quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Em sua última eucaristia, Bento XVI denuncia "hipocrisia religiosa"

Ao abrir o período da Quaresma, Bento XVI afirmou que "o rosto da Igreja aparece desfigurado por pecados" contra sua unidade e por divisões no clero

 
Em sua última eucaristia, Bento XVI denuncia "hipocrisia religiosa" Gabriel Bouys/AFP
Bento XVI celebra última eucaristia na Basílica de São Pedro Foto: Gabriel Bouys / AFP
O papa Bento XVI, que surpreendeu o mundo ao anunciar o fim do seu pontificado no próximo dia 28, celebrou nesta quarta-feira o que pode ser sua última eucaristia pública, na Basílica de São Pedro. Será efetivamente a última caso não haja modificações na sua agenda.
O Pontífice denunciou o que definiu como "hipocrisia religiosa" e a busca por "aplausos e aprovação". Vestindo uma túnica roxa e lendo o texto escrito em laudas que ele próprio segurava, o Papa celebrava o ato religioso sentado. Com a ajuda de auxiliares, levantou-se e passou, de pé, a ler trechos da Bíblia, que era segurada por um auxiliar.
Durante a missa da quarta-feira de cinzas, Bento XVI afirmou que "o rosto da Igreja aparece por vezes desfigurado pelos pecados" contra sua unidade e pelas divisões no clero. O papa aproveitou a homilia sobre a quaresma para chamar a atenção da igreja e denunciar "golpes" contra a mesma. Também pediu aos fieis a superar "individualismos e rivalidades".
Mais cedo, em sua primeira aparição após anunciar a renúncia, Bento XVI ressaltou a importância do período da Quaresma e saudou nominalmente Porto Alegre e Curitiba em seu discurso. O Papa falou para cerca de 3,5 mil fiéis que acompanharam a audiência semanal na sala Paulo VI do Vaticano.
— Amados peregrinos lusófonos, uma cordial saudação para todos, nomeadamente para os grupos portugueses de Lamego e Lisboa, e os brasileiros de Curitiba e Porto Alegre. Possa cada um de vós viver estes 40 dias como um generoso caminho de conversão à santidade que o Deus Santo vos pede e quer dar — disse o Pontífice.
O coordenador da Pastoral da Comunicação da Arquidiocese de Porto Alegre, padre Cesar Leandro Padilha, afirma que é normal que o Papa cite, em seus pronunciamentos, cidades que têm representantes no recinto, e que a presença de fiéis porto-alegrenses já foi destacada em outros discursos.
— Não existe uma regra. Os assessores podem ter comunicado o Papa sobre as caravanas ou ele mesmo pode ter visto algum cartaz. É uma atitude recorrente, mas agora não lembro da última vez em que fomos citados — afirma.
Diante de um público de várias nacionalidades, Bento XVI reafirmou que não tem mais condições de comandar a Igreja Católica.
O conclave, a reunião de cardeais para eleger o novo Papa depois que Bento XVI renunciar no fim deste mês, poderá começar a partir de 15 de março, informou o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, nesta quarta-feira.
— O início do conclave não poderá ocorrer antes de 15 de março. Podemos prever o início do conclave para os dias 15, 16, 17, 18 ou 19 — disse.
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Papa faz primeira aparição pública desde o anúncio da sua saída


FOTO: Filippo Monteforte, AFP
O Papa fez nesta quarta-feira a primeira aparição pública após o inesperado anúncio de sua renúncia, durante uma audiência geral que reuniu 3,5 mil fiéis de todo o mundo na Sala Paulo VI do Vaticano.
Recebido com entusiasmo pelos fiéis, que o aplaudiram e gritaram seu nome, o Pontífice, de 85 anos, parecia cansado, mas ouviu atentamente o Evangelho. Na segunda-feira, Bento XVI anunciou que renunciará em 28 de fevereiro por falta de forças.
Visivelmente emocionado, o papa admitiu estar "profundamente consciente da gravidade de tal gesto", mas reiterou "já não ter a capacidade de exercer o ministério de São Pedro com o vigor que ele mesmo requer":
— Vivi dias difíceis. Decidi em plena liberdade, agora orem por mim.
ZERO HORA, COM AFP

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