quinta-feira, 9 de maio de 2013

RENAMO ENCARADO COMO PARTIDO CHEIO DE BATOTEIROS POR TENDÊNCIA

 

Por Gustavo Mavie “...Conheço os casmurros dos meus colegas na Renamo. Conheço as ideias do presidente Dhlakama. Na Renamo existem supostos quadros seniores que nada fazem e nem deixam fazer”, José Félix, antigo chefe da Renamo para Mobilização em Maputo, num desabafo que fez durante a conferência de imprensa que deu no passado dia 5, em que falou em nome de outros cerca de 70 colegas seus que abandonaram o partido de Afonso Dhlakama.
Muitos questionam porquê a Renamo quer negociar sozinha com o governo, quando é um partido politico com interesses comuns de outras formações políticas que consistem basicamente na conquista do poder.
Em resposta eu diria que a sua pretensão é mais uma prova irrefutável de que é um partido liderado por batoteiros.
Mas para que não falte a um dos ensinamentos elementares que apreendi dos meus melhores professores de jornalismo, que preconiza que devemos ser objectivos e, acima de tudo, simples e claros para que possamos ser entendidos por todos os que lêem os nossos artigos, ou acompanham as nossas reportagens, é imperioso explicar o que é um batoteiro.
Ora, o dicionário português “O Verbo”, define um batoteiro como sendo todo aquele que desrespeita as regras de um jogo, com o objectivo de ganhar sem justa causa, isto é, aquele que faz batota.

Creio que fica claro que ao decidir negociar ou dialogar sozinha em foros privados e excluir o MDM que é parte inseparável da Assembleia da República (AR), onde todos os partidos devem debater em conjunto os assuntos de interesse deste País, a Renamo está a desrespeitar as regras do jogo democrático que se comprometeu respeitar.
Isto porque todo o tipo de negociação deve ser feito nos órgãos ou fóruns apropriados, entre os quais, se destaca a AR onde a própria Renamo está bem representada.
É na AR onde a Renamo deveria apresentar todas as questões arroladas na carta de sete páginas que José Mateus, Chefe do Gabinete de Afonso Dhlakama, enviou ao governo e datada de 15 de Abril último, à qual tive acesso não oficial.
Na referida carta, um dos pontos que a Renamo pretende negociar com o governo é claramente batota que está na sua alínea III, da página 6, com o subtítulo “Questões de natureza económica”.
Neste ponto, a Renamo exige que o Executivo de Guebuza dê mais dinheiro para além dos mais de três milhões de meticais (cerca de 100 mil dólares ao câmbio corrente) que lhes são atribuídos mensalmente pelo Tesouro, em função dos deputados que formam a sua bancada.
A carta também preconiza a criação de uma Nova Comissão Nacional de Eleições (CNE), baseada na paridade, que seria composta apenas por membros da Renamo e da Frelimo.
Devo dizer que quase todos os outros pontos que arrolou nessa carta são, no dizer do reputado jornalista e jurista Tomás Vieira Mário, claramente impossíveis de aceitar.
A própria Renamo tem consciência disso, e o que ela espera é que sejam de facto rejeitados pelo governo, para de seguida apontar o dedo acusador, dizendo que quem está contra um desfecho positivo das negociações é o Executivo.
Com isso, a Renamo espera colher os louros do público que acha que tudo deve ser feito para evitar que a Renamo volte à guerra.
Conhecedora do valor das armas, a Renamo já demonstrou em Muxúnguè aquilo que é capaz de fazer para tentar forçar o governo a ceder aquilo que não está a conseguir pela via das eleições. Para tanto, atacou uma esquadra da política e matou a sangue frio quatro policias, para além de um outro ataque que fez no dia seguinte na mesma zona já contra um autocarro que transportava passageiros e um camião-tanque que transportava combustível, tendo sido mortos um total de cinco pessoas civis e inocentes que entre os ocupantes dos dois veículos. Ao todo morreram nove pessoas e dias depois, o secretário-geral da Renamo, Manuel Bissopo, diria que aquilo foi só ´´um cheirinho do que eles podem fazer´´.
O recurso de novo à força levou o presidente Guebuza a dizer no dia 07 de Abril último, que negociar é um jogo de cedências e consensos, e nunca de imposições de agendas inaceitáveis a uma das partes.
Ele reagia assim ao facto de uma vez mais a Renamo revelar-se batoteira por excelência, ao colocar na mesa pontos impossíveis de se aceitar.
CNE DEVERIA SER COMPOSTA POR PERSONALIDADES DA SOCIEDADE CIVIL
A exigência de que a nova CNE deveria integrar apenas os membros da Renamo e da Frelimo já é uma outra grande batota, porque seria o mesmo que reduzir os restantes partidos a uma insignificância que, na melhor das hipóteses, limitar-se-iam a bater palmas à festa dos dois.
Ora, isto seria muito injusto não só para os restantes partidos políticos, bem como para o próprio povo, porque as eleições não são um evento privado da Renamo e da Frelimo. As eleições são uma oportunidade para o povo eleger quem o deve governar.
É o único momento em que o povo exerce de facto a sua soberania, dado ser aquele em que se lhe é outorgada a oportunidade de escolher livremente, quem deve estar na liderança do País e na gestão do que é de todos nós.
Portanto, se existe alguém que queira de facto que as eleições sejam genuinamente democráticas e justas, e reflictam a vontade da maioria, esse alguém é o próprio povo e não duas ou mesmo mais formações políticas que podem estar a ser movidas por interesses próprios e contrários aos da maioria.
Isto equivale dizer que a CNE deveria ser composta apenas por pessoas desinteressadas pelo poder que será outorgado ao partido que ganhar as eleições, tal como chegou a propor a Frelimo que a própria Renamo agora acusa de ser o mau da fita.
Por mais incrível que pareça, a Renamo é tão dada à batota que até diz que não permitirá a realização de eleições. Isto é muito grave porque, como diz José Félix, mesmo entre os renamistas existem muitos membros que acreditam que há excelentes condições para a realização de eleições livres e justas.
Ele vinca que em Moçambique há um novo partido, o MDM, que conseguiu vencer uma eleição intercalar em Quelimane, sem nenhuma representação nos órgãos eleitorais.
“Isto prova que o problema está na organização daquele que quer contestar uma eleição”, disse, acrescentando que paridade nos órgãos eleitorais, designadamente na CNE e nos seus órgãos de apoio aos níveis provincial e distrital não pode envolver somente o partido Frelimo e a Renamo, mas sim incluir outras forças políticas e a sociedade civil.
Sublinhou que mesmo os chamados homens armados e outros membros da Renamo querem participar no recenseamento para que tenham a oportunidade de votar e serem votados nas próximas eleições.
Por isso, apela à sua liderança para que abandone a intenção de impedir a realização de eleições, e coarctar a liberdade dos cidadãos de participar no sufrágio para a escolha dos seus dirigentes e representantes.
“Nós queremos nos recensear, votar e sermos votados. Há deputados da Renamo que nós sabemos muito bem que querem renovar os seus mandatos. Há pessoas na Renamo que querem chegar ao poder, mas outras há que não o querem. Nós não queremos guerra no país. É por isso que queremos participar nas eleições”, disse.
Félix vinca que as alegações da Renamo de que a fraude é preparada na CNE, não correspondem a verdade e, com isso Dhlakama, visa apenas acomodar as suas pessoas naquele órgão.
“Nós já trabalhámos nas mesas das assembleias de voto e sabemos muito bem o que lá acontece. A culpa é da própria Renamo”, disse Félix.
Ele tem toda a razão do mundo. O problema é a própria Renamo e não a CNE e muito menos a Frelimo a quem a liderança da Perdiz acusou sempre de todos os desaires eleitorais que sofreu quando, efectivamente, o mal está na má gestão dos fundos que lhe foram sendo canalizados de bandeja tanto pelas Nações Unidas e pelo Estado moçambicano, para financiar a sua transição de força militar para partido politico.
LIDERANÇA DA RENAMO ESBANJOU MILHÕES DE DÓLARES E DE METICAIS QUE RECEBEU DA ONU E DO ESTADO MOÇAMBICANO
A Renamo recebeu das Nações Unidas um total de 17 milhões de dólares americanos durante os dois anos que durou a implementação do Acordo Geral da Paz assinado em Roma, pelo antigo estadista moçambicano, Joaquim Chissano e pelo líder da Renamo, Afonso Dhlakama.
É este acordo que estabeleceu que após dois anos a Renamo passava a ser um partido político como qualquer outro, e deixaria de ter uma guarda privada para o seu líder, mas que agora até exige teimosamente a sua manutenção volvidos 20 longos anos de paz. Isto é que é ser mesmo casmurro!
Como bem o diz Félix, a CNE nunca fez fraude e nem está em condições de o fazer como o explicamos a seguir. Para quem não sabe, o papel duma CNE é conferir todos os dados compulsados pelo STAE, para o nosso caso. Caso tudo esteja em conformidade, faz depois a proclamação do vencedor e que, neste caso, pode ser um partido ou um candidato a Presidente da República ou de um Município. Após a proclamação, submete o seu relatório ao Conselho Constitucional para que faça a sua validação ou não.
Na verdade, e como dizia alguém reputado nestas matérias num debate em que tomei parte há uns dias, uma Comissão Nacional de Eleições é como a equipa que procede ao Registo Académico numa universidade, em que o seu papel é proclamar as passagens dos estudantes em função dos resultados que obtiveram nos exames que fizeram sob os auspícios dos professores.
No fundo, a equipa que faz o Registo Académico não faz passar nenhum estudante. Apenas se limita a registar a passagem que o estudante conseguiu na sala de exames.
A nossa CNE também limita-se a analisar os dados e confirmar que um determinado partido ou candidato foram os mais votados, e proclamá-los como vencedores.
Ora, será que é normal que se confie uma tarefa destas a quem é um dos interessados pela governação deste país? ou em nos governar como é o caso da Renamo?!... que há mais de 20 anos está claramente sedenta e impaciente em destronar a Frelimo para estar também no poder?! Será normal que a Renamo seja advogada da causa própria ou árbitro do mesmo jogo em que estará jogando? Não haverá aqui um grande conflito de interesse?
Quanto a mim, é claríssimo que há. Faço esta insistência porque há factos que provam que pelo menos a Renamo não seria um bom juiz desta causa própria. A Renamo pelo menos não iria nunca proclamar a sua própria derrota, e muito menos iria proclamar a vitória de um outro partido, muito menos da Frelimo e mesmo dos seus dissidentes, no caso vertente MDM.
Digo isto porque como vinquei já, a liderança da Renamo está cheia de batoteiros ou dos tais casmurros de que fala o seu antigo mobilizador em Maputo, José Félix. Para os que não sabem o que é um casmurro, é, segundo o mesmo “O Verbo”, todo aquele que é muito teimoso, que não muda a sua opinião mesmo que haja diversos argumentos que o contrariem convincentemente.
A PARIDADE DA CNE IRIA ACABAR COM A DEMOCRACIA
Para quem acredita que a Renamo seria escrava da justiça proclamando só quem fosse mais votado, convido-o a recuar no tempo e avaliar o seu percurso nos últimos 20 anos. Não tenho dúvida que concordará comigo que a Renamo jamais faria isso. Quem não concordar, então não conhece a Renamo ou então é outro casmurro ou batoteiro.
Para os que não conhecem a Renamo adianto dizer que nunca reconheceu nenhum dos resultados de todas as eleições gerais e locais realizadas no País, excepto, claro e obviamente, aquelas em que ela própria saiu em vantagem, como são os casos de algumas atinentes a certos municípios, como o da Beira antes de Dhlakama mandar passear o Daviz Simango.
E nota-se que em todas as eleições que impugnou ou alegou que perdeu porque a Frelimo fez fraude, alguns dos membros da CNE eram seus quadros e tinham sido apontados para aquele órgão pela própria liderança da Renamo numa base proporcional ditada pelo número de deputados que estavam na AR, e que neste caso eram menos que os da Frelimo que sempre teve uma maioria neste órgão legislativo.
Essa desproporcionalidade na composição da CNE é que foi evitando que a Renamo tivesse o poder de vetar a decisão deste órgão. É pois, para que possa ter a força de vetar e assim anular o voto dos membros da Frelimo, que agora quer uma CNE em que seja composta por 50 por cento dos seus membros, e os restantes também da Frelimo.
Caso isto seja feito, nunca mais teremos resultados válidos que sejam aceites pela Renamo, a menos, como já disse, que o seu resultado seja a seu favor e de mais ninguém. Numa palavra, com esta exigência de 50-50, a Renamo está a querer criar condições para que pratique a sua batota, que seria forçar a um governo de partilha do poder ou um GUN, como única saída para agradar tanto a Deus como a Troianos, como aconteceu no Quénia e no Zimbabwe nos últimos anos.
Com este esquema de uma comissão dita paritária, se a Renamo fosse perder, diria que não perdeu como sempre o disse mesmo quando todos os outros observadores nacionais e estrangeiros as proclamavam como tendo sido democráticas, justas e transparentes.
É mesmo para poder fazer esta batota que a Renamo negou a proposta da Frelimo de se constituir uma CNE com base em personalidades de idoneidade reconhecida que seriam seleccionadas da sociedade civil e não de nenhum partido. Nega porque sabe que não está organizada para disputar nenhuma eleição e por isso opta por montar uma CNE que lhe vai permitir ganhar à batota. Sabe que se se submeter às regras, vai perder.
Como sempre, a Renamo alegou que não aceitava uma CNE de personalidades da sociedade civil porque não confia nas pessoas da Sociedade Civil, dizendo que são um prolongamento da Frelimo. Fernando Mazanga voltou a fazer essa alegação quando terça-feira última falava num dos debates da TVM orientado pelo talentoso jornalista Atanásio Marcos.
Outra das provas que adianto, que deixam claro que a Renamo é batoteira, é o facto de jamais ter aprovado algo na AR que também não lhe beneficiasse. Os seus deputados sempre chumbaram todas as propostas de Orçamento do Estado que foram sendo submetidas à AR pelo governo, o que quer dizer que se houvesse paridade entre ela e a Frelimo, há muito que não teríamos escolas e hospitais em funcionamento, porque não se teria como pagar os salários dos professores e dos médicos.
Mas nunca chumbaram o orçamento da própria AR com que se paga os seus salários. Tudo isto mostra que a Renamo como partido herdou o que era agenda da Renamo-força militar, cuja agenda era a mesma que a do seu criador-mor que foram os regimes de Ian Smith e do apartheid, que era a destruição do nosso País.
É, pois, com base em todo este rol de factos que aqui resumi apenas, que me levaram a concluir que a Renamo é batoteira, porque rejeita sujeitar-se às regras da Democracia que ela própria se outorga o direito de ser o seu Pai, e participar honestamente nos órgãos que ao longo dos últimos 20 anos foram sendo criados
Como já disse, a Renamo nunca jamais se conformou com as proclamações das várias CNEs que já tivemos desde 1994, não obstante ela tenha tido sempre os seus membros de confiança nestes órgãos.
Isto levou-me a escrever uma vez um artigo sugerindo que a Renamo devia figurar no Livro dos Recordes, porque viu tantas fraudes eleitorais que mais ninguém mais viu, apesar de presença massiva de observadores nacionais e estrangeiros e fiscais dos próprios partidos.
Ademais, a contagem foi pública e televisionada para que todos nós tivéssemos a oportunidade de testemunhar com os nossos próprios olhos.
GM/SG
gustavomavie@gmail.com
AIM – 09.05.2013

1 comentário:

Anónimo disse...

E triste ver pessoas enferrujadas com o regime como Gustavo Mavie que quer dar a entender aos moçambicanos que mdm e alternativa politica, como ser alternativa quando faz pactos politico-eleitorais com a Frelimo? A Renamo nunca lutou para si só, hoje existem muitos partidos porque a Renamo lutou. esta e uma luta politica, cada partido luta por si para trazer o bem para o povo. A Renamo não vai continuar arrastar partidos políticos fantoches que se autodefinem como de oposição quando na essência se opõem aos outros partidos de oposição e não ao partido no poder como pimo, mdm, PT etc. O mdm opõe-se a Renamo e não a Frelimo, como e que a Renamo vai transportar o mdm para um assunto de interesse nacional se e um partido satélite da Frelimo? A Renamo nunca pedio dinheiro a Frelimo, quem fez a carta e Mateus e ele assinou, não e a Renamo. Pergunte ao Mateus se o que escreveu foi do consenso da Renamo e do Dhlakama duvido! Quem não conhece Mavie como Frelimo? ira um dia falar bem da Renamo que lhe combate politicamente ele como Frelimo? Quero chamar atenção aos moçambicanos; Cuidado com Gustavo Mavie, ele e do regime, come do regime, esta ao serviço do regime, e do mesmo grupo dos sanguessugas da Frelimo, não acreditem no que ele diz.