sábado, 4 de maio de 2013

História de um “bandido armado” queimado vivo em Taninga

 
Contribuições para a História de Moçambique

Por Salomão Moyana, AIM, 1983 (*)

“Quase ao pôr-do-sol daquele l de Março, o Comandante-adjunto Tinga, mandou dois milicianos loca¬lizar-nos urgentemente. Nessa altura estávamos a discutir a situação da Saúde em Taninga. Aparecemos cheios de expecta¬tiva e ele disse-nos, orgulhoso: “Veja, acabámos de capturar este bandido aqui!”. E levou-nos a ver um jovem de cerca de 22 anos, calças militares rotas e camisa que punha a desco¬berto as costas suadas do bandido. Apesar de ter começado a explicar que realmente ele era bandido armado e estava em missão de reconhecimento, o jovem escapou-se-nos de entre as mãos e pôs-se ao fresco a uma velocidade apenas superada pela bala que de repente se lhe alojou na perna direita.

A 2 de Março, sábado de manhã, cerca de 300 pessoas, que na Aldeia de Taninga receberam a notícia do bandido capturado, compareceram perante a posição das Forças Armadas e pediram para falar com o bandido capturado, o que lhes foi rápida e facilmente concedido pelos comandantes daquela unidade militar. Escutámos com atenção as perguntas do povo: “Quantos carros já queimaste?” – perguntou o povo. “Não sei, são muitos” – respondeu. “E aldeias, quantas queimaste?” – continuou o povo, já impaciente. “Também não sei, quando queimava não contava” – replicou o bandido.

Os camponeses fizeram uma fogueira e, irados, lançaram nela o bandido armado. Depois improvisou-se uma pequena reunião popular a qual se transformou numa verdadeira manifestação de repúdio ao banditismo armado. “Não produzimos por causa dos bandidos. Não visitamos as nossas famílias por causa dos bandidos. Por isso, queimamos os bandidos que apanhamos, como forma de chorar os nossos irmãos e mulheres, os carros e as casas que eles andam a queimar”, afirmou-nos, em língua tsonga, depois da reunião, um ancião que não nos quis revelar o seu nome. (Salomão Moyana, AIM, 1983) (*)

N.E.: Título da responsabilidade do «Canal de Moçambique». Excerto de uma peça da AIM lavrada por Salomão Moyana, hoje ganadeiro de Taninga, sua terra natal, e director do semanário «Zambeze».

O jovem foi queimado vivo em 2 Março de 1985.
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 02.08.2006

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