quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Ruanda já sente o preço da ambição política

Roger Gadwin |

 
05 de Fevereiro, 2013
O governo do Ruanda, finalmente, começa a sentir na pele o preço da sua ambição política patenteada no apoio explícito dado a diverso tipo de grupo rebeldes que têm por objectivo desestabilizar a região norte da Republica Democrática do Congo, mais concretamente a região do Kivu. É precisamente nessa região do Kivu-Norte que o executivo do Ruanda, dentro das suas águas territoriais, está a acabar de construir uma gigantesca barragem que quando as obras ficarem concluídas terá capacidade para resolver um terço das suas imensas necessidades energéticas. O chamado “Kivu Watt Project” (em tradução livre “Projecto de Águas do Kivu”) está orçado em 140 milhões de dólares, apenas para a finalização da sua primeira fase, que se espera esteja concluída em finais de Abril e contou com as ajudas financeiras dos Estados Unidos, Inglaterra e União Europeia.
Se para finalizar a construção da primeira fase parece haver já financiamento suficiente, a verdade é que para as outras duas começam a surgir sinais de que as coisas se poderão complicar devido, precisamente, a dificuldade do governo do Ruanda, sobretudo do seu presidente, Paul Kagame, em aceitar as regras do jogo democrático e deixar de intervir na vida interna dos países vizinhos, sobretudo da poderosa RDC. Desde o genocídio que em 1994 vitimou cerca de 800 mil pessoas que a comunidade ocidental havia deixado de ajudar financeiramente o Ruanda, como forma de protesto contra flagrantes e inaceitáveis violações dos direitos humanos consubstanciadas no cometimento de diverso tipo de crimes contra a humanidade.
Porém, nos últimos anos, começaram a surgir sinais de que o presidente Kagame poderia estar interessado em reverter a imagem do país aceitando as regras do jogo democrático e podendo, por isso, ter o benefício da dúvida.
Esse “benefício da dúvida” trouxe consigo alguns apoios internacionais passando, desde os últimos seis anos, o Ruanda a figurar na lista dos países africanos merecedores de uma oportunidade e por isso, fazendo parte do itinerário continental de diversos chefes de Estado ocidentais. A verdade é que as autoridades do Ruanda passaram a ter um tipo de discurso político que não se ajusta a sua actuação prática, nunca conseguindo travar a tentação de intervir, directa ou indirectamente, nos assuntos internos dos países vizinhos, com maior expressão mediática no conflito que na RDC opõe o governo aos grupos rebeldes que actuam na região do Kivu-Norte, precisamente na fronteira onde se encontra o tal projecto de construção de uma barragem hidroeléctrica.
No último episódio da saga que prova a instabilidade na referida região, as coisas agravaram-se de tal modo que as próprias Nações Unidas foram chamadas a aplicar medidas duras no sentido de evitar o agravamento irreversível de uma situação que já configura aspectos que se enquadram nos chamados “crimes contra a humanidade”.
Não querendo diminuir a sua influência no seio das Nações Unidas e como forma de pressionar o Ruanda a deixar se de intrometer em assuntos que não lhe dizem minimamente respeito, os Estados Unidos reduziram de forma drástica a sua ajuda militar, que agora está limitada a uns “simbólicos” 200 mil dólares. A Inglaterra, segundo fornecedor de ajuda ao Ruanda, anunciou a suspensão da entrega de 120 milhões de dólares anuais enquanto outros países europeus, de forma individual ou ao abrigo da União Europeia, se preparam para congelar as suas doações.
Organizações como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Africano de Desenvolvimento anunciaram a revisão de uma série de projectos de forma a “enquadrá-los naquilo que é a actual realidade do país”. Em Kigali estas decisões começaram já a ter efeitos surgindo, pela primeira vez desde 1994, troca de moeda estrangeira fora do circuito bancário, um fenómeno que já está a arrastar consigo o aumento significativo da inflação.
A oposição a Paul Kagame, por seu lado, aproveitando todo este cenário, começa a dar sinais de se estar a organizar para intensificar as suas acções de protesto. A nível das próprias forças que apoiam o governo surgem já sinais de divisão, havendo a convicção de que será impossível ao executivo atingir o objectivo de transformar a configuração da economia do país, até 2020, e que agora sobrevive à custa de uma agricultura de subsistência. Nos planos do governo estava um crescimento anual de 11 por cento até 2020, mas essa meta já foi descartada pelo próprio governador do banco central, Claver Gatete, ao considerar que a suspensão ou mesmo a diminuição da ajuda financeira externa terá efeitos catastróficos para o futuro do Ruanda.
O modelo de desenvolvimento para o Ruanda, elaborado com a supervisão de especialistas britânicos, previa apoios directos para sustentar o orçamento de Estado o que chegou a ser um bom exemplo que poderia ser seguido por outros países pobres. Mas para que esses apoios directos fossem concretizados era necessário que as autoridades do Ruanda cumprissem uma série de compromissos políticos, sendo um deles o de não apoiar qualquer tipo de tentativa de instabilidade em países vizinhos. Neste momento o Ruanda tenta utilizar da melhor forma o lugar de membro não permanente das Nações Unidas, válido por dois anos e que foi recentemente conquistado, para tentar pressionar alguns parceiros a reverem as suas posições.
Trata-se de uma tarefa cujo êxito é muito duvidoso, uma vez que não existe um único país, africano ou não, que tenha aplaudido ou fingido ignorar o apoio explícito que o Ruanda sempre está disposto a dar a quem quiser afrontar as autoridades da RDC. Essa opção estratégica do Ruanda, que revela a enorme ambição política de influenciar o poder instalado em Kinshasa, é incompatível com o actual quadro internacional de relacionamento entre dois países.
E, quanto mais tarde Paul Kagame perceber isto, mais difícil será o futuro do Ruanda, um país que necessita de tudo um pouco. Mesmo para que a barragem do Kivu possa entrar em pleno funcionamento, depois de concluída a primeira fase, são necessários mais 250 milhões de dólares que ninguém parece estar agora disposto a emprestar.

1 comentário:

Anónimo disse...

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