domingo, 14 de abril de 2013

Tragédia de Smolensk: três anos depois: Voz da Rússia

Leszek Miller
13.04.2013, 13:58, hora de Moscou
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polônia
© Nikolina Šmukler

As atividades comemorativas do terceiro aniversário do desastre aéreo de Smolensk decorreram, na Polônia, numa atmosfera de hostilidade amarga. Uma dessas atividades foi a habitual conferência convocada pelo partido Lei e Justiça (PiS, na sigla em polonês), que defende a teoria do “assassinato” do presidente polonês e seus acompanhantes.

O acidente de Smolensk foi convertido numa espécie de religião, sobre suas ruínas está sendo erguida a “Igreja de Smolensk”, com numerosos seguidores e liderada pelo irmão do falecido presidente, que dá o tom com tais expressões como “tombaram na madrugada”, “pereceram”, “atentado”, “mártires”... E não só com isso. Está sendo criada uma relação associativa entre as vítimas do acidente aéreo de Smolensk e os oficiais poloneses fuzilados pelo NKVD em Katyn. É um cenário de uma campanha política de larga envergadura que dura já três anos e envolve alguns hierarcas católicos, padres comuns e a mídia de direita. O governo, porém, não defende a sua posição, satisfazendo-se com o papel de vítima da ofensiva propagandística do PiS.
Como resultado, três anos após o desastre, metade dos entrevistados não leva em conta ou simplesmente não sabe que houve uma comissão pública de inquérito e que os melhores especialistas em aeronáutica descartaram qualquer probabilidade de atentado, reconhecendo que o acidente tinha sido originado por erros humanos. Para os adeptos da “Religião de Smolensk,” esta explicação não lhes parece aceitável, rejeitam-na como “falsa”, “manipulada” e baseada em “provas falsas”. É que, dia após dia, Antoni Macierewicz, um dos expoentes mais ferozes da teoria da conspiração, os está convencendo disso. A única coisa que varia nestas teorias é a forma de realização do “atentado”. Primeiramente, foi posta em circulação uma versão sobre nevoeiro artificial que teria confundido o piloto, sobre a eliminação propositada dos feridos no local e uma bomba de pressão; mais tarde, surgiu a hipótese de duas explosões; e, ultimamente, Antoni Macierewicz declara que ocorreu uma série de numerosas explosões “pontuais”.
Infelizmente, esta aberração se arraigou em muitas cabeças precisamente por causa da política da informação governamental, a qual questionou as competências dos promotores militares, assim como por uma confusão inaceitável que aconteceu durante a identificação dos cadáveres na Rússia. O Comitê Interestatal de Aviação (MAK, na sigla em russo) também “contribuiu”, defendendo expressamente em seu relatório a tese que prescinde de ser defendida, ou seja, a da inexistência de culpa da parte russa. Por outro lado, os controladores de tráfego aéreo do aeroporto de Smolensk apenas “recomendaram não pousar”, embora face às condições climáticas existentes na data fatídica sobre o aeroporto Severny de Smolensk, foram obrigados a reconhecer não ter proibido categoricamente a aterrissagem. Isto quer dizer que os controladores deixaram a decisão nas mãos dos pilotos, em vez de seguir os procedimentos. Se eles tivessem proibido o pouso, o escândalo e as acusações de ação premeditada também teriam inevitavelmente surgido, mas não seriam tão estrondosos e não teriam tanta força emocional.
No entanto, por muito que se diga hoje sobre a incúria manifesta dos russos, não são argumentos que provem as causas do desastre. Estas deverão ser procuradas em Varsóvia. Aquele voo não se deveria realizar: foi encaixado à força na programação do aniversário do massacre de Katyn exclusivamente como elemento propagandístico da campanha eleitoral.
Na esperança de ser reeleito, Lech Kaczynski não queria permitir uma situação em que a homenagem aos oficiais poloneses mortos na Rússia fosse rendida pelo primeiro-ministro Donald Tusk, enquanto ele, ”patriota número um”, estava ausente. Para satisfazer seu desejo, foram desrespeitadas todas as regras de organização de semelhantes viagens e ignoradas, inclusive, as condições meteorológicas adversas. Convocada à pressa, a tripulação não tinha as licenças necessárias para pilotar uma aeronave deste tipo e cometeu gravíssimos erros, experimentando pressão por parte de pessoas não-autorizadas a entrarem no cockpit durante o voo. Foi nestas circunstâncias que a tripulação assumiu uma tarefa impossível.
O irmão do “passageiro número um” e os seus apoiantes não levam em linha de conta tudo isso, reiterando sem fim a mesma opinião: o presidente Lech Kaczynski foi morto num atentado organizado pelos russos, inimigos jurados da liberdade e independência da Polônia, que, como sempre, recorreram aos serviços de traidores poloneses; que se tratou de uma vingança dos russos que, dessa maneira, se vingaram de Lech Kaczynski, que “mandou parar os tanques russos quando estes se dirigiam para Tbilisi”. Assim, um político medíocre e presidente muito fraco está sendo convertido num herói mitológico, que sacrificou sua vida “em prol de defesa dos valores nacionais”.
O governo polonês só agora está formando uma equipe para desmentir, em debate público, todos os disparates que o PiS segue inventando sobre o desastre de Smolensk. Possivelmente, já é tarde demais. Jaroslaw Kaczynski, possesso pela insaciável sede de poder, despertou propositadamente os demônios.
Não se trata de compaixão para com as vítimas, nem da dor de perder o irmão, nem de desejo de verdade. Isto é mera política. Ele não precisa da verdade objetiva, já tem a sua própria e anseia por vingança.
Leszek Miller, primeiro-ministro da Polônia em 2001-2004

1 comentário:

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