quinta-feira, 11 de abril de 2013

Reduto da Renamo em Satungira: Entre o mito e a realidade

Administrador pauloA SITUAÇÃO geral do distrito de Gorongosa, em Sofala, está relativamente calma e estacionária, não obstante a inquietação da população pela fixação do líder da Renamo, Afonso Dhlakama, desde o dia 15 de Outubro passado. Esta garantia foi avançada ontem em exclusivo ao "Notícias" pelo administrador daquela região potencialmente agrícola, Paulo Majacunene.
Maputo, Sexta-Feira, 12 de Abril de 2013:: Notícias
No entanto, referiu que as crianças faltam às aulas por recear perturbação da ordem com a movimentação de antigos guerrilheiros da Renamo no terreno, tal como aconteceu na semana passada depois dos ataques em Muxúnguè.
Por mesmo motivo, apontou que algumas pessoas começaram a refugiar-se no mato sobretudo na calada da noite, renovando a esperança que melhores dias virão, particularmente com o anunciado diálogo entre os dois beligerantes.
"É melhor que ele, Dhlakama, saia mesmo daqui, porque aqui ele não está fazer nenhuma política senão acções militares"- denunciou.

Tal perturbação da ordem e tranquilidade pública, conforme precisou a nossa fonte, é caracterizada na zona de Mucodza que dista aproximadamente 10 quilómetros da vila da Gorongosa pelo facto de os homens armados da Renamo supostamente interferirem directamente na incitação da população para não pagamento do Imposto de Reconstrução Nacional.
Também o governante indicia antigos guerrilheiros da "perdiz" como estando a exigir retirada de bandeiras da Frelimo, perseguindo até membros desta formação política no poder no país.
Para as escolas de Vunduzi e Mapanga-Panga revelou que os professores e alunos andam aterrorizados e não se sentem sossegados, perturbando assim instituições do Estado.
Prosseguiu dizendo que, num passado recente, todos os dirigentes incluindo simples transeuntes eram revistados quando ousassem penetrar na área controlada pela Renamo nas matas da Gorongosa rodeada pela comunidade.
"Ora, quando Dhlakama afirma que ele é melhor democrata do mundo não é verdade, pois nenhum país admitiria que tudo isso acontecesse com grupos armados paralelos. Por isso, ele não se pode orgulhar desta maneira, porque tudo que o Governo faz está enquadrado na tolerância"-censurou.
Se, efectivamente ele estivesse a realizar actividades políticas em Gorongosa, para o administrador daquele ponto do país, ninguém ficaria assustado.
Para a população que está em volta do quartel-general da Renamo, em Satungira, "não pode ausentar-se ou receber hóspedes sem autorização ou apresentação".
Como se não bastasse, a nossa fonte sustentou que os homens armados da Renamo até mostram facas ao chefe do posto administrativo de Vunduzi, Viola Diniz Caravina.
"Muita gente de Gorongosa está receosa e nem vai às machambas à vontade, mas em contrapartida, o líder da Renamo afirma que se fixou neste distrito porque esta população lhe estima bastante e são amigos. Pura mentira e cara sem vergonha"- desabafou Majacunene.
Num outro desenvolvimento, o nosso interlocutor apontou que desde que o Dhlakama fixou residência em Gorongosa nunca foi passear na vila daquele distrito, senão o seu secretário-geral, Manuel Bissopo, para o reforço da sua logística.
"Ele apenas vai ao mercado informal nas imediações de Satungira para, pessoalmente, comprar repolho"- disse.
Acima de tudo, manifestou o desejo da sua retirada imediata para outro ponto deste vasto Moçambique, "porque a população de Gorongosa está a viver intimidada".
Majacunene refutou informações segundo as quais o presidente da Renamo está cercado pela FIR em Satungira, acrescentando, porém, que se alguém está a treinar e armar pessoas, então, nenhum Governo soberano permitiria que acontecesse este tipo de atitude.
Mesmo assim, afianço-nos que nunca houve qualquer atrito entre os homens armados da Renamo e a força de segurança do Estado moçambicano também reforçada em Gorongosa pelo simples facto da observância do espírito de tolerância no seio do Governo.
Por este motivo, concluiu a nossa fonte que qualquer desentendimento se resolve pacificamente, razão pela qual, hoje, o distrito de Gorongosa está saudável com comida à fartura.
Dhlakama em conversa com jornalistas em Satungira
Dhlakama em conversa com jornalistas em Satungira

Renamo ofusca PNG

Maputo, Sexta-Feira, 12 de Abril de 2013:: Notícias
O GESTOR do Projecto de Desenvolvimento da Serra da Gorongosa integrada no Parque Nacional do mesmo nome, Alois Daxerbager, procurou o "Noticias" para, entre outras coisas, dizer que a presença do líder da Renamo na região afecta negativamente as actividades do seu sector turístico, particularmente em cerca de 700 metros nas encostas daquela montanha.
O problema de fundo, conforme nos explicou, é que com o regresso da liderança da Renamo à Satungira, a população viu-se aliviada na concretização do projectado de reassentamento com a anexação de algumas zonas para a expansão daquela estância turística.
Como medida de vingança, soubemos junto da nossa fonte que o projecto da preservação ambiental está em causa na região, onde inclusivamente a comunidade optou no ano passado por vias de desmando ao queimar o acampamento de fiscais florestais e destruído viveiros para reflorestamento.
"Mas as nossas actividades visam apoiar as comunidades na conservação da natureza no reflorestamento para a vegetação, o que criou um ambiente de mal-estar na sociedade, alegando que a Serra da Gorongosa foi vendida aos estrangeiros"- lamentou.
Na versão da nossa fonte, quando a Renamo entrou em Satungira a população revoltada vibrou até queimar palhotas dos fiscais e destruído o viveiro.
Também disse que os revoltosos ameaçaram queimar qualquer viatura do projecto que se fizer presente ao terreno sobretudo em Massala e Vunduzi, sendo que em Nhanguku e Kanda não há qualquer inquietação digna de realce na prática de projectos turísticos.
"Isto tudo foi incentivado com a chegada da Renamo, onde em cada 100 metros temos homens armados, pois no cume da montanha vive população que não sabe ler nem escrever que é consequentemente aproveitada desta triste situação"-precisou.
Para já, a nossa fonte aplaudiu o anúncio de diálogo entre o Governo e a Renamo para a manutenção da paz no país como melhor solução, concluindo que "Moçambique caminha para o desenvolvimento inquestionável".
O líder da Renamo no almoço com os jornalistas
O líder da Renamo no almoço com os jornalistas

Afinal, onde fica Satungira?!

Maputo, Sexta-Feira, 12 de Abril de 2013:: Notícias
INICIALMENTE parecia tão longe mas, afinal, é perto da antiga Vila Paiva de Andrade, hoje Gorongosa. Satungira, que na língua local significa "A procura de caminho", localiza-se exactamente nas encostas da Serra da Gorongosa que dista a 30km a norte daquela região nas bermas do rio e posto administrativo de Vunduzi, em Sofala.
É aqui onde igualmente se tinha instalado o primeiro quartel-general da Renamo durante o conflito armado dos 16 anos que, hoje, o líder deste partido, Afonso Dhlakama, decidiu voltar passados que foram 20 anos de paz em Moçambique, precisamente no dia 17 de Outubro passado.
Na verdade, parecia assim tão longe chegar à Satungira para "in loco" conviver com aquele que ainda se declara político e general de quatro estrelas depois dos episódios de Muxúnguè que, coincidentemente, é a terra que lhe viu nascer e possui grande parte dos membros da sua família encabeçada por seu pai que é o régulo Mangunde.
Tudo começou no domingo depois da incursão protagonizada por homens armados da Renamo, que resultou na morte de oito pessoas e outras 16 ficaram grave e ligeiramente feridas por armas de fogo.
Foi daí que circulou entre os jornalistas de que o líder da Renamo teria manifestado o interesse de conceder uma conferência de Imprensa. Por conseguinte, todos os chamados homens da pena começaram a mobilizar-se, mas o tal almejado encontro com Dhlakama só viria a ser concretizado pouco depois das 11.00 horas da passada quarta-feira.
Fernando Mazanga, na qualidade de porta-voz deste partido da oposição ia entretendo os jornalistas, num compasso de espera. Afinal, o Presidente da República, Armando Guebuza, já tinha tomado a dianteira de reunir-se com Dhlakama a sós em menos de 24 horas a partir da passada segunda-feira para discutir a sério o cessar-fogo.
Depois de aturados contactos, finalmente, chegou o dia "D". Jornalistas começaram a movimentar-se em direcção à Gorongosa que, por sinal, possui o melhor parque natural a nível do Continente Africano e não só.
Foi então a partir da noite desta terça-feira que a vila da Gorongosa conheceu um movimento desusado de mais de 40 jornalistas nacionais e estrangeiros que no dia seguinte pretendiam chegar a Satungira.
Antes da partida deste "batalhão" formou-se uma autêntica "Redacção" na principal estância turística da vila da Gorongosa que, por sinal, onde se haviam alojados.
Primeiro, Mazanga apareceu com papéis em branco para o registo de cada elemento incluindo o órgão de comunicação social a que pertence e contacto. O mesmo aconteceu para os motoristas da comitiva até com a referência das chapas de inscrição das respectivas viaturas.
Do encontro previsto para as 9.00 horas só viria a acontecer por cerca das 11.30, tendo sido franco até sem limitações de perguntas ao líder da Renamo, embora Mazanga tenha manifestado interesse de limitar o tempo dos jornalistas.
Em aproximadamente 30 minutos, Dhlakama fez a introdução da conversa, onde basicamente lamentava o suposto incumprimento pela parte da Frelimo do Acordo Geral de Paz assinado por ambas as partes no dia 4 de Outubro de 1992, em Roma, capital italiana.
 Élder Momade, da LDH
Élder Momade, da LDH

Malabarismo de Satungira

Maputo, Sexta-Feira, 12 de Abril de 2013:: Notícias
NUMA caravana de nove viaturas, a equipa de jornalistas partiu precisamente às 10.00 horas da vila de Gorongosa, tendo como "rebenta-mina" o secretário-geral da Renamo, Manuel Bissopo, e a fechar a comitiva o chefe nacional de mobilização deste partido, Arlindo Milaço.
Meio quilómetro depois deparamo-nos com uma cancela da FIR depois do desvio da estrada para a via Gorongosa/Inhaminga. Em seguida num raio de 10km era a vez do controlo da Renamo, semeando assim cada vez mais medo aos escribas.
Acompanhados também pela delegação da Liga dos Direitos Humanos (LDH), na pessoa do respectivo delegado regional centro baseado em Sofala, Élder Momade, fomos paradoxalmente cruzando pela mata adentro com o patrulhamento da zona pela FIR.
Trata-se, efectivamente, de uma zona potencialmente agrícola em que ao longo da via os camponeses praticam com devida normalidade a comercialização dos seus excedentes com especial destaque para o milho.
Ainda dentro desta zona em disputa, verificamos que as escolas, unidades sanitárias até ao comércio funcionavam normalmente.
Num trajecto que nos levou cerca de uma hora de tempo em estrada de terra batida de aproximadamente 30km, quando já estávamos na entrada do quartel-general da Renamo deparamo-nos com a segunda cancela da "perdiz".
"Daqui para a frente não há mais imagens e, se houver consequências, não assumo"- assim advertiu Bissopo a jornalistas que ficaram altamente "gelados" pelo futuro que se desenhava imprevisível.
Para o efeito, o chefe da missão fundamentou que "isto aqui já é quartel-general da Renamo".
Um quilómetro depois chegávamos à segunda cancela principal onde inclusivamente passamos cerca de 15 minutos em contacto de concertação com a liderança da Renamo.
Finalmente, depois de alguns passos lá chegamos cerca de 11.00 horas! Debaixo de mangueiras rodeadas por palhotas e com ar puro, ficamos ainda 10 minutos antes da ordem de entrar no pátio de Dhlakama, o que evidentemente nos multiplicava a ansiedade.
"Nós levamos uma responsabilidade nacional e estrangeira nas costas se a guerra arrebenta ou não. Por isso mesmo, é nosso desejo termos agora a tal esperada conferência de Imprensa com o líder da Renamo sobre seu posicionamento neste aspecto"- murmuravam os jornalistas em uníssono.
Pouco tempo depois lá entramos, primeiro, os homens das imagens para desenhar o cenário, e depois os da escrita.
"Bem-vindos ao quartel-general da Renamo"- estas foram as primeiras palavras de Afonso Dhlakama que se mostrava visivelmente emocionado pela tão concorrida conferência de Imprensa maioritariamente com jornalistas vindos da capital do país e alguns do estrangeiro.
Na verdade, foi depois um ambiente de festa, onde com toda a humildade, Dhlakama convidou jornalistas para várias fotografias de recordação inclusivamente na sua palhota que, em jeito de ironia, classificou como "Palácio de Satungira".
Como se não bastasse, foi ele próprio que serviu refeição aos visitantes com todo o tipo de pratos, abrindo até garrafas de refresco e bebidas alcoólicas.
Mesmo assim, os visitantes não se mostravam mais interessados para estes "comeretes" e "beberetes" com o intuito de informar rapidamente ao mundo de que, afinal, não há retorno à guerra em Moçambique.
No entanto, tal como observamos no terreno, para além dos homens trajados do novo uniforme de cor verde com boinas pretas e armas "em folha", a chamada segurança da Renamo conta ainda com fardamento das Forças Armadas da Defesa de Moçambique (FADM), sendo equipamento que viemos a saber como tendo sido aparentemente surripiado no Exército depois de desmobilização.
Depois de várias posições fotográficas com jornalistas e sozinho, o decano fotojornalista, Naita Ussene, pediu ao Dhlakama para fotografar seus "soldados" o que teve um acolhimento favorável.
Mas, no entanto, a intenção do fotógrafo era deliberadamente registar imagens de Dhlakama com a sua força. "Isto já não admito! Eu sou líder de um partido e general de quatro estrelas, por isso, não posso cair nesta armadilha, pois isto é preparar a minha demissão incondicional e imediata"- reagia, criando mal-estar no seio dos jornalistas.
Contudo, o ambiente voltou à normalidade sem qualquer crispação e os visitantes voltaram para sua proveniência já sem escolta da classe de elite daquele antigo movimento armado.
No percurso de regresso, as equipas da STV e TIM, infelizmente, tiveram um susto ao entrar na mata mas que nada de anormal aconteceu. Por outro lado, a viatura que lhes fazia transportar não era exequível para aquele tipo de viagem por ser de suspensão baixa.
  • Horácio João, em Gorongosa

Sem comentários: