terça-feira, 9 de abril de 2013

Passageiros vítimas do ataque não confirmam “homens da Renamo”

 
A Reportagem do Canalmoz entrevistou passageiros que vinham no autocarro vítima do ataque armado em Muxúnguè à sua chegada em Maputo
Maputo (Canalmoz) - No meio de choros, pânico e alívio por terem escapado à morte, chegou na manhã do último domingo a Maputo, concretamente ao Terminal Rodoviário Interprovincial da Junta, o autocarro de transporte de passageiros que foi atacado em Muxúnguè, no sábado, por um grupo de homens armados ainda desconhecidos. Oficialmente as autoridades atribuem o ataque aos homens armados da Renamo, mas nem os próprios passageiros que presenciaram o ataque conseguem dizer com certeza quem foram os autores do ataque.
Na manhã do dia seguinte ao ataque (06 de Abril), mais concretamente no domingo dia 07 de Abril, o autocarro de marca Yutong, com chapa de inscrição AAT 474-MC, do grupo ETRAGO, era o mais esperado no terminal de Junta. Jornalistas, agentes de serviços secretos, Polícias, familiares e amigos dos passageiros e populares no geral estavam na junta à espera do autocarro que fora vítima de ataque na zona de Muxúnguè.
O autocarro que fazia percurso Pemba-Maputo foi recebido no Terminal Rodoviário Interprovincial da Junta num ambiente de muita solidariedade por parte da população.
A viatura, segundo constatou o Canalmoz in loco à chegada desta no terminal da Junta, apresenta-se com marcas de perfuração de tiros de armas de fogo. As perfurações são mais de 20 e atingiram a parte frontal da viatura, nas laterais e nos vidros. No ataque a este machimbombo não houve óbitos nem feridos, tendo apenas os passageiros ficados em pânico.
Vítimas na primeira pessoa
O Canalmoz ouviu das próprias vítimas que o ataque começou quando eram 17 horas em ponto, a 15 quilómetro de Muxúnguè, quando o machimbombo foi interceptado por quatro homens com vestes “estranhas” fortemente armados, com armas de fogo do tipo AK 47. O grupo armado, segundo contam, apareceu de repente da mata e na frente da viatura obrigou o motorista a imobilizar o machimbombo, tendo o motorista não obedecido e continuado a marcha. Em pânico, o motorista acelerou a viatura avançando em direcção aos homens armados. Estes homens armados, por sua vez, percebendo que o motorista “desobedecia” às suas ordens, de imediato começaram indiscriminadamente a abrir fogo. As balas perfuraram a viatura, colocando em pânico as pessoas que se faziam transportar, sem ferir a ninguém.
Carlos Taibo, motorista do autocarro falando à nossa Reportagem, contou que o pânico era tal que nalgum momento não pensou mais nada a não ser acelerar a viatura, tendo apenas imobilizado o machimbombo a 50 quilómetros do local do ataque, já na zona de Rio Save.
“Eu já não sabia o que fazer quando fui abordado por aqueles homens armados, mas de repente tive uma coragem inimaginável e avancei numa alta velocidade. Aquilo foi mesmo sorte de Deus, porque quando começaram a abrir fogo eu nalgum momento conduzi sem olhar o caminho, para não ser atingido por balas escondi-me de baixo do volante e acelerei durante cerca de 50 metros ainda com cabeça escondida. Depois do pânico só fui parar a viatura na zona do Rio Save”, contou sem precisar quem foi o autor do ataque.
Passageiros clamam pela intervenção do Governo
Gabriel Vieira, um dos passageiros visivelmente assustado com o sucedido, contou que no momento do ataque todas as pessoas no machimbombo, desesperadas, gritaram a pedir socorro e esconderam-se debaixo dos assentos da viatura para não serem alvejadas. Vieira e outros passageiros defendem a necessidade de intervenção imediata do Governo para resolver esta situação sob pena de muitos civis inocentes continuarem a sofrer devido à “arrogância do Governo da Frelimo em não querer negociar com a Renamo”.
Bento Luís, outro passageiro que seguia no autocarro, criticou o facto dos ataques dos homens armados estarem a atingir também os civis que pouco têm a ver com as divergências políticas dos dois partidos em choque, Frelimo e Renamo.
Outras viaturas atacadas mesmo tendo sido alertadas
Pelo menos, outras duas viaturas, para além deste da ETRAGO que chegou neste domingo a Maputo de transporte interprovincial de passageiros, foram atacadas por homens armados cuja responsabilidade dos actos é imputada à Renamo mesmo sem que haja ainda provas. Uma das outras foi um machimbombo da Intercape e um camião de transporte de combustível.
Os gestores do Terminal Rodoviário Interprovincial da Junta, local por onde algumas dessas viaturas partiram, confirmaram ao Canalmozm no domingo último, que os machimbombos foram atacados no sábado.
Um autocarro da InterCape, sem que haja detalhes sobre a matrícula, proveniência e destino exacto, foi atacado enquanto seguia em direcção à zona norte do País, por grupo de homens armados na zona de Muxúnguè. Neste também não houve vítimas.
Um camião que transportava combustível cuja matrícula não nos foi revelada, seguindo em direcção à zona norte, foi atacado na noite de domingo último na mesma zona de Muxúnguè. Fala-se em três mortos mas não se conhecem evidências.
Carlos Taibo, motorista de um dos machimbombos atacados e que chegou a Maputo no último domingo, contou ao Canalmoz que alguns quilómetros depois do local do ataque deu sinal para outros motoristas sobre a existência de um perigo armado, mas a maioria destes não acreditaram e continuaram a marcha.
“Eu fiz a questão de avisar outros colegas automobilistas sobre a existência de perigo, mas não me quiseram acreditar. Por exemplo, avisei o motorista do autocarro da InterCape e do camião que transportava combustível mas o pior aconteceu. Algumas pessoas que se faziam transportar nestes autocarros foram mortas”, explicou Carlos Taibo, motorista do autocarro da ETRAGO, ora atacado. (António Frades)

Sem comentários: