quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

MEMÓRIAS DE UM REBELDE, de António Disse Zengazenga(6)

 

Capanova2013bDesta obra, a publicar dentro de pouco tempo, com prefácio do Dr. Máximo Dias, transcrevo mais o seguinte texto:
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A culpa, porém, não está somente em termos sido os últimos a libertar-nos nem nos acordos de Berlim de 1885, segundo os quais as potências colonizadoras não deveriam preparar os Africanos para a independência para que não escapassem delas. Ela está também nos próprios chefes africanos, que, uma vez livres da dominação estrangeira, não continuaram com o processo de independência política, económica, bem como social. Em vez de seguir este recto caminho, eles permaneceram na missão de colonizar os seus próprios povos.
A fim de assegurar a sua posição, interiormente, armaram-se até aos dentes e, exteriormente, formaram uma aliança de cúmplices sob a cobertura da Organização da Unidade Africana. Com efeito, todas as vezes que uma junta militar matasse um deles, todos os sobreviventes condenavam o golpe de estado. Mas quando um deles massacrava uma multidão de manifestantes do seu próprio povo, os mesmos guardavam um silêncio de pedra.
É certo que muitos destes chefes ficaram ou nas prisões ou fora do país durante muito tempo; sofreram opróbrios de muitas formas e viveram em sítios que não eram da sua escolha. Mas isso tudo não lhes concede o direito de se impor barbaramente àqueles que não concordam com os seus métodos de governação, nem o de sozinhos se instalarem indefinidamente no poder, nem o de escrever uma constituição definitiva, muito menos o de considerar a nação comum a todos como uma das suas propriedades privadas.
Na verdade, como um povo não é um objecto de alguém pois tem a sua vontade própria e inteligência igualmente humanas, ele não pode ser reduzido ao nível de alguma coisa de livre apropriação, muito menos às regras de jogos que operam consoante a lei do mais forte. Por conseguinte, não só os chefes dos movimentos de libertações nacionais como também os governos militares usurparam os direitos humanos dos seus súbditos, usando da lei do mato. Com efeito, enquanto um povo for humano como sempre é, igual ao dos seus libertadores, ele tem o seu completo direito de escolher livremente quem o governará.
Actualmente existem africanos capazes de dirigirem razoavelmente as suas respectivas Nações ao ponto de elevá-las para um nível superior. Pois, se se permanecer na orientação do partido ou homem único, na junta militar ou no moribundo comunismo, a África irá para a decadência como a América Latina bem como os países comunistas nos demonstram claramente. Até agora o sistema político que provou mais longevidade bem como estabilidade é o democrático, tendo o capitalismo como o seu inseparável componente económico.
Para que ambos funcionem duma maneira ordenada é necessário que o governo crie o meio ambiente, pleno de condições satisfatórias, de tal modo que cada cidadão possa explorar livre e completamente as suas capacidades mentais a fim de elevar o nível económico e social da nação. Já que o homem nasceu livre para viver livremente, e não só em palavras como também em acções, a liberdade é uma das qualidades fundamentais da democracia que cada cidadão exerce na expansão económica.
O centralismo político, gerador muitas vezes de centralização industrial, é até um certo ponto, restringimento indirecto a esta liberdade de expansão económica, causador de muitas desvantagens em partes da mesma nação; pura colonização, enriquecedor do centro em detrimento das regiões periféricas, sobretudo em terras de diferentes povos com diversas tradições, como hoje é o caso em África. O mesmo se pode afirmar desta última fase acerca da lei da maioria quantitativa ou qualitativa em relação à minoria ou menos representada, quando é usada indiscriminadamente.
Para controlar e equilibrar o crescimento das antigas cidades industriais, evitar a despopulação dumas províncias e superpopulação de outras, serão criados novos centros industriais processando a matéria-prima a uma distância não superior a 250 km do lugar da sua exploração. Sob esta proposta, se cada moçambicano residir onde quiser, viveremos no nosso vasto país distributivamente duma maneira razoável. Deste modo evitaremos igualmente as queixas e justificações de exploração de região por região. Na época de processo democrático, numa nação multitribal é infinitamente intolerável o sistema cujo princípio é explorar matérias-primas de algumas províncias em enriquecimento de outras. Além disso, pela deslocação da população masculina à procura de empregos nos centros industriais destroem-se famílias completas das regiões fornecedoras das matérias-primas.
Naquela, onde qualquer suspeita maliciosa pode corresponder à verdade, a unidade da nação não deve ser apenas uma expressão a fim de explorar os inocentes. É necessário que se reconheça a existência real de igualdades não só em direitos, deveres, oportunidades, proveitos do bem comum, regiões, etc, mas também das diferenças, provenientes de capacidades e méritos pessoais.
Se as portas para a satisfação material forem privilégios tribais, da gente que reside na capital, etc, não demorará que os explorados descubram meios para a sua perfeição por mais espinhoso que for o caminho. A nossa própria História ensina-nos, na verdade, que os dirigentes de ambas as revoluções não nasceram nas cidades nem pertenceram às maiores tribos.
A nossa unidade será sólida, por conseguinte, se for fundada na razão humana em bases políticas e económicas não egoístas, porém, equitativamente justas. Pela unidade da nossa nação, do nosso multiétnico povo, pela segurança e liberdade de cada indivíduo, pela igualdade na diversidade, é imprescindível que a democracia moçambicana seja sentida e aprovada por todos os partidos políticos, integrantes de todas as etnias. E estas deveriam, por meio de um referendum universal, aceitar ou rejeitar. Sem passar por este caminho é estarmos lá onde estamos revoltando.
Nesta revolução cada um de nós deve resistir à concretização do conceito consoante o qual apenas o partido único ou a junta militar tem o direito de decidir sobre o futuro da nação que de igual modo pertence a todos. Temos o dever de negar a imposição de qualquer impostor seja quem for, ainda que se afirme ser temporário.
Veja http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2013/01/mem%C3%B3rias-de-um-rebelde-de-ant%C3%B3nio-disse-zengazenga5.html

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