sábado, 16 de fevereiro de 2013

MARCO DO CORREIO, por Machado da Graça

"Tão claramente que será dificil ao Chefe de Estado não tomar conhecimento da acusação. Que será dificil ao Dr. Augusto Paulino assobiar e olhar para o outro lado, na medida em que quem confirma os factos são os compradores chineses"

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Olá Lourenço

Como estás tu, meu amigo? Eu estou bem, felizmente.
Mas estou muito preocupado com estas notícias que estão a ser publicadas sobre o contrabando de madeira moçambicana para a China.
Estou a falar, concretamente, de mais um relatório da Agência de Investigação Ambiental sobre o tráfico criminoso de madeira de Moçambique para a China.
E, neste relatório, há duas coisas extremamente preocupantes: por um lado as enormes quantidades de madeira que estão a ser exportadas, ilegalmente, destruindo as nossas zonas florestais; por outro o facto de se indicar o envolvimento no crime do actual Ministro da Agricultura, José Pacheco, e de Tomás Mandlate, que também já foi Ministro da Agricultura e agora é deputado, pela Frelimo, na Assembleia da República. Ali, com nomes e factos claramente expressos.
Tão claramente que será dificil ao Chefe de Estado não tomar conhecimento da acusação. Que será dificil ao Dr. Augusto Paulino assobiar e olhar para o outro lado, na medida em que quem confirma os factos são os compradores chineses, a outra face do negócio criminoso.
Vamos lá ver se acontece alguma coisa... Para já achei interessante ouvir, enquanto te escrevo esta carta, a notícia de que o Ministro Pacheco acaba de chegar a Cabo Delgado, palco de grande parte destas malfeitorias.
O outro aspecto é o das quantidades de madeira envolvidas.
Segundo o estudo da Agência, em 2012 a China registou importações de madeira em toros, de Moçambique, num total de 323000 metros cúbicos. Por outro lado, os registos de Moçambique indicam que o país, no mesmo período, exportou para todos os seus clientes 41543 metros cúbicos. Isto é a China diz que importou de Moçambique quase oito vezes mais madeira do que aquela que Moçambique diz que exportou no geral.
Complicada coisa esta das contas, não te parece?
De onde terão aparecido os 281457 metros cúbicos que não saíram de Moçambique mas, apesar disso, chegaram à China?
Só podem ser coisas da magia negra africana.
Ou então milagre bíblico, se nos lembrarmos como Cristo multiplicou pães e vinho, se bem recordo, nas bodas de Canaã.
Outros números assustadores, em termos ecológicos, referidos no relatório da Agência de Investigação Ambiental indicam que, em 2012, foram emitidas licenças de corte florestal, em Moçambique, para um total de 321370 metros cúbicos. Ora a China reporta, entre madeira serrada e madeira em toro, uma importação de Moçambique de 474400 metros cúbicos. O que significa que, a serem verdadeiros estes números, só para vender à China, foram cortados mais 153030 metros cúbicos do que aquilo que estava licenciado para 2012.
Negócios da China, dirão uns.
Coisas de família, dirão outros, na medida em que um dos principais negociantes de madeira chineses, em Pemba, sempre de acordo com o relatório de que te tenho vindo a falar, afirma que José Pacheco é seu irmão.
Um abraço para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ – 15.02.2013

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