quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Economias mais avançadas do mundo serão sempre economias de serviços, declarações do director da faculdade de gestão da Universidade Nova de Lisboa, que desvalorizou a tendência para a deslocalização da indústria desses espaços para as novas economias emergentes como a China, Índia e outras. Rematando: - Como economia de serviços, seremos sempre NÓS a conceber para os outros fabricarem...

Note-se que o curso de gestão da Universidade Nova de Lisboa está no ranking dos melhores do mundo.

Terão descoberto a pedra filosofal, o que acha Prof.
Carlos Nuno Castel-Branco?
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  • Livre Pensador Errata: Trata-se da Faculdade de Economia...
  • Carlos Nuno Castel-Branco Esta história e muito mal contada. A literatura economica já discute ele assunto há uns 50 anos. Não há nada de novo nisto. Nem na afirmação, nem nos problemas dessa afirmação - economias avançadas concentram-se em serviços e nada há de mal com a des localização industrial para os países da periferia.
  • Carlos Nuno Castel-Branco Primeiro, não existe prova de causalidade entre concentração em serviços e desenvolvimento. Existe correlação, no sentido que a importância de serviços aumenta em economias avançadas, mas não há prova de causalidade.
  • Carlos Nuno Castel-Branco Segundo, o indicador usado para avaliar estas correlações é o PIB, que é medido em valores monetários. Ora a mudança de preços relativos provocada por uma maior procura de serviços a medida em que o rendimento aumenta pode fazer aumentar o peso de serviços no PIB.
  • Livre Pensador Divagando um pouco mais, se tanto a China, como a Índia possuem hoje mais QI per capita, dentro e fora de portas, inclusivamente nos tais países que o director da Faculdade de Economia da Nova se refere, não é de se admitir que para além de industrializados, eles se tenham convertido em HUBs de serviços e inovação também? É que acho muita presunção conceber que estes BRICS somente se concentram em cópias e aperta-parafusos...
  • Carlos Nuno Castel-Branco Terceiro, a absorção dos ganhos de produtividade, gerados pela industrialização, pelo resto da economia pode reduzir o peso da indústria e aumentar o dos serviços tanto no emprego como no PIB.
  • Carlos Nuno Castel-Branco Quarto, nos últimos 20 ou 30 anos peso dos serviços financeiros aumentou a uma velocidade 3-4 vezes superior à velocidade do crescimento da economia. Este é um sinal da financeirizacao do capitalismo e não de desenvolvimento. A venda e revenda de activo financeiros associados a activos materiais fez o PIB mundial crescer com dinâmica de bolha. Estás bolhas explodem em crises devastadoras. De cada crise, sobrevivem as transacções e especulação financeira e desaparece emprego e produção material.
  • Carlos Nuno Castel-Branco Quinto, a economia capitalista é global. Keynesiansmo e neo-classicismo/monetarismo são ambos inadequados para pensar na economia capitalista global e monopolista. Ora, ser global e monopolista implica que a organização da produção, das finanças e do comércio são feitas à escala global. Há indústrias em queres centros de engenharia e concepção estao perto dos centros mundiais de ciência e tecnologia, e as unidades produtivas estão perto dos mercados, das fontes de matéria prima ou onde a força de trabalho é mais barata (onde o custo de reprodução social da força de trabalho, ajustado pela sua produtividade, é mais baixo para o capital). Logo, conceitos como industrialização é desenvolvimento capitalista têm que ser entendidos nesta dimensão global é monopolista.
  • Carlos Nuno Castel-Branco Imaginemos, por simplificação, uma empresa multinacional que tem varias divisões - a financeira e a de engenharia perto dos mercados financeiros e conterá de ciência e tecnologia; as unidades produtivas perto dos centros onde a taxa de exploração do trabalho é mais alta (taxa de exploração equacionada custo social de reprodução da força de trabalho e produtividade). Será sensato dizer que as divisões financeira e de engenharia desta multinacional estão desindustrializando só porque não se situam ao lado das unidades de produção?
  • Carlos Nuno Castel-Branco Só um PS ao ponto cinco, acima. Se Mocambique quer ficar competitivo na cadeia global monopolista do capitalismo moderno, então tem que baixar os custos sociais de reprodução da força de trabalho. Isto não significa, de modo nenhum, baixar o salário real. Mas significa baixar os custos de vida dos trabalhadores (dos bens e serviços básicos de consumo dos trabalhadores) e aumentar a produtividade. Baixar o salário real é socialmente instável e conduzirá a rupturas do sistema acumulação, mais ou menos graves.
  • Carlos Nuno Castel-Branco Sexto, "serviços" é um item muito vasto. Inclui finanças, comércio, transportes, estado e administração pública, defesa, etc. Cada um destes items é vasto - por exemplo, finanças capta tanto o efeito da expansão do sistema bancário e de empréstimo (divida/credito) que é vital para o capitalismo, como inclui o efeito da especulação e financeirizacao. Logo, quando falamos de serviços, estamos a falar de quê? Além disso, em que contexto estamos a falar - de industrialização ou de financeirizacao, especulação?
  • Carlos Nuno Castel-Branco Sétimo, e último por enquanto, a evolução da tecnologia e da ciência tornou muito tênues as diferenças entre "sectores" - como diferenciar indústria, serviços e agricultura, por exemplo? É sempre possível fazer isso? Cada vez é mais dificil.
  • Carlos Nuno Castel-Branco Em breve, pedra filosofal não é!
  • Livre Pensador Apenas esclarecer que "serviços" na minha alusão é tudo aquilo que implique propriedade intelectual (o conhecimento) como vantagem competitiva sobre os demais. E como bem disse, a evolução da tecnologia e da ciência tornou muito tênues as diferenças entre "sectores",logo é nas ICTs (TICs), jocosamente chamadas "Indian & Chinese Technologies" nos EUA onde está a chave da tal economia de serviços. E até aí, a China com as terras raras leva vantagem...
  • Carlos Nuno Castel-Branco Tinha dito "último por enquanto", entao vou adicionar ponto 8. Não se deve nem pensar que montar fábricas de aperta parafusos (maquilladoras, na América Latina) é industrialização, nem que aumentar o peso de serviços (conceito vago) é desenvolvimento. Ambos podem representar subdesenvolvimento. Metade o PIB de Mocambique é serviços e a nossa economia é cada vez mais afunilada, extrativa, porosa e dependente. As nossas indústrias estão a transformar-se em centros de serviços para as multinacionais extractivas. A questão de fundo é o que é que se faz, para quê, porquê, como e para quem, e em que contexto, e não qual o "sector" que tem ou deve ter mais peso. Outro ponto de fundo é que o capitalismo é global e monopolista, mas é desigual. Fazer parte da eeconomia capitalista não quer dizer ser desenvolvido. O subdesenvolvimento é parte orgânica do desenenvolvimento capitalista global.
  • Livre Pensador Por isso é que não acredito que os portos e ferrovias que se propõem com o carvão, ferro sejam realmente ALAVANCAS para o nosso desenvolvimento. Serão é auto-estradas do nosso desapontamento...
  • Gito Katawala LP, sobre este teu ultimo ponto, eu acho que o nosso pais ainda pode se livrar desse predicamento, ainda vai a tempo de corrigir os erros cometidos pelas outras economias que cresceram por efeitos anabolizantes comparados a estes investimentos em infra-estruturas que so beneficiam a industria de extraccao.

    Carlos Nuno Castel-Branco, quando diz que Mocambique precisaria de baixar os custos sociais de reprodução da força de trabalho, podia elaborar um pouco mais? Eu tenho vindo a pensar na reforma da funcao publica e eliminacao de certas categorias que alimentam a maquina burocratica do funcionalismo publico, e converter a forca de trabalho (ora dispensada) do funcionalismo publica em imediatamente disponivel para em emprendimentos que requer especializacao ou pelo menos um elevado grau de escolarizacao.
  • Carlos Nuno Castel-Branco Custos sociais de reprodução da doença se trabalho eatao associados com o que os trabalhadores precisam para viver e reproduzirem-se como dinâmica social. Estamos a falar de quanto custa a vida das pessoas - da comida à roupa; da escola ao sarro de saude; da habitação ao transporte, etc. Ora, as pessoas podem ganhar muito dinheiro mas se tudo isto for muito caro o dinheiro nao serve de muito. Além disso, os o custo social de reprodução da força de trabalho e calibrado pela produtividade - o que interessa às firmas é que o racio entre custo da força de trabalho e produtividade da força de trabalho seja baixo (custo/produtividade). O que os trabalhadores querem e um salário real decente. O que a economianpreciaa é de ambos (baixo custo/produtividade e decente salário real). Carvão, só, nao resolve isto.
  • Livre Pensador Efectivamente, não resolve. É preciso preencher os espaços vazios (pequenas e média empresas). Mas como fazê-lo, se as infra-estrutura estão perspectivadas numa logica de mega centrista (grandes empresas extractivas)? É preciso ousadia política. É preciso ser menos papista que o Papa, pois afinal, vale ou não o Estado endividar-se se for no interesse transversal da sua estratégia económica?
  • Gito Katawala Era esse ponto que eu estava a tentar perceber, se a criacao de pequenas e medias empresas nao daria o impuldo suficiente para retirar alguns desses custos sociais da responsabilidade do Estado para o sector privado. Por exemplo, ca nos EUA, a unica razao que me levou a envolver-me directamente na discussao sobre a reforma do sector da saude foi por perceber que apesar de eu ter uma apolice segura, mas a ausencia de um mecanismo que distribua equitativamente os custos as pessoas que nao tem seguro seriam injustamente suportados pelos meus "premiums"; As pequenas e medias empresas agora tem a possibilidade de se juntarem e negociarem um pacote que cobre os custos; o mesmo se verifica ao apetrechamento as escolas publicas; melhorias das infraestruturas publicas (municipais), nos como entidades individuais privadas e colectivas exigimos qualidade a administracao local, e damos valor a isso porque sabemos que vem directamente das nossas contribuicoes fiscais. E creio entao que com a expansao ou desenvolvimento duma duma mentalidade empreendedora e competitiva, o mercado definira a obrigacao e limites do ESTADO nos custos sociais de reproducao. Posso estar a ser simplista, mas entendo o assunto nesse prisma.
  • Livre Pensador Mas em Moçambique, há ainda outro problema além da falta de ousadia política. É aquele que José Jaime Macuane aponta na sua entrevista: "as estratégias de combate à pobreza têm falhado porque a esfera económica é muito restrita (...) a esfera alternativa que é o mercado, não está democratizada o suficiente (...) resultado: temos uma ineficácia das estratégias governamentais, aliado a um mercado incipiente e extremamente restrito". E eu acrescentaria que a perspectiva rendeira e captura do Estado da Quionga SA, é um bom exemplo disso. Não bastasse a acumulação primitiva do capital, teremos, muito provavelmente, Leis coxas e hermética feitas à medida dos interesses accionistas e parcerias com gente que nunca viu Moçambique, senão numa página do Facebook...
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