sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

José Maria Neves (re)candidata-se a presidente do PAICV 06 Fevereiro 2013

A SEMANA : Primeiro di?rio caboverdiano em linha

 

José Maria Neves vai lançar a sua candidatura à liderança do PAICV o mais tardar até meados de Fevereiro. Neste que será o primeiro teste ao novo sistema eleitoral que o PAICV adoptou no seu último Congresso – a eleição por sufrágio universal e directo do seu presidente – cabe também a José Maria Neves apresentar na mesma data as listas dos mais de 400 delegados ao Congresso, que vão representar as dezenas de sectores do partido.

José Maria Neves (re)candidata-se a presidente do PAICV
“Neste momento estou a preparar as listas dos delegados ao Congresso por cada sector. Tem de estar tudo pronto até meados de Fevereiro”, indica José Maria Neves.

PAICV forte

Assim, e neste processo intenso que envolve a sua candidatura ao último mandato enquanto presidente do PAICV, dentro de dias Neves vai dar a conhecer a sua Moção de Estratégia que, segundo ele, vai envolver duas partes. A primeira está virada para o partido e deve responder à pergunta. “Que Partido para enfrentar os desafios do Séc. XXI?” Já o segundo capítulo é mais de carácter programático: representa a perspectiva do primeiro-ministro – que está há 12 anos a capitanear os destinos do país –, para Cabo Verde no horizonte de 2030.
“Na frente interna, a Moção de Estratégia vai dar a visão do presidente do PAICV e reflectir sobre os desafios que o partido ora no poder tem de enfrentar nos próximos tempos. É que, enquanto partido da esquerda moderna, impulsionador de mudanças e gerador de ideias quanto ao futuro, o PAICV deve aprofundar a reflexão sobre o seu papel na sociedade. Para continuar a ser um partido transformador”.

Reforço da democracia interna

“O meu grande objectivo é preparar o PAICV de forma que possa continuar a ser um partido forte e vencedor nos próximos tempos. O maior desiderato é fazer com que, no horizonte de 2016, o partido esteja apto para escolher na maior tranquilidade a sua nova liderança. Também vamos reanalisar os estatutos, reforçar a democracia interna e fazer com que todos os militantes tenham o seu espaço de participação, evitando assim desigualdades de distribuição do poder”, aponta JMN.

Instituto da Democracia e Progresso

E nessa busca de “espaços de pertença e participação”, onde todos os militantes do PAICV são chamados a intervir e a participar activamente na vida do seu partido, o candidato à sua sucessão na liderança do partido da estrela-negra tem um projecto antigo que quer pôr de pé antes de encerrar o seu longo – mais de 15 anos – consulado de líder. Chama-se Instituto da Democracia e Progresso e José Maria Neves vê nele um fórum de debates, um produtor de eventos de natureza política. Talvez uma fábrica de ideias e iniciativas, um órgão forjador de consensos, que vão nutrir e dar vigor ao corpo do partido, enquanto entidade dinâmica que, como dizia Amílcar Cabral, deve viver intensamente a sua época e interpretar os sinais dos tempos.

Reforçar JPAICV

Enquanto militante oriundo da Juventude do PAICV, o actual presidente do PAICV sabe e conhece bem o papel dos jovens na dinâmica da organização mãe. E também a força das transformações que dali podem emergir fazendo com que os partidos políticos sejam corpos vivos onde as dinâmicas inter-geracionais acontecem no dia-a-dia da vida partidária. Daí a Juventude do Partido ser ponto-forte da Moção de Estratégia que JMN vai levar dentro de dias aos militantes da estrela negra.
“Temos uma juventude generosa, mas também inconformista. São jovens empreendedores, prenhe de talentos, e que têm sede de inovação”. A juventude cabo-verdiana é patriota porque ama o seu país acima de tudo e está a reinventar um novo Cabo Verde, um Cabo Verde azul, da geração “ipad”. Jovens que querem um Cabo Verde sem fronteiras, sem limites e reivindicam espaço para pôr todo o seu talento ao serviço da sua ambição. Portanto, reforçar a JPAI e estabelecer fortes pontes entre o PAICV e a juventude cabo-verdiana e ainda com a própria sociedade tem de ser encarada como um pensamento “estratégico” para o PAICV, pontua José Maria Neves.
“O futuro do partido vai depender do que fizer agora por esta juventude” reconhece José Maria, cuja liderança actual é muito criticada, exactamente por falar muito na JPAI, mas de nada ter feito de concreto para devolver à JPAI a força que a juventude partidária já teve no sistema do PAICV.

O Património do PAICV

Uma das maiores críticas ao consulado de José Maria Neves nestes 13 anos de liderança do PAICV é o de ele, enquanto líder, não “ter podido” tirar partido das grandes competências que o partido foi construindo ao longo de mais de 50 anos de vivência política.
Os mais acérrimos críticos chegam mesmo a dizer que desde que Neves chegou ao poder não fez mais do que dividir. “Históricos e nova geração; lista J e lista F; os prós e os contras”. Os defensores desta tese apresentam como “facto indesmentível desta política de dividir para reinar”, “o conflito que acabou por descambar nas últimas eleições presidenciais e mostrou o quão antiga e transversal era a fissura no seio do partido: ia de ponta a outra.”

Reconciliação do PAICV

Mas é para aqueles que acreditam que a ferida ainda está aberta – não sarou – que o candidato à sua própria sucessão na presidência do PAICV responde, com uma série de propostas na sua Moção de Estratégica. E aqui o destaque vai para a reformatação do Conselho de Opinião, que passará a ser constituído por um corpo de senadores, as “inteligências” do PAICV.
“Falarei e discutirei com todas as sensibilidades para os consensos necessários. A minha ideia é garantir a estabilidade do partido e do país”. Passo a passo estamos a construir os entendimentos necessários – nos diferentes debates a nível do grupo parlamentar; na conferência nacional de quadros; no congresso dos autarcas.

Mobilizar o Património do PAICV

Mais, “os patrimónios do partido têm de ser mobilizados para não só formar a juventude, mas também os quadros do partido. Estou a pensar no Instituto do Progresso e Democracia; em dinamizar as Universidades de Verão; fazer funcionar os Conselhos de Opinião, mobilizar as competências dos grupos Parlamentares”, diz José Maria Neves que entretanto faz questão de esclarecer que quer unidade e nunca “unicidade” no seio do seu partido. “Porque é na diversidade de opiniões que está a força do PAICV”.
Conselho des “sages” – há também que revigorar o Conselho de Opinião do PAICV, criado há já algum tempo. Agora vamos fazer com que esse Conselho de Opinião seja composto por “senadores”, as referências do PAICV. É um órgão que à luz dos Estatutos do PAICV tem carácter permanente. “Estou a pensar no fundador do partido, Pedro Pires, no ex-presidente do PAICV, Aristides Lima, nos combatentes da Liberdade da Pátria, nos ex-governantes, mas também em jovens competentes e inovadores. Quero unir para reforçar os aspectos ligados ao exercício da liderança”, destaca José Maria Neves no capítulo que muitos já interpretam como um hastear de bandeira branca em direcção à sua oposição interna.
“O PAICV tem muitas capacidades, competências, gente de todas as gerações. E deve mobilizar as competências de todos. Daí a necessidade de se fazer um debate alargado dentro do PAICV para, a partir da pluralidade e diversidade de posições, construirmos uma ponte para o futuro de um partido que tem especiais responsabilidades em Cabo Verde” é outra ideia forte a completar uma Moção de Estratégia que busca uma unidade há muito perdida.

Oposição sem ideias – Ulisses é líder municipal

- Mas depois de estar 15 anos no poder não acha que o ciclo do PAICV está no fim? Afinal o MpD terá as mesmas pretensões para 2016.
- Não há ciclos políticos pré-definidos – de um, dois, três ou quatro mandatos. A legitimidade ganha-se no trabalho de todos os dias. Queremos que o PAICV seja um partido transformador e portador de ideias de futuro. Se conseguir trabalhar com essa visão, o PAICV pode continuar a ser líder em 2016.
Até porque, neste momento, não vejo alternativas ao PAICV. A oposição que o MpD representa neste momento não dá garantias. Não tem equipa. Não tem liderança. Não tem programa. A visão do maior partido da oposição é demasiado catastrofista, sem ideias para o futuro do país.
- Mas a liderança do MpD vai mudar. E Ulisses Correia e Silva é apresentado como um candidato forte para dar um novo rumo ao MpD.
- Ulisses por enquanto é líder municipal. O MpD não tem um líder nacional para apresentar aos cabo-verdianos. Até hoje, se há líderes com capacidade de mobilização nacional no maior partido da oposição, não os vi.
- Mas o MpD está a preparar um amplo debate a nível do partido, e até com envolvimento da sociedade civil.
- Bem, nós já fizemos a Conferência Nacional, o Congresso dos Autarcas do PAICV, estamos a terminar o processo electivo nos sectores e nas regiões. Mas do outro lado, para além das proclamações, ainda não vimos nada. É que o MpD não tem ideias para o futuro do país.

A sucessão

É já do domínio público que José Maria Neves concorre para o seu último mandato enquanto presidente do PAICV. Por ora não se conhecem os nomes dos pretendentes ao lugar que vai deixar vago no congresso de 2015. Uma situação que já começa a despoletar uma certa angústia no seio do partido. “É que alternativas não abundam e não é fácil substituir um líder tão carismático como Zé Maria. Contestado, é certo, mas um político reformador e que tem protagonizado grandes mudanças no partido e no país”, comenta um cientista político.
“Não vou recandidatar-me em 2016. Mas quando despoletar a sucessão, o PAICV tem uma-mão cheia de grandes dirigentes que podem assumir este grande partido e fazer com que continue esta caminhada ganhadora, vencedora do futuro”, responde o ainda líder que desdramatiza esta aparente falta de alternativas à sua liderança.
- Qual é o seu sucessor preferido?
- Não vou apoiar ninguém em especial. Quem ganhar terá todo o meu apoio para seguir liderando com sucesso este grande partido que é o PAICV. É claro que se tiver de escolher no âmbito de uma disputa terei possibilidade de fazer a minha escolha íntima, como qualquer militante tem o direito de fazer. E escolheria para o presidente do meu partido uma pessoa capaz de fazer uma liderança transformadora; com capacidade analítica; com capacidade emocional e com grande competência no relacionamento inter-pessoal. Alguém que tenha sobretudo, uma grande capacidade para sonhar e acreditar na inovação, interpretando os sinais dos tempos.
- Podemos ter uma mulher a liderar o PAICV?
- “Temos uma mão-cheia de mulheres capazes de liderar o PAICV com competência e essa visão transformadora”.

A visão de Cabo Verde no Horizonte 2030 – Cabo Verde altamente Desenvolvido

Mas a jóia de coroa de José Maria Neves está na segunda parte da sua Moção de Estratégia – que é a visão do primeiro ministro sobre Cabo Verde no horizonte 2030.
É uma injecção de optimismo a todo um país que, perseguido todos os dias pelo fantasma da crise, perscruta todos os dias o horizonte para avaliar as chances de Cabo Verde no Futuro. Mas se é permitido falar de legado este é o maior legado que José Maria Neves, o primeiro ministro e presidente de um partido que está há 15 anos no poder deixa aos seus governados. E entra com tudo: confiança e projectos para um futuro que, a julgar pela visão de Cabo Verde no horizonte 2030 que JMN vai incluir na sua Moção de Estratégia, Cabo Verde vai vencer.
“Neste momento Cabo Verde é um país de Desenvolvimento Médio de renda baixa, mas vamos fazer com que Cabo Verde seja um país altamente desenvolvido, mas justo, inclusivo e com oportunidades para todos. Vamos ter pleno emprego. Garantir rendimento às famílias e assegurar a prosperidade para todos os cabo-verdianos. Queremos um país competitivo, moderno. Ao construirmos as barragens, estamos a fazer a inserção da agricultura no turismo, a garantir o rendimento das famílias e a preparar a inserção do campo neste Cabo Verde altamente desenvolvido”, garante.

Projectos

No horizonte de 2020 teremos um Cabo Verde com 100% de energias renováveis. Vamos mobilizar milhões de contos, criar novas dinâmicas na economia e gerar emprego. Vamos aumentar a produção de água. Fazer com que haja mais competitividade das empresas. Em termos de Desenvolvimento há vários projectos que serão realizados a muito breve trecho. São eles: Cluster do Mar – pescas, turismo de sol e praia, cruzeiros, transbordo, reparação naval, desportos náuticos, indústrias de transformação, produção de energia e pesquisas oceanográficas.
A nível das economias criativas, vamos criar oportunidades no domínio da música, dança, artesanato. Pensamos criar um centro internacional de entretenimento aproveitando estas nossas potencialidades para também desenvolver outras actividades culturais existentes em Cabo Verde. E já começamos: agora em Abril vamos ter a “Atlantic Music Expo Cabo Verde”.Vamos transformar Cabo Verde numa Plataforma de negócios para a África, promovendo assim a inserção competitiva de Cabo Verde na Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental da qual nós somos membros de pleno direito. Vamos ainda ter o cluster de tecnologias informacionais; desenvolver o Agro-negócios; desenvolver o Hub dos Transportes Aéreos. Queremos fazer de Cabo Verde uma base logística do Atlântico.
– Mas como tal desiderato será possível em plena recessão económica mundial que praticamente deixa Cabo Verde amarrado de pés e mãos?! Tanto assim é que vamos pedir a prorrogação do prazo da nossa entrada na lista de PDM…
– “Há a crise, mas acho que a minha missão é gerar um ambiente de confiança e dizer aos cabo-verdianos que é na crise que estão as oportunidades”.
Ademais, temos sinais de que Cabo Verde pode fazer isso com sucesso, desde que haja o comprometimento de todos. E um dos projectos que já está a despontar com muita força é o das energias renováveis, com enormes possibilidades. Países como os Estados Unidos da América (EUA), Alemanha, Índia e China estão extremamente interessados, e se Cabo Verde arrancar rapidamente podemos garantir fortes investimentos desses países. Aliás, já temos empresários, universitários, homens de negócios e cientistas desses países envolvidos neste grande projecto – fazem parte do grupo que está a trabalhar a parte técnica e financeira do projecto. E quem fala em energias renováveis fala das pesquisas oceanográficas, do cluster do mar, do hub aéreo, das economias creativas, de transformar Cabo Verde num centro internacional de entretenimento. E em tantos outros, cuja montagem estamos a trabalhar com parceiros estrangeiros, exactamente para a internacionalização da economia cabo-verdiana.

Envolvimento da Sociedade Civil

“Esta visão de Cabo Verde no horizonte de 2030 e que faz parte da minha Moção de Estratégia vai ser objecto de um amplo debate com a sociedade civil, sindicatos, igrejas e outras forças vivas do PAICV”.
É um documento que o PAICV quer partilhar com a sociedade, num diálogo franco e aberto.
Afinal, o partido é uma associação de cidadãos que escolhem um espaço para o exercício de cidadania – pontua José Maria Neves, o actual e próximo presidente do PAICV.

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