sexta-feira, 24 de maio de 2013

Mulher interrompe discurso de Obama sobre Guantánamo

 


“Você é o comandante-chefe. Pode fechar Guantánamo hoje!”, disse a activista Medea Benjamin Larry Downing/Reuters
Barack Obama estava a aproximar-se do fim de um muito aguardado discurso sobre o combate ao terrorismo, focado em questões controversas como o uso de drones para eliminar terroristas e a prisão de Guantánamo, quando uma mulher interrompeu o presidente americano e começou a gritar.
“Você é o comandante-chefe. Pode fechar Guantánamo hoje!”, disse a mulher, identificada mais tarde como Medea Benjamin, fundadora e activista do grupo pacifista Code Pink.
Obama pediu repetidamente a Benjamin, sentada na plateia de um forte militar em Washington, onde o discurso teve lugar esta quinta-feira à tarde, para deixá-lo terminar o discurso. O Presidente americano tinha acabado de declarar que não havia “qualquer justificação” para impedir o encerramento de Guantánamo, uma prisão “que nunca devia ter sido aberta”.
“Deixe-me acabar a minha frase”, disse Obama, dirigindo-se à mulher. A activista continuou a falar. “Já lá vão 11 anos!”, gritou.
O grupo de esquerda Code Pink é famoso por este tipo de acções. Em Fevereiro, quando John Brennan, chefe de contra-terrorismo da administração americana e actual director da CIA, foi questionado numa audição no Congresso, várias activistas do Code Pink presentes na sala interromperam o discurso de Brennan com protestos, antes de terem sido expulsas por seguranças.
Medea Benjamin permaneceu na sala onde Obama discursava, mesmo depois de o ter interrompido. “Estou disposto a dar um desconto à senhora que me interrompeu porque este é um assunto digno de ser tratado com paixão”, disse Obama. Mas o presidente americano retomou a palavra apenas para ser novamente interrompido, instantes depois.
Segundo o relato de jornalistas presentes na sala, Benjamin terá gritado “Vai pedir desculpa aos milhares de muçulmanos que matou?”, numa presumível referência às vítimas de ataques de drones (aviões não-tripulados e comandados à distância).
A presidência de Obama é responsável pela expansão destes “assassínios selectivos” no combate à Al-Qaeda e grupos associados com a organização terrorista. O secretismo destas operações e as dúvidas sobre a legalidade e eficácia das mesmas tem levado muitos críticos a comparar a política anti-terrorista de Obama à do seu antecessor, George Bush. Obama procurou responder publicamente a essas críticas pela primeira vez no seu discurso de quinta-feira, reconhecendo a legitimidade das mesmas, mas insistindo que o uso de drones para eliminar suspeitos terroristas é legal, eficaz, criterioso e tem sido empregado apenas como último recurso.
Obama reconheceu que os ataques de drones são problemáticos – ele admitiu, por exemplo, que um presidente pode incorrer no erro de aplicá-los em demasia, sob a ilusão de que é “um remédio santo contra o terrorismo”. Mas também insistiu que esses ataques são, por vezes, a única forma de prevenir mais actos terroristas contra os Estados Unidos. E embora tenha admitido que esses ataques americanos fizeram vítimas civis – “um risco que existe em todas as guerras”, frisou – defendeu que essas baixas são menores do que os actos terroristas que evitaram acabariam por produzir.
Foi como se Obama, o professor de direito constitucional, e Obama, o presidente, estivessem a debater um com o outro. “Vale a pena prestar atenção ao que diz aquela mulher”, declarou Obama, o professor de direito constitucional, quando Medea Benjamin foi levada para fora da sala depois de sucessivas interrupções. E Obama, o Presidente, prosseguiu: “Obviamente, não concordo com muito do que ela disse.” Obama, o professor de direito constitucional: “Mas estas questões são difíceis e a sugestão de que podemos passar por cima delas é errada.”
 

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