segunda-feira, 6 de maio de 2013

“Toda a população deveria beneficiar do potencial oferecido pela descoberta de recursos naturais”

“Toda a população deveria beneficiar do potencial oferecido pela descoberta de recursos naturais”

Ministro alemão dos Negócios Estrangeiros em exclusivo ao “O País”.
“A minha visita a Moçambique tem que ver com a pretensão de sublinharmos o desejo de uma parceria ainda mais intensa. Também daremos seguimento à nossa parceria na área de desenvolvimento e, brevemente, assinaremos dois acordos sobre a cooperação financeira e técnica”, disse Guido Westerwelle.
O ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Guido Westerwelle, inicia hoje uma visita oficial ao nosso país. Westerwelle tem agendados encontros com autoridades moçambicanas e vem acompanhado por uma delegação empresarial. A partir da Alemanha, Guido Westerwelle concedeu uma entrevista exclusiva ao nosso jornal.
Qual é avaliação que a Alemanha faz da cooperação com o Estado moçambicano?
Desde o fim da guerra civil, Moçambique tem alcançado sucessos consideráveis nos últimos 20 anos. Estes sucessos devem-se, em grande parte, ao desenvolvimento pacífico e às reformas empreendidas. Pessoalmente, espero que o governo moçambicano dê seguimento à sua agenda de reformas. A Alemanha continuará a ser um parceiro confiável de Moçambique e seguirá apoiando o país no futuro. O respeito a valores democráticos e a exigência de uma boa governação são os fundamentos da nossa cooperação.
A Alemanha está satisfeita com a forma como o Governo moçambicano gere os fundos e outro tipo de ajuda provenientes da Comunidade Internacional, especialmente da Alemanha e da União Europeia?
Moçambique tem atingido um crescimento económico impressionante e foi muito bem sucedido no esforço de aumentar as suas receitas governamentais. É justamente agora que uma política orçamental sólida se faz necessária. As novas reservas naturais, recentemente descobertas, representam um enorme potencial. Mas a agronomia, o comércio, o turismo e a energia também são áreas que oferecem possibilidades de desenvolvimento. Além disso, é de grande relevância continuar aprimorando as condições gerais para investimentos nacionais e internacionais. Para empresas que operam no nível internacional, é extremamente importante que os padrões internacionais sejam respeitados, por exemplo, no sector das matérias-primas. A adesão plena de Moçambique à “Iniciativa de transparência das indústrias extractivas” (EITI) é um passo que vemos com bons olhos. A Alemanha é um parceiro que está à disposição para ajudar e oferecer consultoria em todas essas questões.
Sendo a Alemanha um país desenvolvido e Moçambique a registar, nos últimos anos, descobertas nas áreas de recursos naturais (carvão, gás e provavelmente petróleo), que conselho daria ao Estado moçambicano para não falhar como outros Estados africanos ricos em recursos naturais?
Acho que os próprios moçambicanos são os que melhor conhecem as necessidades do seu país. Do nosso ponto de vista, é importante investir as receitas oriundas da exportação de matérias-primas de maneira estratégica em prol do desenvolvimento sustentável do país. Toda a população deveria beneficiar do potencial oferecido pelas descobertas das novas reservas naturais. As pessoas têm direito à transparência. Os investimentos em educação, saúde e na criação de empregos são os que me parecem mais prioritários.
Tendo em conta que o mundo e a Europa estão a viver uma crise financeira, o vosso país continuará a prestar atenção ao continente africano e Moçambique em particular?
A Alemanha sempre esteve engajada na África e este engajamento também prosseguirá no futuro. Em 2011, o Governo Federal aprovou uma Estratégia para a África, através da qual queremos continuar a aprofundar a nossa parceria com os países africanos. Consideramos que a África é um continente que se encontra num momento crucial da sua história e agora está a desenvolver o seu imenso potencial económico. A cooperação num patamar mais amplo oferece chances a todas as partes envolvidas, tanto na África quanto na Alemanha e na Europa. A minha visita a Moçambique tem que ver com a pretensão de sublinhar mos o desejo de uma parceria ainda mais intensa. Também daremos seguimento à nossa parceria na área do desenvolvimento e, brevemente, assinaremos dois acordos sobre a cooperação financeira e técnica.
Em que áreas os empresários alemães gostariam de investir em Moçambique... e qual é o actual nível de investimento em Moçambique?
É óbvio que, neste momento, o foco está concentrado na área de energia e matérias-primas. Mas Moçambique também é um parceiro interessante para outros sectores. O facto de empresas como a Gauff ou a SIEMENS terem inaugurado, recentemente, representações em Maputo e a Câmara de Comércio alemã para a África Austral estar a preparar a abertura de um escritório em Maputo sublinham o interesse da economia alemã. Na delegação de empresários que me acompanha, há representantes de empresas das áreas da saúde, infra-estrutura, logística e do transporte aéreo. De uma forma geral, as nossas empresas estão mais interessadas em parcerias de longo prazo e não somente no lucro imediato. Muitas vezes, a transferência de conhecimento ou o treinamento de mão-de-obra especializada é parte integrante da cooperação. Vejo um grande potencial para fazer crescer o comércio e os investimentos entre os nossos países.

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