Proeza secreta na Coreia do Norte: Voz da Rússia

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Andrei Lankov

20.05.2013, 14:01, hora de Moscou

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Recentemente, a televisão norte-coreana informou que uma jovem controladora de tráfego de Pyongyang, Lee Kyung-sim de 20 anos de idade, foi agraciada com o título de Herói da Coreia do Norte. “Numa situação de extremo perigo, ela demonstrou um espírito de auto-sacrifício na defesa do líder e do quartel-general da revolução”, dizia o comunicado.

A premiação causou bastantes especulações na imprensa estrangeira. O título de Herói da Coreia do Norte é uma condecoração muito alta. Foi criado em 1950 e concedido apenas por feitos excepcionais, a maioria deles cometidos em guerra. Em particular, com o título de Herói da Coreia do Norte foi agraciado Lee Soo-bok, que em 1951 fechou com seu corpo a troneira de uma casamata inimiga.

Recentemente, no entanto, o título de herói sofreu uma certa desvalorização. Ele começou a ser atribuído por ações que não exigem excepcional coragem pessoal. Por exemplo, o título foi concedido à atleta Jong Song-ok, conhecida por seus sucessos em maratona. Recentemente o título de Herói da Coreia do Norte foi concedido a 101 pessoas – cientistas e gestores coreanos que desenvolveram o míssil norte-coreano, lançado com sucesso em dezembro de 2012. Após isso, o título foi concedido a outras 100 pessoas que contribuíram para o sucesso de um terceiro teste nuclear em fevereiro deste ano.

No entanto, apesar de alguma desvalorização, o título de Herói continua sendo raro e de grande prestígio. Isto sugere que Lee Kyung-sim fez algo incomum.

Há uma teoria de que ela pode ter salvado Kim Jong-un durante uma tentativa de assassinato. Rumores de tentativas de assassinar Kim Jong-un vêm aparecendo muitas vezes recentemente, mas na maioria dos casos, eles não são baseados em nada. Além disso, é difícil imaginar que uma jovem controladora de tráfego poderia impedir um atentado: os critérios para a seleção destas jovens são saúde, aparência e consciência política, mas não a mestria de artes marciais.

A mais provável é a suposição de que Lee Kyung-sim teria impedido um certo acidente de viação que representava um perigo para Kim Jong-un ou um outro membro da liderança norte-coreana.

Apesar de não haver muitos automóveis na Coreia do Norte, acidentes de trânsito ocorrem com bastante frequência. Às vezes, neles morrem ou são gravemente feridos altos funcionários norte-coreanos. Por exemplo, em 1976, um acidente de viação tirou a vida ao Ministro das Relações Exteriores Nam Il. E em 2010, um funcionário de alto escalão do Comitê Central do Partido dos Trabalhadores da Coreia também se tornou vítima de um acidente.

Por isso não podemos excluir uma situação na qual a desenvoltura e a coragem da reguladora realmente poderiam ter salvo Kim Jong-un, ou pelo menos reduzido o risco que o ameaçava.

No entanto, a mais provável é a terceira hipótese. É possível que Lee Kyung-sim tivesse salvo não o próprio Kim Jong-un, mas uma imagem sua. Ou a imagem de seu pai ou avô. Na Coreia do Norte, retratos e estátuas de líderes pertencentes à família Kim têm um estatuto quase religioso. A imprensa coreana tem repetidamente escrito sobre como coreanos patrióticos arriscam suas vidas resgatando retratos de incêndios e inundações.

Dado que em Pyongyang esses retratos estão, literalmente, em cada esquina, pode-se supor que um deles foi salvo de algum dano grave pela jovem controladora de tráfego.

Tal já aconteceu. Em 2012, a estudante Han Hyon-gyong de 14 anos de idade deu sua vida para resgatar retratos de líderes e foi por isso concedida o título de Herói da Coreia do Norte. Entretanto, as frases do decreto sobre a concessão do título heroico à estudante, em muitos aspectos se assemelhavam aos utilizados no anúncio da condecoração de Lee Kyung-sim.