quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O “fim da história” de Francis Fukuyama é conveniente


Um magistral texto de Noe Nhantumbo...


África ainda tem oportunidade de acordar de sua longa hibernação…

Beira (Canalmoz) - Estrategicamente, falar e difundir a ideia de “Fim da História” tem as suas vantagens práticas e bem concretas. Uma das conclusões de muitos, após a queda do Muro de Berlim e do desmoronamento da União Soviética, terá s...ido que a nível mundial e no campo das ideologias já não havia novidades a anunciar ou previstas.
Há assuntos que continuamente surgem a nível do campo das ideias que preocupam cidadãos em todo o mundo. O grau de preocupação, obviamente difere e depende dos níveis de formação, educação e informação dos cidadãos.
Quando se comenta criticamente as políticas estabelecidas por determinados governos africanos raramente se menciona que na verdade estes se limitam a seguir recomendações e instruções de doadores e credores, ao invés de elaborarem algo próprio e visando potenciar suas possibilidade de desenvolvimento social, económico e político.
Os deficits de produção de estratégias de governação viáveis e que viabilizem os países em África não param de crescer.
O famoso Fukuyama, pensador e cientista político americano de origem japonesa, defendeu num dos seus ensaios que o mundo estava entrando numa fase de seu desenvolvimento que se poderia denominar de “Fim da História” conforme os conceitos convencionais. Finda a “guerra-fria” e com a adopção de modelos neoliberais pela maioria dos países do mundo, deixaria de haver diferendos de natureza ideológica que caracterizavam o mundo no passado.
Alegadamente o mundo entraria numa era de paz universal ou pelo menos de entendimento crescente entre os governos.
Francis Fukuyama, seus mentores e colaboradores nos “think-tanks”, centros de pensamento em que estava envolvido na altura, têm o mérito de ter produzido uma ideia, defendido uma tese, escrito sobre um assunto importante para os EUA e o mundo inteiro. Pensar e elaborar ideias, teorias com mais ou menos consistência na área da Ciência Política, em si é um mérito de pessoas preocupadas com os assuntos da governação. Quem não pensa condena-se a consumir os produtos dos que pensam. Esse é o caso da maioria doa africanos. Pensar e investir em áreas científica e tecnológicas é pouco relevante para a maioria dos governos em África. É mais fácil investir em 260 carros de alta cilindrada, de luxo e de marcas sonantes, se há esse número de deputados no parlamento nacional. Não se investe na criação de híbridos vegetais que aumentariam a produção de alimentos cronicamente descrita como deficitária. Não se investe na criação de institutos de tecnologia que ensinem e disseminem conhecimentos vitais para áreas fundamentais como engenharia civil, electrotecnia, electrónica, hidráulica, microbiologia, genética e outros ramos da ciência e tecnologia.
O recrutamento de recursos humanos altamente especializados para posições de docentes de instituições nacionais não acontece por iniciativa própria. Fica-se quase sempre a espera da bondade e boa vontade do doador.
A conveniência de uma tese como a de Fukuyama é notável no quadro das pretensões de hegemonia unipolar ensaiadas pela administração americana, especialmente durante a governação de George Walker Bush coadjuvado por Dick Cheney. Nada melhor do que ter o respaldo de cientistas políticos de nomeada, colegas de proeminentes individualidades do establishment americano como Paul Wolfiwiez e outros.
Um ensaio profissionalmente elaborado, pensado e que reflecte um profundo conhecimento de história política, produzido por um académico renomado e experiente serviu para catapultar o próprio para posições cimeiras na área da assessoria política na América. Mas é necessário que se diga que Fukuyama e outros académicos que com frequência são agraciados por prémios por sua excelência e acutilância no pensamento faz parte da tradição de um país em que tanto o governo como o sector privado, universidades públicas e privadas entendem e valorizam a investigação e pesquisa em todas áreas do saber humano.
Há bastante tempo que os governantes do chamado primeiro mundo, dos países que evoluíram e que agora fazem parte dos BRICS e dos G-20, compreenderam a importância de investir pesadamente na formação de uma massa intelectual crítica, em áreas onde possam obter vantagens comparativas rápidas e duradoiras. Não se trata simplesmente da questão de se produzirem ideias interessantes e com elas entrar-se para o campo da experimentação que dê validade a ideias, muitas vezes consideradas sem importância ou mesmo disparatadas. O estágio e aperfeiçoamento das pesquisas de base e avançadas assentam na capacidade de se traduzirem em ganhos práticos e lucros aquilo que vem dos institutos de investigação e ensino como o famoso MIT ou a Stanford University de Francis Fukuyama.
Convenhamos que se efectivamente vivêssemos o “Fim da História” nada mais restaria para fazer do que seguir viver conforme nos dissessem e instruíssem os que dominassem na arena internacional. Os EUA, com base considerada científica e legítima, politicamente conveniente, para proceder e moldar seus programas de governação, não hesitaram como se viu, em decidirem unilateralmente, por iniciarem guerras sob os mais incrédulos pretextos. As AMD ou WMD na versão inglesa, armas de destruição maciça jamais encontradas, levaram as tropas americanas a invadirem o Iraque. Os defensores da tese supracitada estavam convencidos de que assim iniciavam um ciclo de hegemonia unipolar americano.
Se houve um “divórcio” entre F. Fukuyama e os neoconservadores que se beneficiaram em termos de lucro, das guerras instigadas e concretizadas com base em percepções e teses construídas em centros de pensamento a que Fukuyama estava ligado, isso não significa que sua participação naqueles exercícios não tenha sido funesta. Ele contribuiu embora fosse de forma temporária, para que a pretensão hegemónica de uma franja política dos EUA visse sua agenda concretizada.
Falamos deste homem estudioso chamado Francis Fukuyama porque seu pensamento também serviu para anestesiar governantes e governados em África. Infelizmente, onde não se verificam cidadãos organizados e estruturados em centros de pensamento ou outras iniciativas similares, dificilmente se produzem ideias ou se comparam criticamente posicionamentos teóricos ou filosóficos.
E o pior é quendo alguns cidadãos tentam e conseguem construir plataformas destinadas a promover o estudo, pesquisa e investigação seria dos problemas nacionais os mesmos não são escutados, aceites ou recebem reconhecimento pelo seu esforço de elaboração de explicações comprovadamente úteis ao desenvolvimento. Há receios desmedidos pelos detentores do poder, a qualquer sugestão de que há razões mais do que suficientes para que se continue a lutar pelo desenvolvimento concreto dos cidadãos e dos países. Por mais resumida e bela que seja a proclamação antes que os factos a comprovem, desistir é alinhar em considerações subjectivas.
A ofensiva consumista africana pode também ser olhada ou analisada sob esse ponto de vista. Importa ter todo um pacote ideológico, com sustentabilidade científica, filosófica, promovido pelos grandes da comunicação social internacional, com sua génese em prestigiados institutos e universidades, para que uma agenda seja aceite e digerida sem dificuldades pelos destinatários.
Todo o figurino da dominação mundial encetada por sucessivas administrações americanas tem sustentáculos ideológicos, políticos e tecnológicos provenientes de uma base definida e circunscrita de pessoas que transitam da academia para as corporações e para o governo bem como você-versa nos EUA.
O binómio “Fim da História-Hegemonia Unipolar” foi tentado e perseguido tenazmente pela administração Bush e jamais foi relegada para terceiro plano pela administração Obama.
Claro e felizmente para o mundo, esses ensaios políticos tiveram oposição firme de outros players internacionais, nomeadamente a Rússia e a China. Se para a União Europeia, ao abrigo do Tratado do Atlântico Norte, NATO, era conveniente que os EUA continuassem a pagar a “parte de leão” da sua estratégia militar e defensiva, para os países emergentes e outros com aspirações a potências essa tendência transformada em política, tinha inconvenientes e era inaceitável. Mas como sabemos, África praticamente não reagiu e como habitualmente continua a ser comandada, dirigida e condicionada pelos poderosos.
Rússia e China têm uma tradição de investimentos em pesquisa e investigação. Se antes era algo dirigido especialmente para a área militar e com vista a protegerem-se a projectarem sinais de competência e poderio, os assuntos políticos, conceptuais e económicos jamais foram esquecidos. Fundamentar e criar uma sólida cultura nacional capaz de impor seu modelo no mundo pressupõe ter alguma coisa a dizer ao mundo e meios de fazer chegar essa mensagem.
O fim da guerra-fria não significou o esfriamento das ambições bélicas e tecnológicas de países emergentes como a Índia e o Paquistão. Brasil, Argentina, Coreia do Sul, Irão e outros. O restrito clube dos países possuidores de armas nucleares não conseguiu trava a proliferação de tais armas ou conhecimentos.
Mesmo um Conselho de Segurança desfasado da actual realidade política mundial, com o seu poder de veto, não conseguiu travar que a Coreia do Norte desenvolvesse e disseminasse tecnologia nuclear. Japão, Alemanha, Brasil, Argentina já poderiam estar providos de armas nucleares se não fossem outro tipo de considerações relacionadas a regras ditadas pelos vencedores da II Guerra Mundial.
Com a luta pela supremacia plenamente em aberto e com projecções apontando para a China alcançar e ultrapassar os EUA como principal potência económica mundial, isso preocupa sobremaneira qualquer administração americana e seus “think-tanks”.
Outro tipo de questão, posteriormente tratado por estudiosos americanos e outros, tem sido o terrorismo internacional e a luta contra o mesmo. A partir da altura em que uma equipa governamental enverada, unilateralmente, por um combate à escala global contra um inimigo móvel, as vezes invisível e volátil, refugiado e suportado por uma vasta gama de pessoas doutrinadas a hostilizar as intenções de um ”declarado inimigo”, os infiéis, todo o conjunto de tácticas, experimentadas em diversos palcos operacionais não tem surtido os efeitos desejados e os riscos mantem-se bem actuais como ficou demonstrado no deserto argelino. Islamitas alegadamente associados a rede da Alqaeda atacaram e tomaram de assalto um complexo de produção de gás natural com consequências humanas graves, pois muitos dos reféns acabaram morrendo.
Mesmo conseguindo construir coligações de dimensão razoável as linhas estabelecidas acabam por ser eminentemente de cariz de credo religiosos dos integrantes de tal coligação. Assim ganha peso a tese de que em certa medida, o combate contra o terrorismo internacional ganha cada vez a forma das antigas “Cruzadas”. Os apoios que as sucessivas intervenções americanas possam ter em países árabes ou islamizados normalmente provem dos autocratas que se mantem no poder contando com assistência militar e de segurança dos EUA.
Então conforme em certa medida o Francis Fukuyama parece reconhecer ao abandonar seus antigos colegas e aliados intelectuais neoconservadores, jamais se tratou efectivamente do “Fim da História”. Terá havido sinais que apontavam para tal eventualidade mas isso dissipou-se rapidamente.
Num cenário cada vez mais polarizado em que existe uma mistura e níveis de hegemonia aos africanos, seus governantes e governados cabe a responsabilidade inalienável de tomarem uma posição.
A dignidade de todo um continente está ameaçada por inconsistências filosóficas, por inexistência de coerência e por altas doses de falta de sentido de pátria, de pertença a uma nação.
Tristemente, temos de admitir que muitos dos que se arvoram governantes em nossos países não passam de traficantes de influências, vendedores de assinaturas de autorização de exploração de recursos naturais, de ”boladores” como se diz vulgarmente em Moçambique.
Na presença do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional “tremem que nem varas verdes ao vento”, “encolhem o rabo entre as pernas” e cumprem com as instruções. Em termos concretos foi o que se viu e se vê Moçambique onde empréstimos monetários de vulto foram contraídos para reabilitar a Linha Ferroviária de Sena. Agora após diversos interesses se terem unido e por iniciativa de consórcios corruptores ligados ao Banco Mundial, chegou-se a conclusão de que não é possível escoar o carvão de Tete com tal linha férrea. A dívida existe e é pública. Todos os moçambicanos terão que pagar pela incompetência de um governo que aceitou de mão beijada entra num esquema em que decidem e controlam a remotos controlo, entidades estrangeiras, corporações multinacionais como a VALE e o Rio Tinto, governos e especuladores financeiros. Cada vez que governos como o de Moçambique caem nas armadilhas do Consenso de Washington maior é o lucro de quem empresta o dinheiro.
Mas a verdade é que não há “Fim da História” anunciado que justifique deixar de pensar e de agir segundo consensos nacionais e regionais. Há tanta diferença de conceitos e de posturas no mundo que permitem prever que os combates de hoje, nos diversos campos, continuarão por muitos e muitos anos… (Noé Nhantumbo)

E esta drs. Elisio Macamo, Ernst Habermas e Rildo Rafael?
  • Ernst Habermas and 3 others like this.
  • Estacio Valoi Na boleia do Noe Nhantumbo, recomendar o livro ' Currency Wars ou as guerra da moeda' , Dolar, Euro...de James Rickards .
  • Elisio Macamo caro livre pensador, obrigado por chamar a minha atenção ao texto. acho-o interessante como. aliás, têm sido interessantes as reflexões feitas por algumas pessoas ligadas ao canal de moçambique. o meu problema é que estas reflexões acabam por ser auto-destructivas e pouco conducivas a debates úteis porque se deixam levar pela polémica política simplista. para dizer que somos governados por gente oportunista e corrupta o articulista não precisava de fazer este percurso do fukuyama, pois na verdade o que o texto mostra é que os nossos governantes são iguais aos que ele parece considerar mais clarividentes. nos eua houve um aproveitamento oportunista de fukuyama, conforme o articulista sugere; as guerras do iraque e do afeganistão serviram, como a gente sabe agora, para que um punhado de indivíduos se enriquecesse descaradamente. não vejo em que sentido bush e comparsas são melhores do que a caricatura que se faz do nosso governo. com isto não quero dizer que está tudo bem com os nossos governantes. quero apenas sugerir que o contexto estrutural dentro do qual eles agem precisa de maior atenção e que ele não se compadece com a marcação de pontos fáceis. uma pergunta útil que eu gostaria de sugerir que os críticos colocassem antes de tirarem as suas conclusões é a seguinte: porque é que eles são diferentes de todos aqueles que eles criticam? será simplesmente porque os outros são corruptos e incompetentes ou haverá outras coisas cuja discussão haveria de nos aproximar? de cada vez que deixamos de colocar esta pergunta transformamos a análise e reflexão em pugilismo de sombra comprometendo, infelizmente, ideias no fundo interessantes. abraços.
  • Ernst Habermas Ilustre Livre Pensador, agradeço por me colocar na senda desta reflexão! Quero interpela-la aproveitando a oportunidade para responder ao questionamento feito pelo Prof. Elisio Macamo. Caro Prof. o que acaba de dizer em seu comentário se apresenta como uma moeda de "dois gumes" (se é que existe tal moeda), deixa explica-lo porque: 1 (primeiro gume) - Devo discordar consigo, quando diz que o texto de Noe Nhantumbo acaba remetendo a reflexão em evidencia (a semelhança das outras que temos vindo a acompanhar) em um pugilismo de sombra comprometendo ideias interessantes, precisamente porque o texto acaba por apontar negativamente a actos (não "muito elegantes") cometidos pelos governos africanos. Pois bem, o texto de Noe Nhantumbo me faz lembrar um discurso de um amigo brasileiro (medievalista e - hoje - também africanista por excelência (José Rivair) que me dissera uma vez (num dos nossos contactos académicos na UFRGS): Sabes Eduardo, há varias maneiras de ler o social... Eu fui reflectindo bastante no que ele disse, e quando voltei a Moçambique, precisei ainda de mais dois anos para perceber o que ele me havia dito. Ele disse uma coisa simples, cada um interpela a realidade da forma que lhe mais parece conveniente (devido a sua formação intelectual, a sua cosmovisão, as suas influências sócio-politicas, as suas preferências...etc. E isto, leva-me - de imediato - a saudar a escolha feita por Noe Nhantumbo (F. Fukuyama), porque me pareceu de que estrategicamente, foi o melhor caminho de puder re-ver a história construída a partir dos interesses dominantes (quando nos faz lembrar dos períodos das grandes guerras, o pós-guerra, a "era do terrorismo" e hoje do "comercialismo obediente", talvez até, poderemos chamar a era actual (de África) de um "novo fim da história". Devo insistir, gostei da elegância reflectida e reflexiva apresentada no texto em análise; 2 (segundo gume) - O texto faz uma forte crítica a maneira como os países africanos assumem a ciência e os seus "artistas", ou seja, o texto é uma evidente acusação aos agentes do poder, de não abraçarem a ciência (pretensamente africana) e os seus "artistas" (cujo senhor é um eles), e com ela, não mais precisarmos de depender instituições como o BM (que aliás é muito criticada por si), o FMI, entre outras. Os EUA por exemplo, valorizam tanto a ciência e os cientistas que chegam mesmo a conferir medalhas nacionais de excelência académica em todos os anos, a cientistas que se vão destacando no cenario intelectual americano, não interessando a proveniência de tal intelectual (bastando só o facto de contribuir para o desdobramento "intelectual humano" doas EUA (como queria destacar Noe Nhantumbo, citando F. Fukuyama). E pelo facto dos governos africanos (os lideres do nosso poder) ainda não darem o valor necessário e suficiente a ciência e aos cientistas, tenho estado a observar da sua parte (Prof. Elisio), um trabalho muito profundo, de grande coragem, inteligência e sabedoria, em se juntar as elites do poder politico (pelo menos em termos de defesa e engajamento crtico sobre as suas acções), para ver se de facto, mudamos o olhar que temos pelos Cientistas (em particular os sociais, como F. F.). Isto me lembra a "Frankreich" de Voltaire, D´alembert e Diderot, ou mesmo a Itália de Maquiavel, homens fortemente ligados a política. Porquê um intelectual não pode se juntar a política?: Que mal há nisso? Aliás, é bom termos intelectuais defensores da política, porque assim, ponderam contribuir de perto, para a melhoria das condições societais do país. E este, é o outro gume da sua reacção ao texto em análise. Noe Nhantumbo tem razão sim, precisamos de gente bem formada, industrias, tecnologia avançada, mentes críticas, para interrompermos o curso histórico do qual nos submetemos a viver, desde o momento do anunciado fim-da-história por F. Fukuyama, onde acabamos por entrar de um buraco qualquer que se escondia no tecto do universo, e caímos, desmaiamos e nos encontramos ainda desacordados. Por isso (para concluir o texto em análise, e abrir novas reflexões) vale a pena repetir o conceituado ditado de Rui de Noronha: Africa Surge et ambula!...
  • Elisio Macamo caro ernst habermas, obrigado pela sua interpelação. espero tê-la percebida correctamente. concordo consigo que todo o autor é livre de escolher a melhor via para a apresentação de suas ideias. nesse sentido, est'a de parabéns o noé nhantumbo por ter feito optado por fukuyama. a questão que eu levantava, contudo, era outra, nomeadamente o que ele quer realmente dizer com isso uma vez que o que ele mostra é a instrumentalização das ideias dum intelectual pelos políticos. em todo o lado há isso, mesmo em moçambique. creio que o governo também utiliza as ideias de certos intelectuais (nacionais e internacionais) para formular a sua política. portanto, o meu questionamento parte simplesmente de não ter entendido o texto muito bem. não achei necessário entrar nos detalhes da interpretação que ele faz de fukuyama por não me parecer relevante para a discussão que eu tentei sugerir, mas, já agora, creio que há um certo equívoco - que não é só de noé nhantumbo, diga-se de passagem. a tese de fukuyama não é de que com a adopção de modelos neo-liberais acabariam os diferendos ideológicos e que se entraria numa fase de paz universal. esta é capaz de ter sido a interpretação da direita americana - que até duvido, pois bush e comparsas, incluindo tony blair, eram mais movidos por uma interpretação religiosa da história - mas o que fukuyama escreveu e defendeu foi que a democracia liberal (e não o neo-liberalismo) tinha finalmente conseguido resolver o principal problema da história humana, nomeadamente o instinto auto-destrutivo do homem (thanatos). com isso ela constituía, por assim dizer, o fim da história, pois a história se resumia justamente a isso. na história das ideias políticas fukuyama não é o primeiro a dizer isso. friedrich meinecke, um historiador alemão, publicou em 1925 um livro sobre a história da razão de estado em que defendia uma tese idêntica, embora no seu caso ele considerasse o estado moderno como a solução do problema da tensão entre a destruição e a ética. é verdade que fukuyama foi bastante oportuno com o seu livro (finais da década de 80) e prestou-se à instrumentalização política do momento. o fim da história não significava a paz universal, nem o fim de diferendos ideológicos. significava apenas a futilidade da procura de novos modelos. a paz entre democracias liberais, segundo fukuyama, já existia, aliás ele usa esta constatação empírica para fundamentar a sua tese. insisto nisto para dizer que não entendo muito bem o alcance do que noé nhantumbo nos quer dizer, sobretudo porque ele parte desta interpretação para construir - ao que me parece - uma crítica à política dos eua e imposição destas ideias ao resto do mundo. mas o neo-liberalismo não é o mesmo que a democracia liberal. eu considero-me defensor da democracia liberal, mas não concordo com as políticas neo-liberais do banco mundial. nâo entendi a mensagem. quanto à importância que os estados africanos dão à ciência lamento ter de discordar convosco, ainda que esteja ciente de quão deficitário o investimento na ciência é em áfrica. mas aqui há vários equívocos, sendo que o menor dentre eles é o que consiste na comparação entre os estados unidos e os estados africanos. os termos não me parecem úteis. em moçambique há um notável investimento na ciência. o ensino superior público é um exemplo claro. são poucos os países do mundo onde com quase menos de 1000 dólares uma pessoa se pode formar em medicina. e esse valor é um exagero da minha parte. o resto é assumido pelo estado. o ministério para a ciência e tecnologia tem linhas de financiamento de pesquisa que me parecem notáveis para o um país com a exiguidade de meios como o nosso. eu acho que na crítica que fazemos ao que acontece no país não damos a devida importância ao que é realmente feito. não é óptimo, claro, mas isso não é o mesmo que dizer que não sedá importância à ciência. o outro equívoco é de pensar que as ideias de intelectuais por serem naturalmente boas têm que ser adoptadas por políticos. não é assim, nem em moçambique, nem em nenhuma parte do mundo. os governos escolhem o que lhes convém pelo que o mais importante é que haja debate entre intelectuais. esse debate, bem ou mal, tem tido lugar no país, razão pela qual temos alguém como o noé nhantumbo que produz um pensamento diferente do que produz alguém com outras sensibilidades políticas. abraços.
  • Rildo Rafael Ilustre Livre-pensador obrigado pela chamada ao debate: Gostaria de iniciar a minha breve intervenção recuperando o Filosofo Moçambicano Severino Ngoenha no seu Livro: “Das Independências as Liberdades”O autor mostra que o facto central da história africana é a luta pela liberdade, e a liberdade está bem patente em toda a história do pensamento africano, o homem africano era um homem “cheio de sede” da liberdade, todos os movimentos como a negritude, pan- africanismo e outros pretendiam a liberdade do homem negro.

    Hoje há uma tentativa de reabilitar a imagem do homem negro construída na saga do discurso etnocêntrico por parte das potências coloniais europeias. O homem negro africano já não pretende ser objecto deste discurso, agora ele pretende afirmar-se como negro. Essa liberdade deve ser vista como uma realidade intrínseca ao homem negro africano.

    Pois agora vão lhe ser colocados vários desafios sobre que liberdades pretendemos ou se realmente após a independência tivemos liberdade ou ainda devemos ir em busca da liberdade? Severino Ngoenha acha que a África ou seja os africanos ainda não foram libertados, pois ainda vivemos no circuito da dependência económica em relação as potências europeias que continuam a fazer o seu jogo em nome de ajuda, cooperação económica. O colonizador já não esta aqui connosco, mas ele elabora projectos para os africanos e determina onde devemos aplicar, pois ele detém recursos económicos suficientes para impor suas vontades, suas políticas e muito mais.
  • Rildo Rafael Continuação do texto anterior:

    Penso que o Noé Nhantumbo esta em sintonia com último texto do Elísio Macamo em torno das políticas das instituições do Bretton Woods como foi o caso do Banco Mundial e também com as preocupações do Severino Ngoenha “ O que é que a liberdade compete como responsabilidade em termos de políticas estabelecidas pelos governos africanos?” Vejamos o trecho:
    Quando se comenta criticamente as políticas estabelecidas por determinados governos africanos raramente se menciona que na verdade estes se limitam a seguir recomendações e instruções de doadores e credores, ao invés de elaborarem algo próprio e visando potenciar suas possibilidade de desenvolvimento social, económico e político. (Noé Nhantumbo).

    Os deficits de produção de estratégias de governação viáveis e que viabilizem os países em África não param de crescer (Noé Nhantumbo). Penso que Elísio Macamo antecipa e concorda de certa forma com Nhantumbo a considerar pela interpelação que faz no seu texto “Brincar de fazer política podem ver aqui: https://www.facebook.com/elisio.macamo?fref=ts

    Penso que Nhantumbo recupera Fukuyama com a seguinte aformação: “(…) Finda a “guerra-fria” e com a adopção de modelos neoliberais pela maioria dos países do mundo, deixaria de haver diferendos de natureza ideológica que caracterizavam o mundo no passado. Alegadamente o mundo entraria numa era de paz universal ou pelo menos de entendimento crescente entre os governos (Noé Nhantumbo). Não vejo nenhum problema nesta afirmação de Fukuyama trazida pelo autor do texto, o Fukuyama foi cauteloso em deixar alguma margem de probabilidade mas também por outro lado
    .
  • Rildo Rafael Continuação (3)

    Penso que Nhantumbo recupera Fukuyama com a seguinte aformação: “(…) Finda a “guerra-fria” e com a adopção de modelos neoliberais pela maioria dos países do mundo, deixaria de haver diferendos de natureza ideológica que caracterizavam o mundo no passado. Alegadamente o mundo entraria numa era de paz universal ou pelo menos de entendimento crescente entre os governos (Noé Nhantumbo). Não vejo nenhum problema nesta afirmação de Fukuyama trazida pelo autor do texto, o Fukuyama foi cauteloso em deixar alguma margem de probabilidade mas também por outro lado

    Severno Ngoenha no seu livro “Das Independências as Liberdades” procura também saber depois da independência qual é a nossa responsabilidade como africanos? Será que temos alguma dose de culpa pela nossa situação actual? Dai surge a preocupação de Noé Nhantumbo “(…) Pensar e elaborar ideias, teorias com mais ou menos consistência na área da Ciência Política, em si é um mérito de pessoas preocupadas com os assuntos da governação. Quem não pensa condena-se a consumir os produtos dos que pensam. Esse é o caso da maioria doa africanos. Pensar e investir em áreas científica e tecnológicas é pouco relevante para a maioria dos governos em África.

    Deste comentário de Noé Nhantumbo poderíamos voltar a Ngoenha e fazendo a seguinte questão: O que é que fim da guerra fria compete como responsabilidade para a governação em África? Penso que Nhantumbo não esta apenas preocupado com investimento no ensino superior mas também esta valorização das ciências sem discriminação (Ciências Sociais e Humanas, Naturais e Exactas) tal como um ex governante do nosso país tencionou no passado e da qual teve uma pronta resposta do Professor Elísio Macamo. Uma coisa seria investir elevadas somas de dinheiro que é diferente de atribuir uma certa valorização tal como defende Nhantumbo neste trecho abaixo:
  • Rildo Rafael Continuação (4)
    Mas é necessário que se diga que Fukuyama e outros académicos que com frequência são agraciados por prémios por sua excelência e acutilância no pensamento faz parte da tradição de um país em que tanto o governo como o sector privado, universidades públicas e privadas entendem e valorizam a investigação e pesquisa em todas áreas do saber humano (Noé Nhantumbo). Aqui estamos a falar do individualismo metodológico e as sociedades meritocráticas como é o caso dos E.U.A.

    O intelectual descomprometido que é aquele bom espião que informa aquilo que existe e não o que os seus superiores hierárquicos pretendem ouvir mas em contrapartida os seus superiores hierárquicos não tem medo das descobertas chocantes e andam de mãos “dadas” com os tais intelectuais

    Nhantumbo afirma; “E o pior é quando alguns cidadãos tentam e conseguem construir plataformas destinadas a promover o estudo, pesquisa e investigação seria dos problemas nacionais os mesmos não são escutados, aceites ou recebem reconhecimento pelo seu esforço de elaboração de explicações comprovadamente úteis ao desenvolvimento. Há receios desmedidos pelos detentores do poder, a qualquer sugestão de que há razões mais do que suficientes para que se continue a lutar pelo desenvolvimento concreto dos cidadãos e dos países. Por mais resumida e bela que seja a proclamação antes que os factos a comprovem, desistir é alinhar em considerações subjectivas”.

    A lógica prós versus contra empobrece a análise dos problemas nacionais num sentido crítico apesar de estarmos “livres e distantes dos ideias da guerra fria”. Tal como Ngoenha defende no seu livro “ Das Independências as Liberdades” A liberdade e o futuro devem estar de mãos dadas e é preciso que nós existamos para dar sentido a esta liberdade, esse sentido não deve passar de uma falácia, mas sim algo por se realizar, mesmo que passe de um sonho não devemos ter medo de sonhar, porque a partir do sonho podemos interiorizar e idealizar para em seguida passarmos a acreditar, e posteriormente realizarmos acções para que esse futuro se torne presente, mas sem esquecer de lembrar um outro futuro (continuidade).

    Para o autor não sairemos desta situação em que encontramo-nos, resgatando o passado (passado colonial, guerra-fria), a história deve servir de reflexão para a busca do nosso próprio destino que é o futuro, quando falamos de futuro não estamos a falar de duas ou mais pessoas que vão decidir em nome da maioria.

    É preciso deixar as pessoas optarem pelas suas vias alternativas e não impor modelos a seguir, devemos cada dia que passa reflectir sobre a nossa própria condição ate porque não como moçambicanos, o que nós pretendemos, podemos olhar para a nossa própria democracia. Será que o povo vive essa tal democracia, se não seremos reféns das escolhas de pessoas que se acham no direito de escolher para muitos.

    Para o autor corremos o risco de ficarmos reféns da nossa liberdade e da nossa própria história. Por isso em cada momento da nossa vida devemos procurar saber porque existimos como pessoas e para onde vamos.

    O pensamento africano deve estar em sintonia com a realidade ou seja o presente e deve procurar interpretar a tradição a luz do presente e também deve esforçar-se em buscar respostas possíveis. Ele afirma que não podemos mudar o passado, mas podemos escolher um futuro. Ele preocupa-se com o rumo do discurso filosófico africano que tende estar voltada ao passado, mas aponta que o futuro deve ser a razão para a curiosidade do filósofo africano.

    Com esse futuro é possível uma liberdade sem imposição se pensarmos livremente ou seja cada um de nós devera comprometer-se com um futuro onde se pode ver como arquitecto, e não como um mero assistente das vontades alheias. O autor faz menção a fase colonial onde impuseram um futuro, os moçambicanos não se identificavam com eles, mas a partir da opressão e a repressão tiveram que aceitar ser extorquido o direito de decidir sobre eles mesmos, passando eles a escolher o que competia aos moçambicanos.

    Com a independência os que lutaram contra essa submissão passaram eles a situação de definir o melhor para a maioria, as pessoas não pretendiam essas escolhas, uma vez mais os militares foram chamados a intervir impondo sobre os indivíduos, os mesmos indivíduos que lutaram pela liberdade, hoje restringiam a liberdade dos outros. Olhando para a nossa realidade foi possível ver este facto na organização de cima para baixo das aldeias comunais por via da imposição. Noé Nhantumbo avança que “Todo o figurino da dominação mundial encetada por sucessivas administrações americanas tem sustentáculos ideológicos, políticos e tecnológicos provenientes de uma base definida e circunscrita de pessoas que transitam da academia para as corporações e para o governo bem como você-versa nos EUA”.

    Na Acepção de Ngoenha A definição do futuro deve ser acompanhada de uma tal visão de desenvolvimento, Deve-se produzir e escolher técnicas de acordo com o contexto e não tendo em conta o alcance da técnica, isto é, a técnica deve ser adequada a realidade e não a realidade adequar-se a técnica, remete-nos para questões de valores, crenças e cultura.

    O africano na perspectiva do autor deve livrar-se da dependência para poder pensar como um homem livre, mas como o africano irá livrar-se deste jugo, pois quando Robert Mugabe faz a reforma agrária nenhum africano consegue abertamente tomar posição de apoio ou de protesto. Portanto o nosso caminho é o futuro se pretendermos reduzir a fome, a guerra, o sida. Mas devemos ser realistas não vamos conseguir eliminar de uma vez por todas esses problemas, podemos reduzir por isso vamos acreditar no futuro
    Colocaria a seguinte questão: O que é que a liberdade comporta como actividade ou seja acção concreta?

    Ele chega a conclusão que o futuro é a condição para sairmos da situação em que vivemos no dia-a-dia, sendo o passado reservado a recordações e nostalgias. Quando se fala da fome da miséria, guerras subsequentes, epidemias como a malária, a cólera, sida, etc. Tentamos sempre afirmar que faz parte da realidade africana, porque nós e porque a África

    Não devemos apegar-nos a realidade e dizer que a África começou mal e então é um beco sem saída como René Dumunt defendeu. Negaremos esta hipótese porque a África não terminou mal, então é um beco com saída, torna-se cada vez mais importante que os africanos pensem em saídas.
  • Livre Pensador Queria agradecer a V. excelencias pelas ricas opinioes postadas e sobretudo, pois apresentarem visoes proprias sobre a interpretacao do assunto. Aprende-se muito ouvindo ou lendo o que os demais escrevem. Apenas um pequenissimo reparo Prof. Elisio Macamo. A menos que esteja errado, quero crer que Noe Nhantumbo apontou o pouco investimento no campo das ciencias exactas. E quanto isso, deixe-me dize-lo, isso e mais do que verdade. Nunca houve da parte do Estado mocambicano uma aposta forte nelas. Pode-se alegar que nao haviam fundos ou talvez outras prioridades. Mas eu prefiro dizer que a ciencia e a investigacao em Mocambique tem, na maior parte dos casos, sido pequenos pacotes de ajuda financiados por doadores externos. E ai e que surge a grande evidencia: grosso modo, mesmo para o exterior, as bolsas ou projectos de investigacao sao quase sempre focalizados nas ciencias sociais, juridicas e economicas. Estas estatisticas estao disponiveis quer no Ministerio da Ciencia, quer ate no INE. E isso, causou este desequilibrio na accao governativa do Estado, sobretudo agora, quando temos de apelar aos engenheiros, cientistas e ate militares, para acompanhar a pedalada dos mega projectos no terreno. Para se formar uma fornada de gente desta, leva-se 10-15 anos no minimo. Mas para tal, um primeiro passo deve ser dado, retirando o complexo de orfandade em relacao ao doador dos nossos decisores politicos. Aspecto muito nefasto alias, que eu, na primeirissima pessoa, me defronto quando tenho de trabalhar em grupos inter-ministeriais com o ministerio da ciencia e tecnologia de Mocambique.
  • Ernst Habermas Agora percebi Prof. Elisio Macamo! Obrigado pela resposta! Estou a reflectir novamente no que disse.
  • Ernst Habermas Caro amigo Rildo Rafael, o teu texto combina com a minha "reflexão: África, surge et ambula!"
  • Elisio Macamo caro livre pensador, é possível que não esteja a ler o texto com a devida atenção. a minha cabeça está neste momento cheia de outras coisas. contudo, creio ter percebido que o noé nhantumbo estivesse mesmo a falar do tipo de áreas que acha que tiveram mais protagonismos. ele escreve sobre a rússia e a china: "Se antes era algo dirigido especialmente para a área militar e com vista a protegerem-se a projectarem sinais de competência e poderio, os assuntos políticos, conceptuais e económicos jamais foram esquecidos. Fundamentar e criar uma sólida cultura nacional capaz de impor seu modelo no mundo pressupõe ter alguma coisa a dizer ao mundo e meios de fazer chegar essa mensagem." não me parece que esteja a falar das ciências naturaise engenharias. mas isso pouco importa, acho. não conheço as estatísticas sobre a pesquisa científica em moçambique, mas a minha intuição me diz que a leitura dos dados não pode ser assim tão linear. há razões para o pouco investimento nessas áreas que vão para além da falta de interesse, razão de estado, amor pela pátria e previdência. uma boa parte dessas razões tem a ver com o que poderíamos considerar de questões epistemológicas. o peso das ciências sociais reflecte os níveis de dependência do país e o interesse que certo tipo de "estudos" têm para os doadores. o que se pode apurar com estudos nas ciências naturais apura-se com custos muito mais baixos a partir de estudos feitos até longe do país. nos últimos anos tenho avaliado projectos de pesquisa - hoje mesmo terminei a leitura e avaliação de 40 projectos de pesquisa submetidos a uma instituição europeia de financiamento de pesquisa científica. noto um aumento gradual de projectos nas áreas das ciências naturais e engenharias provenientes do continente africano e que, regra geral, são de qualidade duvidosa e pouco conducivas ao desenvolvimento duma pesquisa científica genuina. são apêndices de ideias e modelos pensados noutros quadrantes e que não exigem nenhum investimento intelectual dos nossos cientistas. não é só a falta de vontade dos governos africanos. há outros factores que devemos tomar em consideração. cada nova leitura que faço ao texto do noé nhantumbo fico estarrecido com as generalizações não substanciadas que ele faz. estes assuntos são complicados. cumprimentos e mais uma vez obrigado por chamar a minha atenção ao texto.
  • Livre Pensador Sr. Professor, antes da referencia a passagem da China e Russia, Nhantumbo diz: "...Política, em si é um mérito de pessoas preocupadas com os assuntos da governação. Quem não pensa condena-se a consumir os produtos dos que pensam. Esse é o caso da maioria doa africanos. Pensar e investir em áreas científica e tecnológicas é pouco relevante para a maioria dos governos em África. É mais fácil investir em 260 carros de alta cilindrada, de luxo e de marcas sonantes, se há esse número de deputados no parlamento nacional. Não se investe na criação de híbridos vegetais que aumentariam a produção de alimentos cronicamente descrita como deficitária. Não se investe na criação de institutos de tecnologia que ensinem e disseminem conhecimentos vitais para áreas fundamentais como engenharia civil, electrotecnia, electrónica, hidráulica, microbiologia, genética e outros ramos da ciência e tecnologia...". E sobre isto, estou de acordo com ele pelos motivos que acima elenquei.
  • Elisio Macamo ah, pois, tem essa passagem também. não prestei atenção. a constatação é correcta, a interpretação parece-me apressada. eu sou próprio sou culpado de me ter pronunciado criticamente contra as ideias do ministro da educação de investir menos nas ciências sociais e mais noutras áreas. essa preocupação existe, a sua implementeação é complicada. nos países onde se faz esse tipo de investimentos são as próprias indústrias e os próprios investigadores que se empenham e criam o ambiente propício a isso. o que é que os investigadores dessas áreas em moçambique têm feito para que haja maior investimento? o que é que a ordem dos engenheiros tem feito para que se invista mais nessa área? o que é que as indústrias moçambicanas têm feito? o problema é bem mais complexo do que a falta de vontade dos governos africanos. não acho útil este tipo de diagnóstico porque simplifica demasiado os assuntos. os únicos países do mundo - que eu saiba - onde o investimento na ciência e tecnologia aconteceu sem que tivesse havido um processo político nos moldes que o descrevo aqui foram países autoritários... abraços.
  • Verniz Combe E uma missao impossivel aplicar todas as teorias, e todos os pontos de vista pela causa africana falida e quase congenita a irreversibilidade ate que os africanos mudem para um outro planeta para encentarem um novo comeco da historia.em minha opiniao o grande problema e o de sermos introduzidos muito mal no contexto das ideologias e arquetipos culturais que o proprio ocidente tem dificuldade de escolher o melhor modelo para sua propria gestao na medida em que ate a propria USA democratica tambem e despota,tirana e insana (hegemonica) e as mentes exclarecidas sabem melhor.A grande verdade se seguida com aclamação de todos (africanos sobretudo) e que a melhor forma de escolher o melhor modelo e saber sancionar o governos que nao sabem lidar com a causa comum ai estaremos a nos governar de acordo com a razao popular punido a agenda da falta de propostas para o desenvolvimento tecnico para um possivel revolucao industrial da critica e bem estar dos mais inquietos na demanda pela vida.
  • Livre Pensador Em Mocambique, prof. Elisio Macamo, nao se promove a industria, reage-se a industrializacao. E um bom exemplo disso, sao as bolsas de estudo que as multinacionais estao a oferecer para formar uns residuais mocambicanos. Nao posso falar em nome da ordem dos engenheiros, mas percebo que qualquer ordem profissional, so pode exercer magistratura de influencia junto do Governo. E ao que sei, tem-no feito ate onde isso tem sido possivel. Que o problema e complexo, la isso e, pois ha muitos agentes propiciadores, mas o diagnostico e simples. Tudo depende da vontade patriotica de nos libertarmos das amarras de quem nos sustenta. Ou seja, do complexo do "escravo liberto" que nao sabe o que fazer com a sua liberdade e como tal, precisa do ex-patrao para lhe ajudar a caminhar. E por fim, nao estou de acordo que somente regimes autoritarios inverteram a tendencia apontada por Nhantumbo, e socorro-me de exemplos das Mauricias, Cabo-Verde e ate a India. Nao sendo democracias sofisticadas, estao longe de serem regimes totalitarios (ou paises autoritarios se preferir).
  • Elisio Macamo caro livre pensador, perfeitamente de acordo que nós é que devemos dar os passos para a liberdade. a minha insistência é apenas na ideia de que não é só o estado. o estado somos nós, portanto, temos que usar os meios ao nosso dispôr para criar vontade política como diria o carlos nuno castel-branco. o tipo de expectativa que se tem em relação ao estado em moçambique só pode ser satisfeita por um governo autoritário. neste aspecto mantenho a minha opinião. na índia a vontade política foi criada por pressões da indústria e da massa intelectual. maurícias não sei. quanto a cabo verde acho que devíamos ter um pouco de cuidado. eles tiveram um processo exemplar de criação da universidade e arrancaram muito bem. a demografia tem sido também um factor a seu favor. já fui convidado a dar aulas lá e fiquei bastante bem impressionado com a seriedade das instituições. mas daí a considerar cabo verde um exemplo a seguir vai uma grande distância. moçambique, para mim, teve a melhor política de promoção de ciência e investigação de todos os palop. angola tem vindo a recuperar nos últimos 5 anos de forma bastante impressionante, mas até chegar aonde moçambique chegou vai levar algum tempo. critiquemos, mas não diminuamos os nossos feitos. abraços.
  • Livre Pensador Cabo-Verde, possui o melhor programa de Governo Electronico de toda Africa. Serve de referencia a 28 outros paises do continente. E ate das Antilhas. Como foi possivel esse feito? Se calhar, porque nao tem a bencao da natureza como nos temos. Tal como os europeus, so a necessidade e que faz o engenho. Nunca tendo tido tantas universidades e institutos por km2 como Moçambique ou Angola, Cabo-Verde cedo apostou na formação de quadros no exterior, mas também em programas de incentivo ao retorno da diáspora. Isso tudo, produziu a massa cinzenta que hoje exporta para o continente. Além de ter evoluído para a condição de país medianamente desenvolvido. Certamente nunca tê-lo-ia feito, se optasse pelo autoritarismo. Quando diz que Moçambique já teve a melhor política de promoção da ciência e investigação dos PALOP, poderia elaborar melhor? Eu gostaria por exemplo, de saber os resultados disso aqui. E já agora, por que Moçambique já não ocupa esse prestigioso lugar, tendo hoje um rácio estudante: docente ou estudante: universidades muito superior? Por último, falou de Angola. Coloco a mesma pergunta. Há muita coisa a acontecer por lá no ensino superior - novas infra-estruturas, curriculuns, etc. mas estarão os angolanos a apropriarem-se da ciência? Não me parece. O que verifico é a crescente terceirização de muitas funções do Estado e a imigração de quadro estrangeiros mais qualificados. Ou seja, Angola parece querer imitar Cabo-Verde. Mas imita mal, porque tende apostar em modelos não sustentáveis de apropriação do conhecimento.
  • Elisio Macamo caro livre pensador, acho que a discussão está bastante interessante, mas impossível de aprofundar aqui. tomo noto dos pontos que levanta como trabalho de casa para mim próprio. espero que os outros participantes vejam a coisa da mesma maneira. só uma clarificação: espero não ter deixado a impressão de que os feitos de cabo verde são resultado de autoritarismo. a minha questão é que só governos autoritários é que promovem o tipo de políticas cuja ausência se lamenta aqui sem que haja pressão política para o efeito. é só isso. a diáspora cabo verdiana é um factor de peso muito grande e sabe se articular. curiosamente, foi no período autoritário em moçambique que também se fez muito na promoção da ciência. repito, para finalizar, que as coisas são complexas. um forte abraço.

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