quinta-feira, 11 de abril de 2013

Afonso Dhlakama “é o maior político-militar do mundo”

 
Afonso Dhlakama
No seu reduto em Gorongosa.
Sem energia eléctrica, nem rede para telemóvel, mas com um cozinheiro de Inhambane que faz “qualquer prato, mesmo de Portugal”, é como desde Outubro vive o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, na base de Satunjira, centro do país.
Esta quarta-feira, dia 10 de Abril, teve a visita de mais de 30 jornalistas, a maior parte moçambicanos, quase todos a visitarem pela primeira vez a praça-forte da antiga guerrilha, e, agora, maior partido da oposição no país.
Para lá chegarem, com partida na incontornável Pousada Azul, do português Eugénio Nobre, na vila de Gorongosa, os jornalistas cruzaram uma cancela aberta por soldados e percorreram uma picada com 30 quilómetros, por entre os guerrilheiros da Renamo e polícias de elite da Força de Intervenção Rápida.
Apesar disso, o ambiente não podia ser mais tranquilo, com a serra da Gorongosa sempre recortada no fundo de uma picada de terra dura e branca, entre plantações de milho e goiabeiras silvestres, percorrida por muitas pessoas, pobres, semi-nuas, descalças e sorridentes.
Neste cenário de isolamento, num fim do mundo que suscita as maiores inquietações em Maputo, 1 500 quilómetros a sul, Dhlakama conhece os jornalistas um a um - e a maior parte nunca tinha estado ao pé dele - e lembra episódios de entrevistas, de opiniões expressas e até de partidas que lhe pregaram, como a de o declararem assassinado no último dia 01 de Abril.
A presença de tantos jornalistas torna-o desabrido: “Sou o maior político-militar do mundo”, proclama, sem se rir. E explica: “O papa, que é o papa, demitiu-se e eu, que ando há 20 anos a levar porrada, continuo e não desisto. Conhecem alguém igual?”.
Rodeado por alguns dos seus principais dirigentes, que mantêm com ele uma postura de reserva e deferência, Dhlakama recusa deixar-se fotografar com a sua guarda pessoal, dezenas de homens armados e fardados de verde escuro, mas aceita o retrato, a só, diante da sua casa de paredes de barro seco e telhado de capim. “O meu palácio”, exclama, abrindo os braços.
E o ambiente esfria um pouco quando lhe perguntam se não receia ter o mesmo fim do angolano Jonas Savimbi, da UNITA. “Não há comparação entre Savimbi e Dhlakama; Dhlakama tem a sua história”, garante, e passa à pergunta seguinte. “Outra!”
*Com a devida vénia do “O País”

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