paz, onde a intolerância das diferenças produz o medo. Porque o medo de perder o conforto produz arrogância, o virus da altura e consequentemente, a violência.
De que independência podemos falar numa sociedade onde, os indivíduos não têm a liberdade de reclamar os seus direitos ou se o fazem, fazem-no também de forma humilhante e com arrogância? De que independência podemos falar, se os pobres são retirados a sua principal fonte de sobrevivência (a machamba) e reassentados em condições absoletas?
De que independência podemos falar, se entre nós reina a caça entre os Homens e a competição, onde a lei do mais forte é que alimenta o jogo das nossas relações económicas, sociais, políticas e culturais? De que independência podemos falar, numa sociedade onde, muitos indivíduos não tem escolhas, apenas “chances” para um emprego, uma profissão de sobrevivência sem vocação? Como podemos falar da independência numa sociedade dividida, onde todos se consideram ou são considerados como donos do povo, os iluminados e escolhidos para eternamente conduzir o povo à terra prometida?
A nossa sociedade têm os que pertencem aos disciplos de Jesus, o Messias, o Salvador e o Diabo, os disciplos de Satanás. A geneologia da nossa sociedade
Moçambicana tem uma fotografia que retrata a história da salvação da humanidade. Entre as “Grandes Religiões” na geneologia do Povo Moçambicano, está a FRELIMO, RENAMO e em última Instância, MDM, onde os grandes profetas fundadores são Eduardo Mondlane, Samora Machel para a Religião FRELIMO, André Matsangaissa, Afonso Dhlakama, para o caso da
Religião RENAMO e por fim Daviz Simango para MDM.
Porém, é importante não deixar de reconhecer que várias seitas religiosas ou igrejas sincréticas, em certos momentos têm ganhado palco para angariar muitos fiéis que não encontram satisfação e repostas para os seus problemas sociais, porquê não têm paz em suas famílias e comunidades. A pobreza lhes atormenta e as desavenças abundam em suas vidas. As crianças e os idosos são abandonadas; a falta de emprego aliado ao baixo nível de escolaridade e as exigências cada vez mais crescentes de mão de obra qualificada, aumenta cada vez mais o fosso de desigualidades sociais e económicas, gerando mais frustração, depressão e revoltas. Gera-se uma situação em que salva-se quem tem poder. Ai o nepotismo, egoismo, a busca insensante pela acumulação de riquezas concentradas numa minoria, aumentam mais as desconfianças e discrédito entre os indivíduos. O sofrimeno mental resultado de uma vida contraditória manifesta-se em todos níveis, desde a família até a máquina do estado. Os indivíduos já não confiam nas suas “reliogiões”, “igrejas”, nem nos discipulos ou apóstolos, sentem-se traidos.
Fazem a justiça pelas suas próprias mãos, lincham-se, roubam-se uns aos outros. Já não respeitam nos bens públicos, usam e abusa-nos. Muitas crianças estudam de baixo das árvores, sentam no chão, mas devastamos as nossas florestas para alimentar e enriquecer os paises dos outros.
Mas há uma experiência da qual deviamos tentar recordar e com ela aprender. As vezes, quando nos encontramos numa caminhada e nos apercebemos de que estamos perdidos, alguns pensadores aconselham a parar e reflectir ou voltar atrás para verificar o caminho e retomar a direcção. Isso não implica pararmos o País, mas também não devemos nos acorrentar a uma frente de sofrimento e vida de contradições; tão pouco precisamos de pedras tão resistentes às mudanças. Precisamos sim, de uma frente onde cada cidadão se sinta envolvido e a sua participação seja activa em todos processos. Precisamos de uma frente que saiba dialogar de forma aberta e seja responsável para assumir com maturidade os anseios comuns e prioritários de todos indivíduos. O fruto da Independência, Liberdade e Paz do povo Moçambicano deve se reflectir na sua vida familiar, comunitária e no seu envolvimento activo e não oprimido. Moçambique é nosso País e se queremos o seu desenvolvimento, todos devemos lutar, mas não pelas armas de fogo, tão pouco por métodos violentos e arrogantes, mas por um diálogo no qual nos comprometemos a fazer alguma coisa para mudar a situação na qual nos encontramos no presente de modo a experimentarmos um futuro harmonioso onde todos seres humanos gozam dos seus direitos e deveres.
CORREIO DA MANHÃ – 24.06.2013

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