quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O regresso de Uria Simango a Moçambique, em 6 de Julho de 1974

 

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Mas antes, o copo de água – de caça às bruxas – transbordaria com o regresso do Reverendo Uria Simango a Moçambique. Machel e dos Santos aperceberam-se de que o assunto não era para menos, pois acabava de desembarcar na terra natal o seu histórico adversário. Era preciso agir rapidamente, encetando diligências junto as novas autoridades portuguesas no sentido destas colaborarem com o futuro regime de Moçambique. Simango era um adversário à medida, com capacidades de desmistificar o messias que se aguardava de Dar es-Salam.
Com efeito, o Reverendo regressou a Moçambique a 6 de Julho de 1974. No então Aeroporto Sacadura Cabral na cidade Beira, foi efusivamente recebido por uma numerosa multidão dentre os quais políticos, familiares, amigos e um “batalhão” de Jornalistas. Segundo revelaria mais tarde Ricardo Mapossa, na hora em que Simango pisava o solo pátrio, decorria, no Campo da Missão Benedito no Bairro da Manga, um comício promovido por alguns simpatizantes da Frelimo. Na circunstância, um dos oradores principais no evento dizia:
Sabemos que hoje chega Uria Simango, o reaccionário. Não liguem importância ao que ele falar. Tudo o que esse homem disser que seja do consumo dele e da sua família lá no quarto deles.
Infelizmente, por ironia do destino, esse orador, loucamente apaixonado por uma Frelimo que mal conhecia, viria a ser acusado por essa mesma organização das mais macabras coisas. Seria afastado do cargo que ocupava no núcleo da Frelimo ao nível de Sofala, decorridos que foram apenas nove meses da almejada independência. Vilipendiado e ridicularizado, regressaria a terra natal (Maputo) onde, até aos dias de hoje, se sente, segundo suas palavras, “atirado para a prateleira dos esquecidos”.
Numa mensagem de boas-vindas endereçada a Simango no Aeroporto da Beira, Joana Simeão diria:
Regressas a Moçambique depois de uma ausência de 12 anos. Mas quem és tu? Foste Vice-presidente da Frelimo no tempo do falecido Eduardo Mondlane. Após a sua morte viveste horas dramáticas. Foste insultado, castigado, metido na prisão por ordens dos outros dirigentes da Frelimo. Conseguiste sair desse inferno para o Cairo, viajaste pelo mundo. Filiaste-te depois no Coremo, onde és secretário-geral encarregue das relações exteriores. Certo de que era tempo de fazeres um gesto para começar o processo descolonizador, vieste para junto de nós. O teu regresso leva-nos a perguntar porque é que o martírio do povo moçambicano continua, apesar das propostas de paz apresentados pelo Governo Português.
Antes do 25 de Abril lutava-se justamente contra o colonialismo português.
Depois do 25 de Abril essa carnificina não tem mais sentido.
Os nossos jovens não podem continuar a ser sacrificados. É tempo para a paz e dentro desse clima de paz, e através de um processo democrático – de eleições – a independência de Moçambique.
Aproveitamos uma vez mais para apelar aos nossos irmãos da Frelimo que façam esforços necessários e sérios para que a paz venha a Moçambique. Que regressem depressa para construir connosco um País independente, justo e fraterno do qual não podem ser excluídos os outros filhos representantes dos grupos minoritários, entre os quais os Asiáticos e brancos. A reconciliação entre irmãos impõe-se. Tarefa prioritária, a Paz, a construção de um País poderoso e fraterno”.
Após a leitura desta mensagem, seguiu-se uma conferência de imprensa.
A clarividência nos objectivos a atingir na luta estão devidamente elaborados na mente do Reverendo. O homem, transportava consigo um saber que lhe conferia capacidade de prever o futuro breve de Moçambique se a sua mensagem não encontrasse espaço entre os que então detinham o poder em Lisboa. À perguntas provocatórias de jornalistas pró-esquerdistas que despontavam como cogumelos nessa época, Simango responderia patenteando o seu saber moldado durante longos anos de luta. Tinha consigo uma experiência vivida em cada terreno por si pisado pelo mundo fora. Homem viajado, depois de se referir ao seu regresso a Moçambique, Simango diz:
Tenho conhecimento de que desde Abril para cá os aviões para Lisboa estão cheios. Não vejo razão para isso. Nós somos pacíficos. Nós vivemos os problemas que existem. Problemas políticos, sociais, culturais e económicos. Todo o moçambicano, qualquer que seja a sua cor, a sua raça, é necessário para a construção de um Moçambique livre e novo. Nós não estamos para combater, não estamos para uma queda, estamos para uma continuação de progresso. Todos os Moçambicanos de todas as raças participem.
Todos temos um papel a desempenhar. Não estamos aqui para um Moçambique subdesenvolvido, porque de contrário não seríamos responsáveis. O povo Moçambicano, o povo Português, hoje estão livres. E foi graças a todo o nosso esforço.”
Iniciaram-se depois as perguntas formuladas pelos jornalistas.
Um elemento da emissora da Beira perguntou se Simango estava em Moçambique provisoriamente ou se iria ficar?
Simango: Venho para ficar e trabalhar.
Mas, qual é exactamente o objectivo da sua vinda a Moçambique”? – perguntou o mesmo jornalista.
Simango: Como sabem, durante muitos anos trabalhei para encontrar uma solução para o problema de Moçambique. Venho agora colaborar com outros que estão cá e, juntos encontrarmos essa solução.
Como entende uma independência de Moçambique?
Simango: Acho que é uma situação natural. Um País depois de atingir uma certa posição deve ser independente. O Governo Português reconhece esse direito, essa necessidade. Não é uma situação estranha. É uma medida que está em conformidade com a política actual do Governo.
In “URIA SIMANGO Um homem, uma causa”, de Barnabé Lucas Ncomo

2 comentários:

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