domingo, 3 de fevereiro de 2013

Socialistas espanhóis exigem a demissão de Mariano Rajoy

 

Socialistas espanhóis exigem a demissão de Mariano Rajoy
legenda da imagemO líder do PSOE, Alfredo Pérez Rubalcaba, disse que o primeiro ministro Mariano Rajoy está "incapacitado" para dirigir o país
Juan Carlos Hidalgo, EPA

O líder dos socialistas espanhóis exigiu domingo a demissão do primeiro ministro Mariano Rajoy, cujo nome aparece envolvido num escândalo de alegados pagamentos secretos a dirigentes do Partido Popular . Alfredo Perez Rubalcaba considera que o líder do PP está “incapacitado” para dirigir o país e deixou de ser uma solução para passar a ser um problema. Na véspera, Rajoy tinha negado ter recebido ilegalmente verbas de um fundo secreto do seu partido, mas o secretário-geral PSOE diz que o chefe do governo nada explicou e apenas aprofundou ainda mais a crise que a Espanha vive atualmente.

Na sua intervenção, o líder dos socialistas espanhóis não esclareceu se o PSOE vai exigir eleições antecipadas ou apresentar uma moção de censura no parlamento (o que não deveria produzir efeitos, já que o PP dispõe da maioria absoluta ).

“Haverá tempo mais tarde para analisar as implicações parlamentares” disse Rubalcaba, “o importante é que o primeiro-ministro está incapacitado. Mariano Rajoy não pode levar este país em frente”.
Contabilidade secreta e pagamentos extra-salariais
Há três dias, o diário espanhol El País publicou folhas de contabilidade manuscritas com as alegadas “contas secretas” do ex-tesoureiro do Partido Popular Luis Barcenas, onde aparecem nomes de vários altos responsáveis do PP, junto dos montantes que cada terá recebido, para além dos seus salários “públicos”.

Entre os nomes figurava o de Mariano Rajoy, presidente do PP e atual primeiro-ministro que, segundo o diário madrileno, terá recebido 25.200 euros por ano, entre 1997 e 2008 de uma espécie de “saco azul” que o partido mantinha em segredo.

O dinheiro deste fundo provinha, alegadamente, de donativos feitos ao partido por empresários da construção civil, numa altura em que o PP estava no poder e que coincidiu com os anos do “boom” da construção espanhola - uma altura em que os políticos autorizavam um grande número de contratos de construção civil.
Rajoy nega e promete divulgar as suas informações fiscais
Sábado, Rajoy veio afirmar , preto no branco, que nunca recebeu esse tipo de pagamentos.

O primeiro-ministro e líder do Partido Popular prometeu que vai tornar públicas todas as suas declarações de rendimentos e de património para mostrar que “não tem nada a esconder”.

Para o líder do PSOE, a intervenção do chefe do governo não foi suficiente:

“Na sua alocução de ontem, o sr. Rajoy negou tudo. Não explicou, acusou, enredou-se. Disse que todos mentiram menos ele e os seu partido, que tudo faz parte de uma operação para desestabilizar o seu governo. Os que os cidadãos esperavam do presidente não era ataques mas sim explicações”, disse o secretário-geral socialista.

O líder do PSOE recordou que tinha exigido ao chefe do governo que dissesse se tinha recebido pagamentos por fora do salário e, em caso afirmativo, se estes tinham sido declarados ao fisco. “À primeira pergunta ele não respondeu”, disse Rubalcaba.
Rubalcaba: Rajoy é um "peso morto"
“O momento que se vive é o que antecede uma mudança na presidência do governo. O senhor Rajoy é um peso morto, deve abandonar a presidência ”, insistiu.

“Longe de ter recuperado credibilidade, Rajoy aprofundou a crise que a Espanha atravessa. Faz falta um governo fiável, forte, digno de confiança, e o do PP deixou de o ser, a começar pelo seu presidente”, disse Rubalcaba .

“O sr. Rajoy deixou de ser uma solução para se converter num problema . Não está capacitado para pedir sacrifícios aos espanhóis. Não pode dirigir o nosso país”.

“Pedimos-lhe que abandone o cargo e dê lugar a outro presidente” acrescentou ainda o líder socialista sem explicitar se esse novo primeiro-ministro seria outro dirigente do PP, um partido que os socialistas consideram estar também manchado pelo “Caso Gürtel”, uma rede de corrupção que envolve empresários e dirigentes do Partido Popular e que ainda está a ser investigada nos tribunais.
"Decisão muito grave"
O líder do PSOE confirmou que não tinha contactado com Rajoy para lhe pedir explicações em privado, antes de apelar à demissão, nem tinha contactado com os dirigentes de outras forças da oposição.

Rubalcaba, que cancelou a visita que tinha previsto fazer a Portugal este domingo por causa da crise política em Espanha, esclareceu que passou todo o dia de ontem em reuniões com destacados membros do partido socialista porque segundo admitiu: “Este apelo à demissão do presidente do governo não é algo que o PSOE tenha feito “muitas vezes durante a sua história".

"É uma decisão na qual tivemos de meditar muito porque é muito grave “, disse o líder socialista, que também se manifestou disposto a pedir a todos os dirigentes do seu partido para que também tornem públicas as suas declarações de renda e de património:

“Não me oporei, não tenho nenhum problema. Transparência em todas as contas, em todas”, disse, mostrando-se no entanto descontente o facto de o debate sobre os pagamentos ocultos possa conduzir a essa questão quando “se trata de um debate distinto, que transcende as declarações de renda”.
Sondagem mostra descontamento dos espanhois
Uma sondagem publicada domingo pelo El País, indica que nenhum dos dois principais partidos (PP e PSOE) obteria a maioria neste momento, no caso de se realizarem eleições antecipadas. O PP registou 23,9 por cento das intenções de voto, quando há um mês a mesma sondagem tinha apontado 29,8 por cento. O PSOE pouco se alterou, mantendo-se em redor dos 23,5 por cento.

A sondagem mostra que 77 por cento dos inquiridos desaprovam Rajoy na chefia do governo e 85 por cento não tem qualquer fé no atual primeiro-ministro.

Oitenta por cento dos que responderam ao inquérito acham que os líderes do PP que foram alegadamente identificados como tendo recebido os pagamentos ocultos, se deviam demitir. Quase todos, 96 por cento, acham que a corrupção está generalizada e não é adequadamente punida.

A sondagem do El Pais foi conduzida entre 30 de janeiro e 1 de fevereiro, tendo sido entrevistadas 1000 pessoas dispersas por toda a Espanha.

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