quinta-feira, 21 de março de 2013


PAQUERADOR

Talvez por ter nascido pobre – embora eu pense que seja mais devido à maneira como escolhi viver do que outra coisa –, no que concerne às mulheres, eu sempre fui um paquerador.

Sempre vivi balançando entre o olhar penetrante do...s meus olhos e as palavras cortantes que a minha lábia soltava nas tardes e noites em que me encontrasse inspirado ou arrebatado por alguma beldade.

Em boa verdade, não éra preciso muito para que eu me pusesse a paquerar uma mulher. Um bom rabo, por vezes, éra motivo suficiente. Noutras vezes, seios picantes, daqueles seios cheios e tesos que apontavam para o homem como se estivessem suspirando um “Me chupa, me morde”, me impeliam a paquerar uma mulher. E teve vezes em que pulei para a paquera somente pelo desafio de paquerar.

De paquera em paquera, fiz o meu nome de paquerador que hoje carrego com orgulho.

No meu currículo paqueral, ao longo de 13 anos de carreira, paquerei acima de 300 mulheres. E só conquistei 2. Foram estas duas – junto com as mulheres que embebedei mais aquelas de que me aproveitei e também as prostitutas que paguei – que me ensinaram e fizeram tudo que sei sobre sexo, em todas as posições e condições.

Ainda assim, das maiores paqueras que foram ditas neste Maputo, algumas foram da minha autoria. Se se fizesse um Top 10 das Maiores Paqueras Maputenses, eu teria umas 3 paqueras na lista. Para paquerar mulheres sempre fui criativo.

Lamentavelmente, a criatividade na paquera quase que nunca compensou neste Maputo. Eu apresentava grandes paqueras, e as mulheres me golpeavam. Mudava para uma paquera superinspirada, e as mulheres me golpeavam. Tentava uma paquera ainda mais arrojada, e as mulheres, à mesma, me golpeavam.

Enquanto crescia, tendo uma boca rasgada, não éra fácil, impor-me no mercado feminino. As meninas eram cruéis demais para comigo. E eu éra tímido e reprimido. Praticamente não me aproximava delas.

Na transição da adolescência para a juventude é que comecei a paquerar. Porém, as meninas, tornadas mocinhas, continuavam cruéis. Elas não me poupavam: partiam-me todos os dias! Mas eu não desistia: quando éra rejeitado por uma, logo seguia para paquerar outra.

Mesmo tendo uma boca rasgada, nunca me fiz de vítima. Nunca parei para chorar por isso. Nunca culpei ao defeito da minha boca pelo meu insucesso feminino. E nunca me acovardei ao ponto de paquerar as mais feias ou desajeitadas ou rejeitadas, por aí ser um campo onde mais facilmente pudesse ter sucesso. Nunca!

Eu sempre queria as melhores mulheres. Ia paquerar as melhores mulheres. E eram essas que, invariavelmente, davam-me golpes muito duros. Eu encaixava os golpes com dignidade, e partia para outra paquera.

Éra o tipo de homem que, de manhã, podia estar apaixonado por uma mulher, para, de tarde, estar a amar outra e, de noite, estar quase a suicidar-se por conta de uma terceira. Sempre encarei as paqueras com seriedade e diversão.

Claro, entretanto, nem sempre foi divertido. Teve vezes tristes. E foram duas apenas. As mulheres golpeavam-me e eu mantinha-me em pé, todavia, nessas duas vezes, fui realmente ao tapete. KO! Knock-Out! E arrastaram-me pelos pés para fora do ringue, eu desmaiado.

Na primeira vez, ainda adolescente, uma menina disse-me, no meio de uma multidão, que mesmo que eu fosse o último homem do planeta ela não me aceitaria. E a multidão fez a festa às minhas custas: eu ali, caído, eles, animadamente, tripudiando de mim.

Na segunda vez, na escola de uma miúda, foi a humilhação total. A miúda, junto com as amigas, fazendo a roda, petiscando e bebendo a mim, eu ali, como um parvo, assistindo até aos homens a ridicularizarem-me. Foi mesmo uma grande humilhação. E foi também a partir daí que decidi não mais ir à escola de uma mulher.

Entretanto, até mesmo nestas vezes tenebrosas, passados alguns dias, levantei-me, sacudi a poeira, e voltei a paquerar.

Os paqueradores aqui de Maputo sempre tiveram algo a que chamavam de “papo”. O papo éra a conversa que se dizia a uma mulher, o convencimento que se impunha a uma dama para que ela aceitasse ao paquerador e, finalmente, se deixasse conquistar.

No papo, eu sempre fui bom. Bom mesmo. Não foi pelo papo que as mulheres me rejeitaram, foi por um outro motivo – motivo esse que não me interessa conhecer, afinal, eu sou um paquerador e os paqueradores preocupam-se com o papo somente e nada mais.

E só podia ser bom de papo. Eu acompanhei a evolução do papo em Maputo e aprendi do mesmo. Eu vi, ainda menino, um velho aqui do meu bairro a dizer a uma outra velha que “Loku niku vona a muzimba va mina vo hisa” (“Quando eu te vejo, o meu corpo aquece”). Acompanhei a “Geração Romântica” em acção, aqueles que decoravam as letras de Leandro e Leonardo, as adaptavam, e as diziam, em jeito de papo, às mulheres (“Não me olha assim, dama. Tu és linda demais e tens tudo o que eu preciso em uma mulher”). E comecei a paquerar na “Geração Directa”, aquela que já dizia directamente à mulher que “Dama, tu tens um bom rabo!”.

Todas as influências destas 3 gerações de paqueradores maputenses passaram para mim e enraizaram-se. Eu cresci com as mesmas.

Hoje em dia, praticamente, já não há paqueradores em Maputo. Os homens de agora optam pela estratégia prática de seguirem as mulheres enquanto conduzem um carro e/ou as levarem a sair para um lugar caro e… toma que te dou!

As mulheres também já não apresentam muita dificuldade. Já não deixam os homens de molho nem fazem aquele charminho da demora para dar uma resposta.

Ah, como éra gostoso ir buscar uma resposta! Embora eu quase sempre fosse buscar respostas perturbadoras, ainda assim, aquela ansiedade, aquele friozinho na barriga, o nervo miúdo, a expectativa de ser aceite, e o olhar e fala da mulher quando fosse anunciar o veredicto final ao réu paquerador… oh, éra tudo lindo quando não conseguisse ser mágico! No tempo em que as mulheres eram princesas! Claro, hoje as mulheres ainda são princesas, mas, cada vez mais, vão parecendo princesas que vêm da Transilvânia, terra do Conde Drácula…

Em pura verdade, foram as mulheres que contribuíram para o declínio da paquera e, por conseguinte, do paquerador. Quando deixaram de ser difíceis, as mulheres lixaram o esquema. Afinal de contas, o trabalho do paquerador sempre foi convencer a mulher mais difícil a aceitar-lhe. Fora de que, como escrevi acima, a arma do paquerador éra o papo, portanto, como é que iria ele lutar contra o carro e contra as saídas?

As mulheres, ao darem primazia ao carro e às saídas na corrida – em resumo, aos bens materiais – para sua conquista, mataram a paquera. Sem a paquera, o que restou foi esta falta de humanidade, falta de sentimentos, falta de sonhos, falta de decisão que guia a geração actual. E, deste modo, as mulheres, decididamente, contribuíram para o amor pelo fácil que está enraizado nos homens maputenses.

Hoje estão todos a conquistar as mulheres sem sequer passar pela paquera. Um homem que tenha carro ou dinheiro tem tantas mulheres consigo e/ou atrás de si. Só descobre que ele não vale nada quando perde o carro e/ou o dinheiro, pois, todas as mulheres também se vão.

Entretanto, como diriam alguns homens, o fim da paquera é mesmo a conquista, pois não? Então, porquê perder tempo com a paquera ao invés de se ir directo ao ponto – que é conquistar a mulher, não importando os meios?

Bom, para um paquerador, o meio para conquistar uma mulher é só um: a paquera, a lábia, a conversa, a sedução, a cabeça funcionando simplesmente, sem truques materiais. Isto é algo antiquado? Que seja! Todavia, ser paquerador é ser mesmo isto.

É por isso que digo que eu sou o herdeiro dos paqueradores do passado. E o último grande paquerador anónimo de Maputo.

Com os homens actuais preocupados apenas com a conquista, eu vou mantendo a paquera viva, acima de tudo, com dignidade. Após mim, será o dilúvio para a paquera…
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  • Victor Manhique Adorei Niosta Cossa grande texto sim senhor!!!!!, uma estória engraçada que nos faz reflectir na realidade dos dias de hoje, parabéns mano. o meu conselho era que tivesses as tuas crónicas em manuscrito assim ja dava para um dia pensar em editar um livro

    a tua escrita é leve, não aborrece, e todos nós sentimo-nos directa ou indirectamente dentro dela.....

    abraços
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  • Mauro Steinway Well. Eu nunca fui bom paquerador, maximo que sei fazer, e olhar para tras quando as mocas passam e em silencio dizer "meninas". Eu ja sei que elas nem vao dar a minima, mas da-me prazer fazer isso. Eu sou do tipo directo, ponho as cartas na mesa (Quando estou realmente interessado).
    Quanto ao facto de as mulheres nao serem mais dificeis, questiono isso. Acredito que as mulheres pelo menos as que vejo no meu dia a dia, fazem-se muito. Acredito que na nossa sociedade, ha mulheres que realmente acreditam que quando passam diante de 20 homens e eles todos poem-se aos assobios, as apreciacoes, significa que eles estao realmente interessados nela. Eu acredito que apreciar mulheres e paquerar, e mais um instinto masculino do que desejo. Esta crenca faz com que muitas mulheres que vejo andem sempre de nariz empinado. Quanto a questao das posses, bem isso acho que funciona em todo o lado. Se formos a falar de massas, e nao de um tipo especial de mulher, as aparencias fisicas associadas ao capital (na nossa pobre terra, onde se vive mais de aparencias, podemos usar um bom carro como exemplo) tem grande efeito na arte de conquista.
    Para mim conquista nao existe necessariamente. Eu acredito mais na ideia de conhecer alguem por algum motivo, ir mantendo contacto com a pessoa, com ou sem interesse, e depois de um tempo as coisas fluem naturalmente.
    Acredito tambem que ha muitas mulheres que num primeiro ou segundo olhar nao nos parecam bonitas, mas num terceiro olhar vemos outra coisa (Ja aconteceu comigo).
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  • Mauro Steinway Resumindo: Para mim, conquista e inutil...Ou mesmo, nao existe!See Translation
  • Luisa Almeida Hoje é só charme, parabéns
  • Niosta Cossa Mauro, estou contigo. Eu próprio brinco dizendo que “evoluí a paquera”, pois, por estes dias já não levo e/ou faço a paquera como os antigos. Faço exactamente como dizes. Porém…

    Primeiro, é preciso diferenciar a paquera da conquista. O paquerar é, bas
    icamente, cortejar uma mulher, sem saber qual será o resultado final. E o conquistar é conseguir a mulher, ter a mulher, possuir a mulher.

    Portanto, concordo contigo quando dizes que a conquista é inútil. Contudo, não concordo com a parte em que dizes que não existe. Existe o conquistar uma mulher, ou seja, o homem segui-la e tê-la para si. Entretanto, é mesmo inútil esse exercício, ou por outra, nesse exercício há mais perdas do que ganhos. Tenho um texto onde abordo isso mais exaustivamente e ainda vou posta-lo, todavia, o que no mesmo recomendo é isto que muito bem escreveste: “o ir conhecer alguém por algum motivo, ir mantendo contacto com a pessoa, com ou sem interesse, e depois de um tempo deixar as coisas fluírem naturalmente”. Aliás, isto é o que chamo de “nova paquera”. E é a paquera que vou mantendo viva com dignidade.
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  • Niosta Cossa De que charme falas, Leoa Almeida?See Translation
  • Luisa Almeida Do teu, claro
  • Américo Matavele Paquerar às vezes é um hobby. Alías, num mundo declinado como este, paquerar só pode ser um hobby. Mas há mulheres dignas de paquera, e há as que só são conquistadas por uma buzinadela. Não acredito que todas tenham se autodestruído pelos bens materiais, pois conheço algumas que ainda dão bons chutes nos traseiros masculinos, tanto paqueradores assim como buzinadores. Por mim, a paquera é o meio que serve como o esteio da relação, porque uma buzina não tem sentimento, e as que são conquistadas dessa forma também não o tem. A maioria das mulheres por agora já nem são mulheres! São andróides cobertos de pó, tinta e plástico, onde bate um coração cuja bomba está neste formato: "$". Só. Mas como disse, ainda resta um bastião de amazonas que defendem a femenilidade sentimental e comportamental, como ainda existe uma franja de paqueradores onde o mano Niosta faz parte. Cada Ying o seu Yang.See Translation
  • Hernye Acham Eacham Claro que ainda há paquera.

    E além da paquera que o amigo Niosta traz no seu post (arojada, labiada, inteligente e tal), tem-se praticado um tipo de paquera muito selvagem cujos percursores são conhecidos como "PAQUERADORES DA RUA/BARATOS". Esta paq
    uera é, geralmente praticada por aqueles "brutamontes" (sujeitos boçais, forçudos, grosseiros, perversos e, geralmente, de maior de idade) que aliciam menores nas ruas (vias públicas) a jogarem cheia, pindjonce e, algumas a irem e/ou a voltarem da escola.
    Escutem o que vos digo: ESTES SUJEITOS IRRITAM "CÃO-CÃO" (como diria amigo Niosta). Trajam e perfumam-se de smell e papo picantes e iritantes e, de seguida fazem-se aos locais de maior fluxo das vítimas.

    Agora, falando de paquera que é exclusiva e especialmente para gente fina no papo/lábia, ah, essa é para os VIP'S no espírito e na criatividade. MODÉSTIA À PARTE, "QUEM PROVA DA CRIATIVIDADE DE HERNYE ACHAM", DESCOBRE A BELEZA, O SABOR E O BOM DA ARTE.

    Não estou a vender peixe, já sou casado e Niosta testemunhou como padrinho do "tchadoro".

    VIVA PAQUERA!!
    Saudações aos paqueradores verdadeiros do universo Maputo!!

    VIVA PAQUERA!!
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  • Edgar Kamikaze Barroso Niosta, esse cara aqui no teu texto sou eu! Heheheheheheheheh...See Translation

1 comentário:

Anónimo disse...

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